Brasil, um dos grandes perdedores de Pequim 2008
Refletindo um estudo do Ipea, o jornal chinês Diário do Povo, do Partido Comunista da China, em artigo publicado nesta quarta-feira (20), analisa o desempenho da equipe brasileira nos jogos olímpicos de Pequim, disputados em agosto de 2008, afirmando q
Publicado 21/05/2009 21:10
Leia abaixo a íntegra do artigo:
O estudo, apresentado este mês pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), classificou os países que conquistaram medalhas nos Jogos Olímpicos de Pequim segundo sua eficiência, isto é, a relação entre medalhas conquistadas e sua potencialidade econômica, medida pela Produto Interno Bruto (PIB) e pela população no ano passado.
De acordo com a classificação realizada pelo IPEA, o Brasil ficou na 55ª posição no quadro de medalhas levando em conta sua eficiência, com apenas 30,9 por cento.
Isso devido ao Brasil ter se despedido de Pequim com 3 medalhas de ouro, 4 de prata e 8 de bronze, apesar de que, de acordo com sua potencialidade, teria de ter conquistado 20 medalhas de ouro, 18 de prata e 26 de bronze.
Isso, segundo os economistas do IPEA, é o que se pode esperar de um país que tem o nono maior PIB do planeta (1,9 trilhões de dólares em 2008, considerando a paridade do poder de compra) e a quinta maior população mundial (191 milhões de habitantes).
De acordo com o Instituto, o desempenho alcançado em Pequim por um país com a sexta maior potencialidade do mundo pode ser classificado apenas como “insatisfatório”.
“O Brasil, apesar de seu elevado PIB e numerosa população, não apresentou um resultado de acordo com as expectativas”, segundo o estudo “Avaliação da Eficiência Técnica dos Países nos Jogos Olímpicos de Pequim 2008”.
“O Brasil não foi eficiente sob nenhum critério nem se posicionou bem na classificação final”, agregou o estudo.
“Enviamos a Pequim uma delegação recorde na História (277 atletas) e se podia pensar que o Brasil desfrutaria, pelo menos, de um desempenho mediano em termos de eficiência nos Jogos Olímpicos. Mas essa hipótese não foi corroborada pelos resultados”, segundo o estudo.
Segundo os economistas Alexandre Marinho, Simone de Souza Cardoso e Vivian Vicente de Almeida, autores da pesquisa, o Brasil foi o 23.° entre os 87 países que conquistaram medalhas, mas foi o 55° levando em consideração a sua eficiência.
Os economistas justificaram a análise da eficiência como um método que permite aproximar-se melhor às condições de desempenho de cada país.
“Assim como países muito ricos e povoados (como China e Estados Unidos) demonstrram grande capacidade em gerar equipes e atletas vitoriosos, países com pequeno PIB e população reduzida (como Jamaica, Mongólia e Zimbábue), podem ser considerados muito eficientes”, de acordo com a investigação do IPEA.
“Além te ter obtido poucas medalhas, o Brasil foi ineficaz na produção de medalhas. Em termos relativos, o país está muito pior colocado que o que mostra o quadro de medalhas oficial”, afirmou Marinho, ao apresentar o estudo esta semana no Rio de Janeiro.
Segundo o economista, considerando sua riqueza, tamanho de população e expectativa de vida, o Brasil teria de estar entre os seis primeiros no quadro de medalhas, mas considerando riqueza, população e longevidade teria de se situar entre os quatro primeiros, ao lado de China, Estados Unidos e Rússia.
De acordo com os cálculos do IPEA, o Brasil tem uma potencialidade econômica que o teria permitido disputar um lugar com a Rússia (sexto maior PIB e sétima maior população), que ficou em terceiro posto no quadro de medalhas, com 72 (23 de ouro, 21 de prata e 28 de bronze), quase cinco vezes mais que as conquistadas pelos brasileiros.
“Por sua potencialidade econômica, o Brasil teria que ser uma potência olímpica. Temos de descobrir as razões pelas quais não somos”, segundo Marinho.
A classificação realizada pelo IPEA também identificou um país que, por sua potencialidade, teve um desempenho tão decepcionante como o brasileiro: a Índia.
Esse país, com a segunda maior população mundial e o quarto PIB, conquistou apenas uma medalha de ouro e duas de bronze em Pequim (ficando no 50° lugar do quadro de medalhas).
Por sua potencialidade, a Índia também tinha condições de se situar entre os três primeiros colocados, já que este país poderia conquistar 75 medalhas (24 de ouro, 22 de prata e 29 de bronze).
Seu índice de eficiência foi de apenas 6,97 por cento, superior ao do Egito (6,39 por cento) e abaixo do da Venezuela (7,06 por cento), Irã (7,11 por cento) e África do Sul (7,48 por cento).
Pelo contrário, os países com maior índice de eficiência foram o Zimbábue (100 por cento), os Estados Unidos (100 por cento), a Ucrânia (100 por cento), Trinidade e Tobago (100 por cento, Togo (100 por cento), Rússia (100 por cento), Noruega (100 por cento), Mongólia (100 por cento) e Jamaica (100 por cento).
A Jamaica (77° país em tamanho de PIB entre os que ganharam medalhas e o 78° em população), Mongólia (84° no PIB e 79° em população) e o Zimbábue (86° em PIB e 45° em população) figuran entre os mais eficientes, apesar de estar entre os últimos no quadro de medalhas. Jamaica foi o 13.° no quadro (6 medalhas de ouro. 3 de prata e 2 de bronze).
Apesar de ter sido o primeiro país no quadro de medalhas, a China (primeio em população e segundo em PIB) ficou em 13.° lugar na lista de países mais eficientes (também com 100 por cento), porque, de acordo com suas potencialidades econômicas, poderia ter conquistado mais medalhas.
Os anfitriões terminaram os Jogos Olímpicos com 100 medalhas (51 de ouro, 21 de prata e 28 de bronze), diante das 110 dos Estados Unidos (36 de ouro, 38 de prata e 36 de bronze), que foram os segundos no quadro de medalhas. Os Estados Unidos são o país de maior PIB mundial e o terceiro em número de habitantes.
Segundo o IPEA, o objetivo do estudo não é explicar as razões do rendimento medíocre do Brasil nos Jogos Olímpicos, mas sim de refletir esse mal desempenho.
A conlusão é que o desempenho esportivo não depende da potencialidade econômica de um país e que pode ser prejudicado por problemas como a má infraestrutura desportiva ou deficiências na formação dos atletas.
“Obviamente, qualquer comparação entre resultados deve ser realizada e encarada com grandes preucauções”, esclarecem os autores do estudo.