Aleac atende apelo das vitimas por DDT

Audiência na Assembléia Legislativa propõe soluções
emergenciais para evitar mais mortes no Estado


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Com bandeiras de cor preta, ilustradas com as frases  “DDT, inimigo oculto”; “Estamos de Luto”;  “Vítimas do DDT pedem socorro” e “As vítimas do DDT pedem piedade”, o movimento em defesa dos ex-agentes de saúde da antiga Superintendência de Combate à Malária – Sucam, intitulado “DDT e a Luta pela Vida”, comoveu deputados, jornalistas, assessores e todos que participaram da sessão de ontem na Assembléia Legislativa (Aleac).


Um vídeo acompanhado de um fundo musical gospel mostrou as condições de saúde na qual amargam centenas deles, hoje apelando pela realização de exames toxicológicos e indenização do Governo Federal devido à suposta contaminação por Dicloro-Difenil-Tricloroetano, popular DDT, utilizado durante décadas pelos ex-agentes no combate à malária  e tifo na Amazônia.


Eles salvaram vidas na floresta, rios, vilas e cidades. Seus caminhos naquela época não eram percorridos por carros, equipamentos de segurança, salários altos e privilégios dignos de profissionais amparados por leis trabalhistas.


Como descreveu a reportagem do jornalista Silvio Martinello, na edição de 5 de julho de A GAZETA, o martírio dos funcionários da Fundação Nacio-nal de Saúde (Funasa) não lhes poupa de amargar hoje as sérias conseqüências do contato de anos com o inseticida, tendo já registrados no Estado cerca de 50 mortos.


Movida pela dor de familiares e dos mais de 500 afetados pelo problema, a Assembléia realizou uma audiência com uma comissão formada por representantes dos agentes de saúde, familiares, diretores da Funasa e com o presidente da Mesa Diretora da Câmara Municipal dos Vereadores de Rio Branco, Pedrinho Oliveira (PMN).


O objetivo, de acordo com o presidente da Aleac, Evaldo Magalhães (PC do B), é esquecer cores, raças e bandeiras políticas para se voltar ao único propósito de solucionar os problemas de saúde apresentado em vários deles, além de realizar exames para testificar a contaminação por DDT.


Outra sugestão, também defendida pela deputada federal Perpétua Almeida (PC do B), no Congresso Nacional, em Brasília é que eles sejam indenizados pelo Governo Federal, sendo assim possibilitados de realizarem tratamentos de saúde como consultas, exames e a compra de medicamentos.


Da audiência participaram centenas de ex-guardas da Sucam, inclusive alguns em estado grave de saúde. Nesta primeira reunião, a Assembléia ouviu o relato das vítimas do DDT. Os 20 deputados presentes também se posicionaram sobre o assunto e, a partir de agora, a idéia é que a Aleac abra um debate com as demais instituições do Estado, encontrando enfim uma solução para o caso.


“Foi cortando matagais, navegando rios, sendo vitimados pela fome, o frio, ausentando-se na maioria das vezes do nascimento dos filhos, aniversários e de tradicionais festas familiares que esses homens salvaram milhares de vida em nosso Estado. Estamos aqui hoje pra pedir socorro aos deputados e a todas as autoridades do nosso Estado”, disse o presidente da comissão, o funcionário da Funasa, Aldo Moura.

 

Comissão da Amazônia quer investigar caso em nove estados
Após à denúncia sobre a contaminação por DDT chegar ao Congresso Nacional, através da deputada Perpétua Almeida, a presidente da Comissão da Amazônia, Janete Capiberibe (PSB) e os deputados Vanessa Gra-ziotti (PC do B) e Eduardo Valverde (PT) querem a rea-lização de uma audiência pública em Brasília e a investigação do caso nos nove estados da Amazônia.


O apelo foi feito pela deputada acreana que quer a criação de um grupo parlamentar destinado a levantar os casos de contaminação por DDT nos estados do Norte.


O requerimento assinado por Perpétua Almeida foi recebido segunda-feira pela mesa diretora da casa e deve ser lido em plenário ainda esta semana. O pedido de investigação sensibilizou o presidente da Câmara Federal, Arlindo Chinaglia, que indicará representantes das bancadas da Amazônia para dar início às averiguações ainda este mês.


Todos os estados da região serão visitados. O gabinete da deputada em Brasília recebe e-mails enviados de várias cidades brasileiras. Familiares dos guardas da extinta Sucam manifestam apoio à iniciativa de apurar, identificar as vítimas do inseticida e cobrar soluções junto ao governo. “Estamos empenhados em dar uma resposta rápida a estas pessoas. Sabemos que muitos servidores da antiga Sucam convivem hoje com situações dramáticas. Nós, no caso do Acre, pudemos constatar pessoalmente este sofrimento”, disse a deputada.


Na última semana, Perpétua dedicou sua agenda ao assunto, em Rio Branco. Ela visitou alguns ex-servidores da Sucam que hoje se encontram internados, sofrendo de sintomas atribuídos à exposição ao DDT. A deputada foi informada sobre os números da contaminação no Acre: dos mais de 300 funcionários que atuavam na linha de frente contra a malária, 40 já morreram. Há 12 deles com suspeita de câncer e outros 12 sofreram mutilações, segundo levantamentos feitos pela associação responsável no Estado.


FRASES


“Esses homens salvaram milhares de vida em nosso Estado. Estamos aqui hoje pra pedir socorro aos deputados e a todas as autoridades acreanas”


(Aldo Moura, presidente do Movimento DDT e a Luta Pela Vida)



“Temos que esquecer cores, raças e bandeiras políticas para solucionar os problemas de saúde das
vítimas do DDT”


(Edvaldo Magalhães, presidente da Assembléia Legislativa)


 Edvaldo: “a sessão de hoje foi um choque de realidade”
Em entrevista À GAZETA, o presidente da Aleac, Edvaldo Magalhães afirmou que a sessão de ontem foi um dos debates mais importantes da atual legislatura, ressaltando que os funcionários da antiga Sucam deram “um choque de realidade no parlamento”.


