Trabalhadores lutam pelo emprego e jornada na Câmara
Mais de mil trabalhadores da área de enfermagem de todo o Brasil e as lideranças dos 4.270 empregados demitidos da Embraer forçaram nesta quarta (25) o andamento da pauta da Câmara dos Deputados, normalmente trancada pelo acúmulo de votação das Medidas
Publicado 25/03/2009 17:40
No caso dos demitidos da Embraer, a Comissão do Trabalho realizou audiência pública com os representantes sindicais, da empresa e do Ministério do Trabalho. Diante da negativa da direção da empresa para a suspensão das demissões e reabertura das negociações, os parlamentares decidiram propor a formação de uma comissão de fiscalização e controle, além de um comissão externa, para ajudar na intermediação.
Com faixas, cartazes e vestindo camisetas pelas 30 horas Já, os enfermeiros realizaram passeata na Esplanada dos Ministérios. No Congresso Nacional lotaram o auditório Nereu Ramos onde ouviram da presidente da Comissão de Seguridade Social, Alcione Barbalho (PMDB-PA), e do relator do projeto, deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), que teriam o apoio deles pela aprovação.
Os deputados da bancada do PCdoB Aldo Rebelo (SP), Alice Portugal (BA), Chico Lopes (CE), Perpétua Almeida (AC) e Vanessa Grazziotin (AM) foram ao local prestar solidariedade à categoria. “Trata-se de uma reivindicação justa em virtude da peculiaridade do trabalho desses profissionais de saúde”, disse Grazziotin. Ela ainda elogiou a postura do presidente Michel Temer que, presente no ato da categoria, comprometeu-se assim que for possível colocar a matéria em pauta.
Em alguns estados, como no Amazonas, a jornada chega até a 44 horas semanais. O representante do Conselho Regional de Enfermagem do Estado (Coren-AM), Gessivaldo Barbosa da Silva, disse que entre os 24 mil profissionais amazonenses são constantes problemas de saúde por causa da extensa jornada.
“Outro fator que pode se agravar com a jornada de trabalho excessiva está ligado à manipulação de drogas e material perfurocortante, pelo risco de contaminação por doenças infecto-contagiosas como hepatite e aids”, diz um manifesto da categoria.
Intransigência da empresa
Sob a presidência da deputada Manuela D´ávila (PCdoB-RS), que junto com Ivan Valente (PSOL-SP) propôs a reunião, a audiência da Embraer poderia ter um desfecho favorável aos trabalhadores não fosse a intransigência da empresa em descartaou qualquer possibilidade de suspender as demissões.
O vice-presidente da empresa, Horácio Furjas, alegou que o cenário é dramático por causa do cancelamento de 32% das vendas para o exterior. Segundo ele, as perspectiva é que o quadro não melhore nos próximos três anos.
Essa posição foi duramente criticada pelo deputado Vicentinho (PT-SP) para quem a empresa não pode raciocinar apenas sob a ótica do lucro, sem levar em conta a situação de milhares de trabalhadores que perderam o emprego.
Para o diretor de relações do trabalho do Ministério do Trabalho, André Grandizoli, as demissões podem ser revistas e só depende da boa vontade do empregador. Para isso, ele se colocou à disposição dos trabalhadores, da empresa e do Ministério Público. Disse que caso não se chegue a um acordo, o ministério já estuda a possibilidade de estender aos trabalhadores a ampliação do seguro-desemprego.
O diretor da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Joílson Cardoso, criticou o pessimismo do vice-presidente da empresa que ao falar do quadro internacional havia previsto o fechamento de várias empresas. Com menos concorrentes, Joílson diz que a empresa teria melhor oportunidade para pensar o futuro.
“O debate foi muito importante porque trouxe ao conhecimento do Congresso e também da sociedade os argumentos da empresa e a forma como esta demissão em massa foi efetuada. Acredito que o Congresso tem a obrigação de criar mecanismos legais para a preservação do emprego e de apoio as empresas para que não tenhamos mais demissões como a da Embraer”, disse a deputada Manuela D´Ávila.
Para ela, as mais de 4.000 demissões foram um duro golpe na capacidade aeroespacial brasileira. “Nosso papel é lutar para que o conhecimento tecnológico produzidos no Brasil não sejam prejudicados pelas crises internacionais.”
De Brasília,
Iram Alfaia