Lula viaja para consolidar parceria estratégica com a China
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarcou em Pequim às 10h40 desta segunda-feira (23h40 de Brasília), para uma visita oficial de três dias à China. O objetivo da segunda viagem de Lula a Pequim, segundo ele próprio, é “consolidar a parceria estra
Publicado 18/05/2009 13:30
O presidente Hu Jintao recebeu Lula para uma conversa reservada à noite, e em seguida ofereceu-lhe um jantar. Antes do encontro com o líder do Estado e do Partido Comunista da China, Lula tivera encontros em separado com o primeiro ministro Wen Jiabao, o vice-presidente do país, Xi Jinping, e o presidente da Conferência Consultiva do Povo Chinês, Jia Qinglin.
Os três pilares de Lula
A primeira visita de Lula a Pequim como chefe de Estado, em 2004, levou à prática a intenção de estabelecer a parceria estratégica entre os dois países, manifestada em 1993 (governo Itamar Franco). Na visita em curso, a comitiva de Lula ampliou-se para 240 pessoas, entre empresários e funcionários governamentais e a aliança já mostra seus frutos.
Em abril, a China tornou-se a maior compradora mundial de produtos brasileiros, superando os Estados Unidos. As exportações brasileiras para a China durante o quadrimestre somaram US$ 5,6 bilhões, com saldo favorável ao Brasil da ordem de US$ 1 bilhão. As exportações para os EUA no mesmo período ficaram em US$ 4,9 bilhões.
As possibilidades de estreitamento da parceria, porém, vão muito além do comércio. Em entrevista por escrito à agência Xinhua, Lula resumiu-as em três pilares: comércio, cooperação tecnológica e ação coordenada nos fóruns internacionais.
“É maluco o dólar ser a referência”
A pauta das conversações inclui, por exemplo, a proposta feita por Lula a Hu em abril, durante a cúpula do G20, de substituir o dólar pelas moedas dos dois países nas transações bilaterais. “É maluco que o dólar seja a referência e que se dê a um único país o poder de imprimir essa moeda”, comenta o presidente da Câmara de Comércio Brasil-China, Charles Tang.
Segundo Tang, os chineses devem realmente crescer 8% este ano, cumprindo a meta fixada pela Assembleia Nacional Popular em abril e contrastando com a recessão mundial gerada pela crise capitalista. “O dever do Brasil é ‘colar’ neles, aproveitar todos os interesses de investimento e aprender a conquistar oportunidades de crescimento global”, disse o empresário. Para ele, os investimentos chineses beneficiam muito mais o Brasil, com geração de empregos, aumento das linhas de crédito e desenvolvimento. Já a China irá ganhar um grande aliado econômico e um novo mercado para substituir os mercados em queda devido à crise.
Lula está empenhado também em elevar os investimentos diretos da China no Brasil. No ano passado eles se limitaram a US$ 38 milhões de dólares, apenas 0,3% dos investimentos chineses no exterior. O Brasil quer aumentar essa fatia, que segundo diplomatas brasileiros está “abaixo do potencial”. já que o país figura num apagado 42º lugar entre os destinos de investimentos chineses.
US$ 10 bil de crédito para a Petrobras
Há boas chances de cooperação na área de crédito. Espera-se que o encontro entre Lula e Hu Jintao renda, no mínimo, convênios da ordem de US$ 10,8 bilhões, somente do China Development Bank (CDB, o banco de desenvolvimento da China), hoje um dos maiores do planeta. Desse total, US$ 10 bilhões iriam para a Petrobras e outros US$ 800 milhões, para o BNDES. Desta forma o Brasil beneficia-se dos incríveis US$ 2,3 trilhões de reservas da China (incluindo Macau e Hong Kong), em um momento em que a crise travou o sistema mundial de crédito.
Outro possível financiamento chinês impulsionará a integração continental sul-americana. Irá para o corredor ferroviário bioceânico, que passará pelos territórios de Brasil, Paraguai, Argentina e Chile, ligando os portos de Santos e Paranaguá à cidade de Antofagasta, no Chile. A ferrovia, de 2.469 km, vai escoar a produção da América atlântica para a Ásia.
Prioridade brasileira é política
Porém é na esfera política que a diplomacia brasileira faz sua maior aposta ao estreitar a relação com Pequim. China e Brasil concordam sobre necessidade de reformar o Conselho de Segurança das Nações Unidas, mas o governo brasileiro quer ainda o apoio da China em sua reivindicação de um assento permanente na instituição.
Os chineses têm se esquivado de assumir esse compromisso, sobretudo porque se opõem ao pleito semelhante feito pelo Japão, que agrediu e ocupou a China durante a 2ª Guerra Mundial. O Itamaraty, que durante o governo Lula transformou a cadeira permanente em prioridade, não desiste. Em contrapartida, comprometeu-se a reconhecer a China como economia de mercado.
Observadores avaliam que a visita de Lula terá como foco central a colaboração entre China e Brasil na busca de maior espaço para os países emergentes nos organismos multilaterais e no enfrentamento da crise global. A reforma da ONU e a cadeira permanente fazem parte desta agenda.
A visita à China é o ponto mais importante de uma turnê presidencial de 11 dias. Lula chegou a Pequim vindo da Arábia Saudita, uma robusta petroeconomia do Oriente Médio e maior compradora de produtos brasileiros na região.
Na volta, o presidente faz uma parada na Turquia, na quarta-feira. Apresentará ao governo turco a experiência brasileira com biocombustíveis e tentará abrir aquele mercado ao produto. Lula avalia como “muito tímida” a relação do Brasil com a Turquia, que tem 70 milhões de habitantes e é o terceiro país mais populoso da Europa (depois da Rússia e Alemanha).
Da redação, com agências