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Jovens sem dinheiro falam da vida cara e difícil em Londres

Morar em um pequeno galpão, filar drinques gratuitos em aberturas de galerias de arte, tingir o próprio cabelo e só sair de casa uma vez por mês pode não parecer uma existência urbana glamorosa. Mas esta é a única maneira como muitos jovens conseguem resi

Henry Hudson, um artista de 26 anos, sabe muito bem como é caro o aluguel de imóveis, mesmo no bairro de Hackney, em East London. Ele acha que tem sorte por pagar um aluguel mensal de 170 libras esterlinas, o equivalente a cerca de US$ 280, para morar em um galpão minúsculo sem janelas (ele gastou mil libras esterlinas do próprio bolso para instalar uma clarabóia de vidro e um chuveiro no galpão). “Eles poderiam cobrar 240 libras por mês, mas o proprietário é um amigo meu”, diz Hudson. “Mesmo assim, eu tenho poucas opções”.


 


O galpão em que Hudson mora, que tem 45 metros quadrados, também serve de estúdio, onde ele cria pinturas de plasticine que já lhe renderam várias exposições que foram bem recebidas pela crítica. “As pessoas que compram e vendem obras de arte vivem em Londres, de forma que eu preciso ter a minha base aqui, não importa quão cara seja a moradia”, explica.


 


Comparado a Hudson, o irmão dele, Richard, 28, parece rico. Richard é um designer independente de produções de filmes e mora em um apartamento em East London com dois outros jovens, um deles cinematógrafo. “Cada um de nós paga 500 libras por mês, mas isto só porque um dos meus colegas comprou este flat com o dinheiro da sua herança”, disse ao referir-se ao apartamento, que fica em Hoxton. Ele busca espaço para um estúdio no qual possa criar conceitos visuais para filmes. “Eu estou ajudando o designer de moda, que é dono do espaço, a renová-lo, de forma que não tenho que pagar aluguel”, afirma.


 


Azar ou sorte?


 


Basak Oztamur, 32, chegou em Londres seis anos atrás, vinda da Turquia, e só agora está se sustentando, apesar de viver com um orçamento apertando, no qual não existe espaço para extravagâncias. Apesar de trabalhar como bancária em Baker Street, o seu aluguel – dividido com outra pessoa – do apartamento em North London (420 libras por mês) e o deslocamento de uma hora até o trabalho (110 libras por mês) levam a metade da sua renda líquida.


 


“Tenho sorte porque o meu aluguel inclui luz e água, caso contrário não poderia estar aqui”, diz ela, acrescentando que o seu orçamento de 60 libras para entretenimento é o mais difícil de cumprir. “Gosto de sair e freqüentar lugares legais”, diz ela. “Assim, ou eu saio apenas uma vez por mês, sabendo que precisarei desembolsar 60 libras pela noite e que precisarei ficar em casa nas três semanas seguintes, ou freqüento lugares mais baratos três vezes por mês, gastando 20 libras a cada vez”.


 


Ela não pode nem pensar em ir a um salão de beleza para fazer manicure e pedicure. “Isso custaria 40 libras! Eu mesmo faço as unhas e pinto o meu cabelo”.


 


James Warner, 21, formou-se pela Universidade de Oxford quatro meses atrás, e só recentemente mudou-se para Londres. Ele é o baterista de um conjunto formado com três amigos da universidade. Eles esperam que a banda, “The Glitches”, tenha a mesma sorte que um outro conjunto da universidade, o “Coldplay”.


 


No site de classificados GumTree, eles encontraram um apartamento de quatro quartos, “precisando de modernização”, atrás da Victoria Cathedral, no centro de Londres, por 475 libras mensais (o aluguel médio na área é normalmente de 170 libras por semana).


 


“Cada um de nós paga mais 75 libras mensais por energia, água e imposto”, diz ele, acrescentando que não contam com televisão a cabo, mas precisam de internet de alta velocidade para o trabalho. Todos os quatro pretendem trabalhar como tutores acadêmicos para uma agência que paga 25 libras a hora enquanto aguardam o grande sucesso da banda (uma apresentação recente rendeu ao grupo 400 libras).


 


Só transporte público


 


Esse moradores da cidade não podem nem pensar em andar de táxi, e o fato de o Metrô de Londres deixar de funcionar à meia-noite é um problema. “Se ficar muito tarde, eu tento dormir na casa de uma amiga em Central London, já que uma corrida de táxi até a minha casa custa de 35 a 40 libras”, diz Oztamur.


 


A comida é um outro problema. Richard Hudson cozinha com dois colegas de apartamento, ajudado por um livro de receitas escrito pela mãe dele, “Hard Up and Hungry” (“Sem Dinheiro e Faminto”), especificamente para estudantes e indivíduos recém formados pobres.


 


Henry Hudson está seguindo a tradição centenária segundo a qual os artistas procuram financiadores ricos. “Eu saio bastante com clientes ricos e também vou a muitas aberturas de galerias – eles são bem generosos com o álcool gratuito”, diz ele, rindo.


 


Oztamur, a moça turca, diz que já fez faxina em casas nos finais de semana para poder financiar as suas viagens a Istambul para ver a família. Ela geralmente compra a passagem com meses de antecedência para obter desconto. “Essas viagens são importantes para mim”, afirma. “Só na Turquia eu tenho condições de pagar por um corte de cabelo em um salão de belezas e de comprar roupas. Mas agora até Istambul está ficando cara!”.


 


Tradução: UOL


 


Fonte: Herald Tribune