A bela, desigual e singular Salvador completa 460 anos

Salvador chega aos 460 anos neste domingo (29/3) dividida, como foi desde a sua fundação em 1549. Pensada para ser a capital do Império Português na América, a cidade foi construída em dois planos: na parte alta ficava a administração, igrejas e casarões

A Salvador dos turistas, dos ricos e famosos é bem cuidada. Nos bairros da classe alta tem asfalto nas ruas, iluminação nas vias públicas, praças arborizadas e policiamento ostensivo. Os moradores destas áreas têm acesso à escolas e hospitais particulares, não dependem do transporte público, além de conseguirem ingressar com facilidade nas universidades e no mercado de trabalho. Esta é realidade de bairros como Itaigara, Pituba, Barra, Rio Vermelho, Graça, Canela e Vitória, por exemplo, onde a maioria da população tem a pele clara.


 


A outra Salvador


 


Para os moradores do Subúrbio Ferroviário, Cajazeiras, Cabula, Vale das Pedrinhas, Calabar, Retiro e Tancredo Neves a realidade é bem diferente. As ruas não possuem esgotamento sanitário, os postos de saúde não funcionam adequadamente, a iluminação pública e o policiamento são deficientes. Nestes bairros populares, e muitos outros da cidade, o poder público é ausente, as crianças não têm acesso ao ensino de qualidade e os jovens são vitimados cada vez mais cedo pela violência. É a Salvador dos pobres e excluídos, de maioria esmagadoramente negra.


 


Como reflexo desta divisão, a capital baiana ostenta números de desenvolvimento social desanimadores. Possui, por exemplo, a região metropolitana com o maior número de desempregados do país, 354 mil trabalhadores, segundo dados do Dieese, referentes ao mês de fevereiro de 2009. O déficit habitacional é de 100 mil casas, de acordo com Secretaria municipal de Habitação. Os números não levam em conta, porém, as 1 milhão e 100 mil pessoas que vivem em moradias irregulares, como favelas, morros e áreas alagadiças, o que elevaria o déficit para 656 mil residências.


 


Salvador sofre também com altos índices de violência urbana, que atinge principalmente os jovens da periferia. Foram 2.189 homicídios em 2008, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública da Bahia. A cidade enfrentou ainda recentemente uma epidemia de dengue, além do aumento dos casos de meningite e tuberculose. Tudo conseqüência do mal funcionamento dos postos de saúde e da  falta de adoção de medidas preventivas nos bairros mais pobres. Coincidentemente, ou conseqüentemente, o prefeito de Salvador, João Henrique Carneiro (PMDB), foi apontado como o pior gestor entre as nove principais capitais do país, segundo pesquisa do Datafolha.


 


Cidade de mil encantos


 


Mas, apesar de todos os seus problemas, Salvador também tem seus encantos. A vista da Baía de Todos os Santos a partir da praça Municipal é uma das imagens mais belas do mundo. É impossível também não se encantar com o conjunto arquitetônico do Centro Histórico, principalmente com as igrejas do Pelourinho, não admirar a alegria do povo de Salvador ou não experimentar os deliciosos quitutes vendidos nas esquinas e barracas à beira mar. Comer acarajé no Rio Vermelho, moquecas e mariscos na Pedra Furada e tomar sorvete na Ribeira são programas imperdíveis em Salvador.


 


Imperdível também é ver o bloco Ilê Ayê sair do Curuzú no sábado de carnaval, curtir a benção do Olodum nas terças-feiras, ir à missa na Igreja do Senhor do Bonfim na última sexta-feira do mês, assistir a um culto afro em um das centenas de terreiros de Candomblé da cidade ou curtir o pôr do Sol no Porto da Barra. Passar o carnaval em Salvador também é uma experiência única. Enfim, é por estas e outras coisas, que Salvador é constantemente lembrada como uma cidade bela e desigual.


 


De Salvador,
Eliane Costa