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Comunistas dão novo passo na inclusão de deficientes

Como partido comunista, o PCdoB se preocupa, desde a sua criação, com causas relacionadas à cidadania e à garantia da igualdade de direitos aos mais diversos setores sociais. Neste sentido, tem apoiado e participado de lutas importantes de negros, mulh

O seminário “O PCdoB e o movimento de pessoas com deficiência”, realizado dia 2 em São Paulo, foi o primeiro passo de uma série que o partido dará para ampliar sua participação nesta frente e unificar a atuação dos comunistas que fazem parte do movimento. Na avaliação de Ricardo Abreu, o Alemão, secretário de Movimentos Sociais do partido, “para além do ineditismo, o evento foi importante porque pudemos compreender melhor as demandas desse grupo. Percebemos, também, a emoção dos militantes deficientes que há muito tempo esperavam por uma ação dessa natureza”.


 


Realizado em parceria com a seção do PT de pessoas com deficiência, o seminário abriu as portas para um universo que engloba 14% da população brasileira, uma fatia que, apesar de representativa, sofre pela falta de mobilidade e de inserção na sociedade. “Com base nessa discussão, vamos criar uma fração nacional focada nessa área e em breve elaboraremos um documento com os principais pontos da iniciativa”, conta Alemão.


 


O seminário também ajudou a preparar os comunistas atuantes nos movimentos de pessoas com deficiência para o encontro de movimentos sociais do PCdoB dias 19 a 21 de junho, em Brasília, atividade que reunirá todas as frentes em que o partido atua. De acordo com Alemão, “o evento conseguiu conceituar quem é a pessoa com deficiência numa perspectiva avançada de como encarar essa questão e a luta contra a discriminação. Aprendemos muito e também nos emocionamos com os relatos que ouvimos”.


 


Para o dirigente, a luta contra preconceitos e as conquistas que levam à inclusão “são avanços humanitários e civilizacionais que caminham lado a lado com a busca dos comunistas por uma sociedade superior e igualitária. É, ainda, uma maneira de inserir cada vez mais o PCdoB em movimentos reais do povo brasileiro”. 


 


“Uma pessoa oprimida, sofrida, desprezada, discriminada, marginalizada, quase nem é pessoa, é só estatística social. Mas se você juntar muitas dessas pessoas, elas acabam levantando uma bandeira. E, se muitas bandeiras balançarem juntas, podemos alcançar o socialismo. Estivemos reunidos para falar de dor e superação, de marginalidade e conquista e de igualdade na diferença”, disse Galeno Silva, um dos palestrantes do seminário, membro da Comissão Nacional de Movimentos Sociais (CNMS) e há anos militante da frente de pessoas com deficiência.


 


Segundo Galeno, “nossa sociedade, ainda não entendeu que só vai existir plenitude de direitos humanos quando houver radicalismo no alcance desses direitos: os sem-terra lutam por um pedaço de chão; as mulheres, por autonomia; os negros, por respeito; as comunidades indígenas, por reconhecimento. Da mesma forma, gays e lésbicas, trabalhadores rurais e desempregados das cidades, aposentados e jovens entre tantos outros grupos lutam para garantir seus direitos e é assim que chegaremos a uma sociedade melhor: lutando”. Para ele, “a mobilização garantiu o debate sobre o estatuto da pessoa com deficiência e conquistou aqui no Brasil a ratificação da convenção da ONU sobre os direitos das pessoas com deficiência”.


 


Durante sua apresentação, o sociólogo Humberto Lippo, membro da Coordenação Nacional da Setorial de Petistas com Deficiência do Rio Grande do Sul, colocou: “o lugar simbólico e concreto ‘reservado’ socialmente às deficiências historicamente tem sido o do estigma, ou seja, uma marca sobre um sujeito em função da relação de interação entre sujeito, cultura e sociedade”.


 


Para Lippo, “é preciso encontrar alternativas para tornar o meio (social) adequado às necessidades das pessoas que não correspondem à expectativa do imaginário cultural e social”. Assim, explicou o sociólogo, “em uma sociedade de massas como a nossa as políticas públicas têm de, necessariamente, assumir a condição de serem políticas generalistas no sentido de atenderem o maior número possível de situações”.


 


Acessibilidade, enfatizou Lippo, “refere-se conjuntamente ao meio físico, aos serviços de informação e comunicação, mas também deve ser aplicada no contexto da sociedade, implicando acesso à equiparação de oportunidades e inclusão social”.


 


Também palestraram durante o seminário Antonio Muniz, professor, bibliotecário, membro da Setorial Estadual de Petistas com Deficiência de Pernambuco e Francisca das Chagas Félix, coordenadora do Movimento pelos Direitos das Pessoas Deficientes (MDPD) e membro da Coordenação Nacional da Setorial Nacional (SP) do PT. Estiveram presentes ainda Edson França, coordenador geral da Unegro e membro da CNMS e Marcos Emílio, secretário Estadual de Movimentos Sociais de São Paulo e membro da CNMS.


 


Poesia contra o preconceito


 


Entre as contribuições apresentadas durante o seminário está a poesia em forma de repente “Como devem me chamar”, do pernambucano Antônio Muniz, um dos palestrantes, que tem apenas 4% de visão. O Partido Vivo reproduz a seguir a íntegra do texto.


 



Como devem me chamar


 


Neste tempo que vivemos
Pus-me um dia a refletir.
Na forma que a população
Adota ao se dirigir
às pessoas diferentes,
Às vezes, me ponho a rir.
Lá pelos anos cinqüenta
Não sei se em Minas Gerais,
Nomearam os mais diferentes
Como excepcionais
Criaram uma associação,
Que hoje são as APAEs.
Não tinham voz e nem vez,
Nesse tempo os diferentes.
Eram como criancinhas
Chamadas deficientes.
Sua vontade não valia,
Nem seus desejos ardentes.



 
Em meio aos anos setenta,
Houve uma revolução.
A ONU deu uma ajudinha
Pra esta transformação
Nos deram oportunidade
pra que entrássemos em ação.
O ano de oitenta e um,
foi o marco inicial
Agora nós já não éramos
Tidos como excepcional.
Deficiente era o nome
mais corriqueiro e normal.
Em outubro daquele ano,
Em Recife houve um Congresso.
Mais de mil deficientes!
Isso aqui foi um sucesso!
Depois disso registramos,
Muito avanço e progresso



 
Somos pessoas portadoras
De necessidades Especiais
Foi o que a LDB
Definiu para estes tais
Aqueles deficientes
E as PPAHs.
Que são PPAH's?
Meu Deus, que dificuldades!
São pessoas portadoras
de altas habilidades,
No Brasil, sei que há poucas,
Morando em nossas cidades.
Vieram os anos noventa
E com eles, a inclusão.
tem que haver um compromisso
Também da educação.
É uma cultura nova
Que não sei se pega não.


 


Da redação


 


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