Tales Faria: Devagar com o andor, que nada está decidido

Enquanto a turma aposta, aqui e ali, nos bastidores dessas campanhas, os verdadeiros protagonistas da história tremem. Sabem que as pesquisas andam tontas e tão voláteis como o mercado financeiro. Ora olhando com otimismo para um candidato, ora para ou

Ontem (20) foi um dia de otimismo no mercado financeiro. A Bolsa de Valores de São Paulo fechou com alta de 8,36% e o dólar ficou em razoáveis R$ 2,12.



E daí? Pois é, e daí nada!



Nada garante que amanhã os especuladores de plantão deixarão de balançar a roseira do mercado, fazendo as bolsas internacionais caírem novamente e o dólar disparar. Podem achar, também, que é mais negócio o contrário, e seremos todos surpreendidos novamente. Ou pode aparecer uma autoridade internacional qualquer com algum palpite infeliz e revirar o jogo do avesso outra vez. Nestes tempos bicudos de crise do capitalismo, o mercado virou uma caixinha de surpresas. Como o futebol.



O mesmo raciocínio vale para as eleições. Em tempos de crise nas pesquisas – afinal, todas erraram no primeiro turno! – ninguém está com o resultado garantido. E o pior é que tem analista político já dando como certo o resultado das urnas no Rio, em São Paulo e em Belo Horizonte.



Quem está por dentro dos bastidores das eleições, de verdade, sabe que não é bem assim. Eu mesmo já trabalhei em uma campanha eleitoral, dessas que todos davam como garantida a vitória do candidato. De fato ele se saiu vitorioso no primeiro turno. Mas só nós sabemos o desespero que foi nos últimos dias, com o adversário crescendo a um ponto percentual por dia. Se houvesse segundo turno, poderia ter acontecido um desastre. Foi por pouco, apesar de termos saído como os grandes, fortíssimos vitoriosos.



Nestas eleições é a mesma coisa. Tive contatos recentes com gente dos bastidores de algumas campanhas e posso garantir: estão com os nervos à flor da pele. Nada é seguro. Há pesquisas saindo do forno desfazendo vantagens antes consideradas firmes e outras apontando inflexões no eleitorado. Mas como as pesquisas também andam sem muita credibilidade, não há segurança sequer quanto ao nervosismo.



Por exemplo. No fim de setembro, pesquisa do Ibope no Rio de Janeiro apontava: Eduardo Paes (PMDB), com 29% da preferência do eleitorado, e Marcelo Crivella (PRB), com 24%, seguidos de longe por Fernando Gabeira (PV), com 10% das intenções de voto. O Datafolha dava: Eduardo Paes, 29% , contra 18% de intenções de voto em Marcelo Crivella, seguido de perto por Gabeira, 15%. Mal virou o mês e, na sexta-feira anterior ao primeiro turno, o Datafolha apontava: Eduardo Paes, 30%; Gabeira, 18%; Crivella, 17%. O Ibope: Eduardo Paes, 31%; Crivella, 19%; Gabeira, 17%.



Mas o resultado, apuradas as urnas, desmentiu a todos: Paes, 31%; Gabeira, 25%; Crivella, 19%.



Em São Paulo, na última pesquisa antes das eleições, o Datafolha deu Marta Suplicy (PT), com 36% das intenções de voto, Gilberto Kassab (DEM), com 30%, e Geraldo Alckimin, com 21% . O Ibope: Marta, 35%; Kassab, 27%; Alckmin, 17%.



Tudo errado. O resultado final foi: Kassab, 33,6%; Marta, 32,8%; e Alckmin, 22,5% .



Em Belo Horizonte, na sexta-feira o Ibope dava uma diferença de oito pontos percentuais do candidato do PSB, Márcio Lacerda, sobre o peemedebista Leonardo Quintão. O Datafolha dava 11% de diferença. Quanto foi? 43% a 41%. Uma diferença de apenas dois pontos!



Surpresos, os institutos vieram no segundo turno ampliando o crescimento dos azarões e assinalando que eles se distanciavam dos seus adversários, que eram favoritos no primeiro turno.



E os analistas políticos acompanham a onda. Adoram apostar em fatos consumados: os mesmos que deram como certos os favoritos derrotados do primeiro turno, agora, apostam todas as fichas nos velhos azarões, hoje favoritos das pesquisas eleitorais de segundo turno.



Enquanto a turma aposta, aqui e ali, nos bastidores dessas campanhas, os verdadeiros protagonistas da história tremem. Sabem que as pesquisas andam tontas e tão voláteis como o mercado financeiro. Ora olhando com otimismo para um candidato, ora para outro, sem grandes seguranças de realização de lucros. Ou melhor, de votos.



Fonte: Blog dos Blogs