Jô enquadra Marcio Lacerda em debate na TV Bandeirantes

''Verdadeiro'', ''rico'' e ''mais fiel à realidade de cada um'', assim foi qualificado o debate entre os candidatos à Prefeitura de Belo Horizonte, na noite desta quinta-feira (25). Para os coordenadores da campanha da candidata do PCdoB, Jô Moraes, a

 


 


Participaram do debate seis dos nove candidatos à Prefeitura de Belo Horizonte: Gustavo Valadares (DEM), Vanessa Portugal (PSTU), Leonardo Quintão (PMDB), Jô Moraes (PCdoB), Sérgio Miranda (PDT) e Marcio Lacerda (PSB). O candidato André Alves (PTdoB) não compareceu ao debate e sua cadeira ficou vazia. Já os postulantes Jorge Periquito (PRTB) e Pedro Paulo de Abreu Pinheiro (PCO) não foram convidados porque suas coligações não têm representantes na Câmara dos Deputados, o que desobrigou a emissora de incluí-los. O candidato Jorge Periquito, segundo informações da produção, tentou durante todo o dia forçar sua participação no debate. Até minutos antes de o programa entrar no ar a assessoria do candidato não havia desistido e percorria os corredores da emissora, tentando, sem êxito incluir Periquito no debate.


 


 


Este foi o segundo debate que a TV Bandeirantes promove entre os candidatos à prefeitura de Belo Horizonte. O primeiro aconteceu em 31 de julho. O debate de ontem foi mediado pelo jornalista Paulo Leite e teve a participação dos jornalistas Luis Carlos de Assis Bernardes, o Peninha, da TV Band Minas e da Rádio Band News; Carlos Lindemberg, do Jornal ''Hoje em Dia''; Eduardo Costa, da Rádio Itatiaia e Luiz Carlos Costa, do ''Diário do Comércio''.


 


 


Os jornalistas fizeram perguntas aos candidatos, que também debateram entre si. Nos seis blocos que se seguiram, os candidatos apresentaram propostas, pediram votos, trocaram gentilezas e acusações. Mas eram notáveis as nuances da postura de cada um: alguns mostraram um amadurecimento, comparado ao início da campanha; outros, convicção, serenidade, clareza; boa articulação de uns; e descontrole e nervosismo de outros.


 


 


Jô Moraes: grande serviço


 


 


A campanha de Jô Moraes destacou esse aspecto do encontro entre os candidatos: “Jô prestou um grande serviço aos eleitores quando teve a oportunidade de desmascarar o candidato oficial Márcio Lacerda. Ao ser questionado, Lacerda perdeu as estribeiras, ficou nervoso, deu soco na mesa e ofendeu a candidata. O público assistiu ao vivo cenas de seu destempero.”, diz o texto publicado no site da candidata, que avalia a comunista como a grande “vitoriosa” do debate.  “Além de apresentar as melhores propostas para a capital, Jô fez críticas consistentes à desigualdade da disputa eleitoral, ao uso dos poderes político e econômico e à forma como se deu a formação da chapa oficial”, diz o texto.


 


 


Tom ameno no início


 


 


No primeiro bloco, o jornalista Luis Carlos Bernardes dirigiu uma pergunta a todos os candidatos – quais serão as duas prioridades se forem eleitos. Por ordem de sorteio, os políticos falaram. Educação, segurança pública, saúde, e geração de renda foram elencados. Jô Moraes priorizou a Conferência da Cidade, com uma gestão participativa e democrática, e o Pacto da Cidade pela Educação.


 


O segundo bloco também teve tom ameno, e os candidatos puderam falar sobre algumas de suas propostas. Entretanto, todos eles disparavam alguma crítica ou ataque a Marcio Lacerda e à aliança Prefeitura/Estado. Lacerda manteve a compostura e se esquivou das críticas.


 


Sérgio Miranda avaliou como negativas as propostas e as obras do programa Vila Viva, e trouxe argumentos de moradores das favelas, segundo os quais, abrir uma avenida ''para passar carro de bacana'' e construir alguns prédios não alcançam as necessidades dos ''bequinhos'' e dos barracões localizados na área mais interna dos aglomerados.


