Comunistas apostam em governo da 'Terceira Frente' na Índia
O secretário-geral do Partido Comunista da Índia (Marxista), Prakash Karat disse nesta sexta-feira, que a “Terceira Frente” está bem posicionada para assumir o governo da Índia. O país sul-asiático, com 1,1 bilhão de habitantes e 700 milhões de eleitores,
Publicado 08/05/2009 15:35
Karat falou à imprensa após reunir-se com líderes de outro partido da Frente, o Biju Janata Dal. O dirigente comunista previu que nenhum partido terá maioria nas eleições para a Lok Sabha (“Casa do Povo”, a câmara baixa, única eleita diretamente no sistema parlamentarista indiano) e que será possível formar um governo que não seja nem do Congresso e nem do Janata.
CPI-M é o terceiro partido da Índia
O Congresso esteve no governo indiano durante meio século quase ininterrupto. Desalojado em 1996 pelo BJP, retornou em 2004. Mas só pôde formar governo graças aos comunistas, que se recusaram a participar do gabinete mas concordaram em dar sustentação parlamentar. Esta situação se encerrou em 2007, quando o primeiro ministro Manmohan Singh assinou um acordo nuclear com os Estados Unidos considerado pelos comunistas um gesto de submissão ao imperialismo.
O CPI-M é o terceiro maior partido da Índia, com 43 deputados na Lok Sabha, contra 145 do Congresso e 138 do BJP. A partir de seu reduto no estado de Bengala Ocidental (80 milhões de habitantes, com capital em Calcutá), ele formou primeiramente a Frente de Esquerda, onde participa também o Partido Comunista da Índia (10 deputados), o Partido Revolucionário Socialista (três deputados) e o Bloco Adiante de Toda a Índia (três deputados).
Nasce a “Terceira Frente”
A “Terceira Frente” se propõe a unir tanto a Esquerda como outros partidos – alguns falam em nove, outros em mais. O arco ideológico proposto é o de todas as siglas que sejam laicas (sem conotações confessionais como o BJP) e desejem um governo fora da tutela das duas maiores agremiações do país.
O cenário político indiano é de grande fragmentação, com 41 legendas representadas na Lok Sabha, muitas delas com expressão local. A Frente de Esquerda marcou um tento ao atrair o Partido Bahujan Samaj (BSP, 19 deputados), que tem como maior liderança a governadora de Uttar Pradesh, o estado mais populoso da Índia, com 190 milhões de habitantes. Mayawati, a governadora, de 53 anos, apresenta-se como líder dos Dailit, os párias no sistema indiano de discriminação por castas, e é cotada como um dos nomes para primeira ministra em um governo da Terceira Frente.
Indagado pelos jornalistas sobre a adesão do BSP à Frente, Karat disse, citando o presidente da agremiação, que o partido de Mayawati já tinha anunciado o ingresso na aliança, logo após as eleições. Outra legenda na mesma situação é o Janata Dal (U). Karat fez um apelo a todos os partidos não comprometidos com o Congresso ou o Janata, para que formem um bloco único após a abertura das urnas.
Naveen Patnaik, presidente do Biju Janata Dal, falou aos jornalistas no mesmo sentido. “Nenhum dos nossos partidos apoiará um governo liderado pelo Congresso ou o BJP no Centro (ou seja, na capital federal, Nova Delhi)”, disse ele.
Indagado pelos jornalistas se o Biju Janata está na Terceira Frente, Patnaik respondeu que “obviamente”. E concordou que a nova aliança está bem posicionada para formar um governo alternativo.
Rahul Gandhi namora apoio da esquerda
Tudo dependerá dos resultados da complicada eleição em cinco fases (a quarta transcorreu na quinta-feira), que só serão divulgados dia 16. No entanto, tanto os analistas como as pesquisas coincidem que nem o Congresso, nem o BJP, nem a Terceira Frente terão deputados suficientes para formar governo sem apoio externo.
Neste sentido, Rahul Gandhi, secretário-geral do Congresso e herdeiro da poderosa dinastia política Nehru-Gandhi, vem fazendo sucessivos acenos em favor de um acordo com a Esquerda. Ele chegou a dizer que apoiaria um governo da Terceira Frente caso esta fizesse mais deputados e pressiona para que a recíproca seja verdadeira. O CPI-M, porém, vem declarando que não pretende reeditar a fórmula de 2004.
Da redação, com agências