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'Carmem Miranda fazia suas próprias roupas', diz sobrinha

Meio desconcertada diante dos jornalistas, a professora de inglês aposentada Carmen de Carvalho Guimarães, de 74 anos, tentava, no final da tarde de domingo (18), encerrar a série de entrevistas iniciada pela manhã.  Embora não seja modelo, celebrida

“Se comigo está assim, imagina como era com a Carmen”, brincava com um ar visível de cansaço. Para a organização do evento, Carmen Miranda foi escolhida como personalidade símbolo por ser a síntese da alegria e brasileirismo colocados como temática dos desfiles desta edição outono-inverno 2009.


 


Mas para a sobrinha da estrela da década de 40, a escolha da cantora que primeiro fez o nome do Brasil brilhar no exterior para “madrinha” do evento foi algo “natural” não apenas pela felicidade expressa por ela, mas porque Carmen “tem toda uma relação com moda”.


 


“Desde mocinha, ela criava as roupas dela. Antes de se tornar a baiana costumizada, todo o visual que usava nos shows era feito por ela mesma. Até depois que ela foi para os Estados Unidos e tinha a possibilidade de ter tudo, ela manteve um quarto imenso de costura em sua casa e lá confeccionava parte dos figurinos”, conta.


 


Segundo Carminha, como a aposentada é chamada por todos da família, “a moda saía naturalmente” de Carmen Miranda e ela não precisava copiar ninguém. “Ela tinha estilo próprio”, conta, algo que o mundo da moda sempre busca nas pessoas.


 


Justamente por causa desse “estilo” único que tanto desperta o interesse de público e negócios, a família da cantora decidiu criar uma empresa para controlar o uso da imagem de Carmen.


 


Neste ano de centenário do nascimento da cantora, Carminha e outros dois primos pretendem fazer com que a imagem da tia seja usada apenas em eventos “tão profissionais” quanto a SPFW. “A homenagem que fizeram a ela neste evento é maravilhosa. O espaço ficou lindo. Estamos emocionados.”


 


O que é que a baiana tem?


 


Carmen Miranda nasceu em Portugal. Mas isso pouco importa. Com 10 meses de vida, ela se mudava com sua família para o Rio, onde virou sinônimo de brasilidade e carioquice com seu samba, suas inesquecíveis marchinhas de carnaval e seus tradicionais balangandãs, mistura exótica que a catapultou mais tarde para os musicais de Hollywood.


 


A cantora, homenageada da 26ª edição da SPFW — que apresenta 39 desfiles de domingo até sexta-feira (23) — ganhou uma exposição no terceiro piso do Pavilhão da Bienal, endereço oficial da semana de moda. Pegando carona no centenário de nascimento da Pequena Notável, a mostra disseca, por meio de fotos, trajes e vídeos, a trajetória da cantora.


 


As sandálias tipo plataforma — inventadas por ela, mas não patenteada — e os turbantes, todos cedidos pelo Museu Carmen Miranda, no Aterro do Flamengo, no Rio, são um dos destaques da Mostra. Sua biografia, curiosidades e trechos de filmes de Hollywood estrelados por ela completam a exposição, que tem curadoria do jornalista Eduardo Logullo e cenografia de Daniela Thomas e Felipe Tassara.


 


Museu Carmem Miranda


 


O estilista Dudu Bertholini, da grife Neon, foi um dos primeiros a conferir a mostra, e gostou do que viu. “Adoro a Carmen Miranda. Admiro sua força, sua autenticidade e seu estilo próprio. Nunca estive no museu dela no Rio e é uma ótima oportunidade para se conhecer mais sobre ela. Acho uma homenagem justíssima”, comentou Dudu sobre Carmen ser o ícone de brasilidade da SPFW.


 


O produtor de moda Marcos Barozzi ressaltou a importância de Carmen para o mundo fashion, já que ela estabeleceu um conceito inovador de moda, até hoje fonte de inspiração para artistas e estilistas. “Vendo a exposição tem-se a prova de que não estão criando mais nada hoje em dia. Olha os sapatos plataforma que ela criou nos anos 40!”, explicou o brasiliense.


 


Além da exposição, muitas outras ''Carmens'' estão soltas pela Bienal. Personalidades como a atriz Camila Pitanga, a modelo Isabeli Fontana e a consultora de moda Regina Guerreiro foram clicadas por Bob Wolfenson com visual e turbantes à la Carmen Miranda revisitados para o século 21. O resultado pode ser conferido em painéis gigantes espalhados pela cenografia da SPFW.