 


Quintão e Jô elogiaram a organização dos mais de vinte debates e concordaram quanto à experiência positiva e enriquecedora desses eventos. Ambos lamentaram que um candidato não tivesse comparecido a nenhum deles.


 


 


Jô, que já se assumiu no segundo turno, garantiu a implantação do meio-passe aos estudantes e reforçou o valor da educação para a cidade. Salientou questões como o método de avaliação, a necessidade do acompanhamento do desempenho do aluno por parte dos pais e professores, a importância da qualidade de ensino e de práticas de transversalidade, que possibilitem o acesso dos estudantes a cultura, esporte e lazer. Segundo ela, a educação de qualidade evita problemas, como por exemplo, o da gravidez precoce de meninas. Jô também falou da precária situação atual da saúde em Belo Horizonte.


 


 


Vanessa Portugal questionou Quintão sobre o financiamento de campanhas por parte de empresas, que depois cobram esse investimento. Quintão se esquivou, e recorreu ao bordão caricatural ''gente cuidando de gente''.


 


 


Direito de resposta indevido


 


 


O animado debate entre os candidatos foi interrompido por Lacerda, que solicitou um direito de resposta. Houve manifestação de espanto e indignação por parte dos colegas, e Sérgio Miranda foi a voz que questionou a cessão do direito, supostamente indevido, pela produção do programa.


 


 


Lacerda entoou a já conhecida fala de que o tempo do programa eleitoral é definido pelo TRE conforme a coligação dos partidos, etc, etc.


 


 


Finalmente, Vanessa e Sérgio encerraram o bloco com a questão da relação entre a Prefeitura e os movimentos sindicais. Vanessa respondeu a Miranda com um questionamento: por que a Prefeitura traiu os próprios movimentos que ajudaram a elegê-la?


 


 


Estranha aliança


 


 


O terceiro bloco teve um interessante formato, em que um jornalista fazia uma pergunta a um candidato e escolhia outro para comentá-la.


 


 


Carlos Lindenbergh questionou Lacerda sobre a campanha em que seus dois apoiadores figuram como atores principais e a ele sobra o papel de figurante. Lacerda respondeu que as pesquisas mostram o resultado do apoio de Aécio e Pimentel, e a população também apóia sua candidatura. Jô, escolhida para comentar, disse que a cidade estranha a aliança entre dois partidos que por quinze anos se confrontaram. A aliança remete a duas lideranças no estilo da República Velha, que escolhem um candidato para indicar para o povo, o que seria ''terceirizar'' o voto.


 


 


A respeito do transporte, os candidatos apostam no metrô como solução principal, embora haja divergências quanto a parcerias com a iniciativa privada ou o uso exclusivo de recursos públicos.


 


 


Explosão de tensão


 


 


No 4º bloco, as perguntas partiam dos próprios candidatos. Nesse momento, mais do que em outros, houve uma explosão de tensão na mesa. As nuances do comportamento de cada candidato ficaram mais evidentes. Num tom calmo, Jô questionou Lacerda quanto à sua acusação de má gestão contra a UFMG, no caso da BHTec, quanto às dívidas ativas para com a prefeitura, e as mais de 1.500 ações trabalhistas contra ele. Ela afirmou ainda que, se o candidato tivesse ido aos debates, poderia ter explicado isso.


 


 


Lacerda, com tom de voz alterado, disse que não havia como responder a tal ''enxurrada de acusações'' em apenas 1 ½ minuto, e demonstrou desejo de mais tempo. Nervoso e alterado, ele disse que a candidata estava ''baixando o nível''. Após perder valioso tempo com as queixas, Marcio respondeu que não criticou a BHTec, e que não tem nenhuma dívida para com a prefeitura.


 


 


Jô replicou que não era uma questão de ''baixar o nível'', mas que ''não custa ir a debates'' para esclarecer questões como essas. Ela citou o número de uma ação julgada já na última instância, em que o Superior Tribunal de Justiça diz que a Construtel deve à prefeitura de Betim.