“Tivemos um debate de nível bem elevado, transformando este problema numa causa de todos. Além disso fazendo dela uma bandeira da Assembléia Legislativa e de todo Estado”, comentou ele.


Sob sua responsabilidade, a Aleac tomará três medidas emergenciais sobre o caso. A primeira delas é criar um instrumento legislativo de apoio à causa, que possa ter agilidade e representatividade.  Até o final desta semana, a assessoria jurídica da Casa dará um parecer informando se neste caso o correto é a instauração de uma CPI ou sindicância.


“Temos que aguardar o parecer da nossa assessoria jurídica já que as prerrogativas  da CPI são limitadas ao Estado, mas iremos aguardar o resultado dessa consulta, tudo de comum acordo com todos os deputados”, lembra.


A partir de agora, a Aleac também vai bancar os deslocamentos da comissão “DDT e Luta pela vida” e todas as articulações que serão feitas em Brasília.


O terceiro ponto é criar uma relação direta com a bancada federal, envolvendo deputados e os senadores acreanos, além de se reunir com o secretário estadual de Saúde, Osvaldo Leal, para discutir medidas concretas de casos já identificados.


“Este agora é um debate presente na Assembléia e até que esse assunto seja resolvido, queremos a criação imediata de um plano de emergência para atender pacientes”, finalizou ele.

NÚMEROS DE VÍTIMAS DO DDT NO ACRE


Foram
13
mutilados



05 estão no Tratamento Fora Domicílio (TFD)



MEDIDAS EMERGENCIAIS

# Instauração de uma CPI ou sindicância

# Custos com os deslocamentos da comissão “DDT e Luta pela vida” e todas as articulações que serão feitas em Brasília.


# Criar uma relação direta com a bancada federal, envolvendo deputados e os senadores.


# Reunir com o secretário estadual de Saúde, Osvaldo Leal, para discutir medidas concretas.


# Criação imediata de um plano de emergência para atender pacientes.



ELES ESTÃO  MORTOS:


03  no ano de 2000
Nenhum  em 2001
04  em 2002
03  em 2003
01  em 2004
04  em 2005
08  em 2006
06  em 2007
05  em 2008



DEPOIMENTOS DE DEPUTADOS:

# Walter Prado
“Quero que o Estado faça a parte dele, pois, já estamos atrasados nesta questão. Pessoas já morreram e tem mais ou menos um ano que os casos começaram a vir a público. É preciso dar às vítimas e suas famílias esperança e soluções. Esta é uma causa que deve ser abraçada por todos os parlamentares, não importa se é governista ou da oposição, todos nós temos que estar unidos em defesa destas pessoas doentes”.


# Juarez Leitão
 “É preciso que a gente, para ter alguma solução no presente, mergulhe no passado. Fui muitas vezes visitado pelos agentes. Quem ajudou a salvar vidas é que agora precisa de apoio. Não tenho dúvida do respeito que vocês têm pela sociedade, colocando a vida em risco para combater a malária. Estamos à disposição para ajudar vocês no que puder”.


# Luiz Gonzaga
“Parabenizo a Assembléia Legislativa por esta oportunidade de debater os problemas. A reivindicação de vocês é justa pelo trabalho que desenvolveram na Amazônia, deixando as famílias e os amigos para subir os rios borrifando DDT. Essas pessoas adoeceram trabalhando. Então, é justo que o Estado cumpra seu papel e indenize as vítimas, essas pessoas merecem isso”.


# Donald Fernandes
“Este caso precisa de justiça e reparação, ainda que com atraso. Muitos dos que morreram poderiam estar aqui conosco, mas por descuido do Estado foram prejudicados. Vocês deram a vida para que a nossa vida fosse salva. Espero que essa luta seja vencida de forma rápida para que os que ainda estão vivos possam permanecer assim por muitos anos”.


# Moisés Diniz
“Na verdade, vocês saíram de uma guerra e nesses conflitos que enfrentaram tiveram mais perdas que nas guerras convencionais. Um terço de vocês faleceu. Nós, os 24 deputados, só podemos pedir perdão, pelos políticos do Brasil, pelos políticos do Acre, especialmente nos tempos em que vocês foram envenenados. Podem ter certeza de que a Assembléia Legislativa vai fazer tudo que estiver ao seu alcance para auxiliá-los”.


# Luiz Calixto
“A culpa pela contaminação não é do DDT, mas de quem permitiu o seu uso por funcionários sem treinamento e sem equipamentos de segurança. Mas não vamos politizar esta luta. Este é um problema de todos, mas o Estado – e não o partido – é o responsável pela assistência às vítimas”.


# Taumaturgo Lima
 “Os soldados da Sucam salvavam milhares de vidas sem saber que o produto que usavam os levaria à morte. Por isso, aqui, com todos os deputados, vamos encontrar um caminho e criar alternativas mais rápidas e eficazes para solucionar o problema, pois estamos lutando por vidas”.


# N. Lima
“O DDT foi fundamental no combate à malária, mas o culpado foi o governo que não ofereceu condições de trabalho seguro a estes agentes. O Estado, e não só a União, tem culpa na atual situação de lamúria destas pessoas, pois não oferece um tratamento de saúde digno”.


# Hélder Paiva
“O Estado não pode ficar de braços cruzados diante dessa situação. Mesmo de forma atrasada temos que resolver este problema. Esta causa é mais do que nobre, Os “mata-mosquitos” são verdadeiros heróis”.