Previsão: Europa Oriental é a próxima a desmoronar
A região que gostaria de ver a si mesma como o motor do crescimento econômico da Europa e imune à crise internacional é apontada como a próxima a desmoronar. Nos países membros da União Européia do centro e leste do continente o capital estrangeiro fog
Publicado 25/03/2009 17:00
O primeiro-ministro da Hungria, Ferenc Gyurcsány, que anunciou que deixaria o cargo diante das crescentes críticas sobre manejo da crise econômica, pediu à Europa ocidental que resgatasse toda a região com um pacote de US$ 180 bilhões.
O pedido causou controvérsia. “Foi um erro tentar dar a impressão de que a região é homogênea e que os problemas são os mesmos”, disse à IPS o economista húngaro Andras Nagy. “Penso que ganharia uma mais forte posição de negociação, mas isto não foi preparado de forma adequada e os outros países não concordaram com essa tática”.
Na Eslováquia, uma das economias européias de maior crescimento, mas onde a renda orçamentária está diminuindo, o governo prometeu ambiciosamente economizar na administração estatal, realizar investimentos públicos que favoreçam os fornecedores internos e ajudar as fábricas de veículos, preservando ainda todos os programas sociais e mantendo o orçamento sob controle.
Já na Polônia, depois de um otimismo inicial, a renda orçamentária resultou ser menor do que o esperado e vários ministérios, como os da Saúde, Justiça, Interior e especialmente o da Defesa, sofrem escassez de fundos.
Os efeitos da crise também são sentidos na República Checa, apesar de esse país o negar. Quando as potências da UE acordaram em fevereiro fortalecer o controle dos mercados, Miroslav Kalousek, ministro das Finanças do governo neoliberal checo, país que exerce a presidência rotativa do bloco e que sugeriu o objetivo inicial de “desregular” a Europa, fez um chamado de alerta sobre o que considerou “populismo na regulamentação financeira”.
“Isto é principalmente político”, disse Nagy. “Os checos e os poloneses disseram que não seriam afetados seriamente. São muito nacionalistas e tentam criar a imagem de que são melhores do que os outros, enquanto os húngaros se queixam de uma catástrofe. Não acreditaria nem nas previsões otimistas nem nas fatalistas, porque não podem saber o que vai acontecer”, acrescentou.
Há pouca colaboração entre os países da região, exceto por certa intervenção verbal coordenada dos bancos centrais checo, húngaro, polonês e romeno para proteger suas moedas.
Também se fala de uma coalizão liderada pelo primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, contra o que o jornal Gazeta Wyborcza qualificou de “espectro de um protecionismo econômico que novamente ronda a Europa”.
Isto foi em reação à sugestão do presidente francês, Nicolas Sarkozy, de que os fabricantes de veículos de seu país deveriam abandonar suas fábricas na República Checa, nação com a qual as relações nunca estão totalmente bem. “A Europa ocidental claramente não é muito útil, porque eles estão em muitos problemas’, disse Nagy.
“Mas, mesmo estando em grande dificuldade, ajudarão”. Essa ajuda foi dada à Hungria e a Letônia, e a Romênia pode ser a seguinte na fila, pois o Ocidente teme que a bancarrota de um desses países tenha um efeito de expansão.
A Áustria tem sido o mais ativo promotor de um pacote de ajuda à região devido às suas importantes ações nos mercados da Europa oriental.
Os bancos austríacos Raiffeisen e Erste têm mais de 230 bilhões de euros (70% do PIB da Áustria) em empréstimos no exterior, a maior parte em moedas estrangeiras que os torna mais caros para os devedores.
Hungria e Romênia estão em uma posição delicada em termos de dívidas privadas de imóveis residenciais. Um grande número de empréstimos foram concedidos em divisas que só deixaram, em muitos casos, mais caros após as desvalorizações das respectivas moedas nacionais.
Especuladores aproveitam a desvalorização, com perigosas e caras consequências para a credibilidade dos países. Muitos funcionários governamentais inclusive acusam esses mesmos especuladores de tentarem influenciar os investidores na região promovendo sinistras projeções econômicas.
A moeda húngara, o florim, perdeu 20% de seu valor em meio ano, e as pessoas temem por suas casas e negócios. Somente Eslovênia e Eslováquia, que este ano adotaram o euro, estão protegidas das consequências catastróficas das oscilações monetárias.
Gyurcsány sugeriu uma renda antecipada para a zona do euro dos países da UE que ainda não adotaram essa moeda, mas analistas consideram que a proposta é politicamente irrealista.
Conhecido nos anos 90 como o “filho modelo” dos “reformadores ocidentais, o Estado húngaro foi apontado pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, como um exemplo a ser evitado.
Muitos húngaros consideram que a linha de crédito que goza seu país no valor de US$ 20 bilhões do Fundo Monetário Internacional é degradante. “O maior problema da Hungria é um déficit extremamente alto, causado pela má administração de governos prévios”, disse Nagy.
Teme-se que a economia da Hungria se contraia entre 3% e 3,5% este ano, e que as condições do FMI impostas para seu empréstimo prejudiquem aposentados e funcionários públicos neste país em grande parte com um sistema de bem-estar.
“Estamos em vias de ser colonizados”, alertou Tibor Szanyi, do governante Partido Socialista da Hungria, em uma entrevista concedida no mês passado. “O FMI nos diz o que temos de fazer e o que não temos de fazer”, acrescentou.