Sobre articulações fascistas contra quilombos no Brasil

Pensando a luta das comunidades quilombolas no estado do Espírito Santo, devo necessariamente tratar a questão pensando em Brasil e na posição que devemos adotar em relação a esta questão, que se apresenta como uma das mais profundas iniciativas popula

Estas comunidades formadas por negras e negros que há séculos resistem aos modos de opressão e exploração presente no Brasil passa por momentos de glória e de apuros. As glórias dizem respeito às afirmações de suas identidades frente aos processos homogeneização pelo qual passamos. Os apuros dizem respeito às estratégias construídas por aqueles que tem um pezinho na casa grande e que pretendem impedir a execução das políticas publicas destinadas à demarcação dos territórios destas comunidades.


 


No Espírito Santo de norte a sul encontraremos comunidades quilombolas que passam por momentos de luta pela demarcação de seus territórios. Notadamente nos municípios de São Mateus e Conceição da Barra estas lutas coletivas, realizadas por grupos etnicamente diferenciados de nós, ganharam destaque mundial devido às proporções do conflito. Lá girando entorno de comunidades quilombolas de um lado, multinacionais, grandes empresas brasileiras, fazendeiros e todos os seus arautos institucionalizados nas câmaras municipais, secretarias e executivo, de outro.


 


Recentemente assistimos o desenrolar de uma série de episódios que tornam visíveis o modo como tais articulações se processam:


 


-A criação do movimento PAZ NO CAMPO como um movimento de agricultores (leia-se plantadores de commodites) que se contrapõem ao movimento quilombola, pois que as terras destes “agricultores da PAZ” estão localizadas no território de direito das comunidades quilombolas. O vinculo deste movimento a Associação dos Fundadores autoatribuida como herdeiros diretos e continuadores das práticas e pensamentos de Plinio Corrêa de Oliveira (fascista católico, lembrem da TFP) demonstra bem quem são e o que pensam, bem como quais são suas redes de articulação nacional.


 


-A ligação direta dos articulistas deste movimento com a atual administração do município de São Mateus, ocupando cargos de secretariado e outros na prefeitura.


 


-As pressões realizadas (em conjunto com senadores Capixabas; PSB, PMDB) para barrar a continuidade dos processos de regularização fundiária das comunidades quilombolas chegando a consolidar alianças com o PT “na negociação” de cargos dentro do INCRA (justamente o de responsável pela política de regularização fundiária dos quilombos).


 


-A articulação em Brasília para vetar o decreto 4885 de 2003 (decreto que regulamenta a demarcação das terras de quilombos) propondo via ADIN a derrubada do mesmo.


 


Podemos perceber, neste breve relato, um pouco da conjuntura da questão quilombola no ES e no Brasil. É dentro deste contexto que devemos pensar como nos posicionarmos enquanto seres políticos, agentes da história. Lembrando sempre que, queiramos ou não, fazemos parte de um país fundado sobre a exploração via escravização da população negra e indígena, e que a estes cabem direitos específicos, gostemos ou não.


 


*Vitor Hugo Simon Machado é Cientista Social e Professor, Pós-Graduando em Ciências Sociais na UFES. Email: vitorhugosimon@yahoo.com.br


 






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