Começa produção de sementes selecionadas no Interior do Estado
Produtores garantem atendimento para sementes selecionadas e reclamam de restrições ao crédito rural
Publicado 17/09/2008 09:41 | Editado 04/03/2020 16:36
Agroprodutores do Ceará iniciam produção de sementes selecionadas para o Programa de Distribuição de Sementes do Governo do Estado, o antigo “Hora de Plantar”. Centenas de kits de irrigação começam a se espalhar pelos campos do Baixo Acaraú, Vale do Jaguaribe e Sertão Central. Com o fechamento da estação chuvosa, chega a hora de preparar as terras, enterrar as sementes e distribuir água através dos canais e ramais de aspersão nas áreas cadastradas no Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) para o cultivo das sementes de alta qualidade.
Até o início da distribuição dos grãos selecionados, no prenúncio da próxima quadra invernosa, mais de 4 mil toneladas estarão disponíveis para a agricultura familiar. A estimativa é feita pelo presidente da Associação dos Produtores de Sementes Selecionadas do Ceará (Aprosemce), agrônomo Adauto César Machado. “Os 18 associados atendem com sobras a demanda local. O excedente, cerca de 10%, será comercializado com Estados vizinhos”, explica o titular da entidade oficializa há apenas três anos, embora já esteja em atividade desde 1986.
Segundo a Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA), no ano passado foram ofertadas mais de 3 mil toneladas de sementes das culturas de feijão, milho, arroz, sorgo, algodão, mamona, gergelim e girassol aos pequenos produtores, da base familiar.
Além das sementes, 13 mil/m³ de maniva de mandioca, 9,9 mil de cana, 300 mil garfos e 1 milhão de cajueiros anão precoce e ainda mais de 8 milhões de raquetes de palma forrageira chegaram ao setor primário agrícola. Aproximadamente 92 mil agricultores foram beneficiados. No Sertão Central, o processo de assistência produtiva causa uma interessante metamorfose na paisagem sertaneja. Nas margens do Arrojado Lisboa, maior açude da região, dezenas de canhões hidráulicos iniciaram batalha com a vegetação apática da caatinga nesta época do ano. Do solo historicamente castigado pela estiagem sementes especiais de feijão e milho serão colhidas nos próximos meses. O trabalho é feito por centenas de lavradores. O ruralista Antônio Rodrigues da Silva comanda 400 deles nessa rotina rural iniciada por ele há 40 anos.
Por conta da dedicação, o proprietário da Fazenda Cóque, situada no distrito de Nenelândia, a 34km da sede de Quixeramobim, é considerado “o pioneiro” da irrigação. Ele se orgulha do título, mas não esconde a mágoa de chegar aos 82 anos no próximo dia 30 de setembro e não poder contar com o Banco do Brasil (BB) para assegurar a produção nos 150 hectares dos quase 2 mil de sua propriedade. Precisa de R$ 300 mil para custear equipamentos e pagar os trabalhadores. Afirma que o crédito lhe foi negado por conta da devolução de dois cheques de R$ 650,00.
O empresário rural reivindica mais atenção por parte dos agentes financeiros oficiais. Reclama que estão restringindo o crédito necessário para que ele e outros possam produzir.
Histórico de trabalho
Antônio Silva afirma que se contasse com o dinheiro direcionado para o financiamento da atividade produtiva no campo, conseguiria empregar um maior contingente de agricultores, os que só plantam no inverno. “Hoje, não devo um centavo a esse banco; tenho 120 vacas paridas comendo na cocheira; tenho patrimônio e histórico de trabalho. Será se isso não vale nada?”.
Acerca do problema, a gerência de Pessoa Jurídica da agência financeira em Quixeramobim explica que, em razão da necessidade de manutenção do sigilo bancário, conforme estabelece a lei, não é possível expor o caso do cliente. Entretanto, na maioria deles, para que o crédito seja liberado, o histórico dos correntistas é avaliado. A falta de garantias sólidas, atrasos nos financiamentos e até a devolução de cheques impedem os empréstimos. As normas estabelecidas pelos bancos prevêem bloqueios por até seis meses.
O gerente geral do BB em Quixadá, Tarciso Flho, é apontado como um especialista nesta linha de crédito. Ele justifica que a competência dos agentes do financiador rural é limitada. Mais de 80% da análise bancária é estritamente técnica. O sistema é praticamente automatizado. Embora os responsáveis pelas avaliações de crédito se esforcem no sentido de assegurar o “sinal verde”, as restrições legais pesam mais. Ressalta a necessidade do produtor rural ficar atento às armadilhas econômicas. Dentro da estrutura financeira do País, muitos ficam com o nome sujo por algum tempo, suficiente para causar aborrecimentos.
Apesar da restrição, Antônio Silva garante que continuará honrando seus compromissos. Se houver bom senso dos bancos oficiais, onde os juros são bem inferiores aos de mercado, poderá ampliar e aprimorar ainda mais sua produção, destinada ao programa estadual de assistência a quem depende do que brota da terra para sobreviver, principalmente o agricultor familiar.
SAIBA MAIS
Dicas
O Banco do Brasil dá algumas dicas para correntistas não terem o crédito negado quando necessitarem de empréstimos.
Cheques
Não emprestar cheques. Mesmo que não seja beneficiado com transações de terceiros, o titular da conta corrente arca com todas as responsabilidades na emissão do título bancário.
Saldo
Manter o controle do saldo bancário. Os cheques sem provisão de fundos serão devolvidos e o nome do correntista irá parar numa lista que bloqueia a liberação de talonários e até de crédito. Em geral são seis meses de bloqueio.
Inadimplência
Não atrasar contas e financiamentos de bens. Passados 30 dias da inadimplência seu nome constará nos serviços de controle de crédito: SPC e Serasa. Mesmo sendo retirados, constarão no histórico desses órgãos.
Mais informações:
Secretaria de Desenvolvimento Agrário, (85) 3101.8000
Associação dos Produtores de Sementes Selecionadas do Ceará, (85) 3246.0636