 


 


Como responder ao que não tem resposta? O candidato voltou atrás e, num raciocínio tortuoso, disse que tem sim uma dívida para com o Município de Betim, mas apenas porque ele perdeu essa ação devido ao fato de a ''legislação brasileira ser confusa'' e ao atraso de seu advogado para apresentar determinada procuração. Emendou ainda, agora aludindo às ações trabalhistas, que qualquer pessoa que tenha uma empregada doméstica deve saber que está sujeito a ações trabalhistas. E que, no caso dele, ''apenas'' 1.500 ou 2.000 reclamações não são significativas, tendo em vista um total próximo a 50.000 empregados, em 30 anos. Lacerda acusou Jô de leviana por levantar essas questões.


 


 


Mais tarde, Jô também teve o direito de resposta e afirmou que leviana ela seria, se tivesse uma dívida e não assumisse, ''se não fosse candidata de mim mesma'', e que o candidato tem pouca tolerância, e não precisa pisar no pescoço de quem faz uma observação. Lacerda queixou-se de que ''na calada da noite'' meliantes estariam espalhando cartazes com sua foto (http://hellotxt.com/i/ud2F), e os dizeres: ''Procurado'', associando-o ao mensalão.


 


 


Idéias e sonhos


 


 


Em seguida outras questões foram discutidas por todos. Jô comentou a situação da Lagoa da Pampulha, e lembrou que esse era um desafio que já estava previsto desde 1996, e que vem se arrastando. Ela falou da necessidade de tratamento de esgoto e da recuperação dos mananciais.


 


 


Quanto à escola plural, ela afirmou que esse modelo atendia a uma necessidade da década de 90, mas que hoje já não cabe mais. Ela retoma a proposta de uma escola de tempo integral (quando o que há é uma precária escola integrada), com transversalidade, acesso a cultura, esporte e lazer para vencer uma luta contra o crime organizado e o tráfico pela opção de adolescentes e jovens.


 


 


O repórter Eduardo Costa perguntou a Sérgio e Vanessa se era possível vencer uma eleição só com idéias e sonhos, sem recursos e apoio de prefeitura. Ambos disseram que sim. Vanessa afirmou que o financiamento tem que ser do trabalhador, pois o financiamento das campanhas por empresas é o primeiro fator a gerar corrupção.


 


 


Sérgio Miranda expressou o desejo e a importância para a população de recuperar o projeto instituído por Patrus e Célio, e que ele acredita que pode vencer com críticas concretas e propostas.


 


 


Considerações finais


 


 


Finalmente, no último bloco, as considerações finais.  Quintão salientou que vai estar ''juntinho'' com Aécio, e que muita coisa dá pra fazer. Lacerda afirmou que está tudo bem com a administração, e que vai continuar e melhorar. Miranda alertou: as eleições não acabaram, e muita coisa ainda pode mudar. E que se é pra melhorar, não dá pra continuar!


 


 


Jô terminou dizendo-se feliz por estar num processo democrático. E retomou a questão de Eduardo Costa, dizendo que já lhe perguntaram como ela tinha coragem de enfrentar máquina tão poderosa. A resposta foi: ''Acredito porque sou otimista. E tem otimismo quem tem esperança e vai à luta''.


 


 


Em declarações à imprensa, ao final do debate, Jô Moraes disse ter participado de um debate mais ''rico e verdadeiro''. ''Esse debate mostrou o que cada um é mesmo'', avaliou a candidata.


 


 


Já Lacerda disse ter encarado com naturalidade os ataques recebidos durante o encontro, no entanto, afirmou esperar que nos próximos debates ''o nível não baixe muito''.


 


 


Sérgio Miranda (PDT) enxergou nesse debate um ''encontro muito mais verdadeiro do que no 1º debate. Hoje os candidatos se mostraram mais dispostos a ir para o embate'', concluiu.


 


 


De Belo Horizonte,
Beatriz Faria


Colaborou: Cláudio Gonzalez