Crise econômica afeta mais as mulheres, atesta pesquisa
Até o momento, a crise econômica mundial causou mais desemprego para a população masculina que para a feminina no Brasil, de acordo com pesquisa do Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea). “No entanto, isso não tem significado vantagens para as mulheres”
Publicado 04/06/2009 14:23
Autora do requerimento para realização do debate sobre o trabalho da mulher no Brasil, a deputada Alice Portugal (PCdoB-BA) defende que o Brasil tem de adotar ''políticas afirmativas'' para mulheres chefes de família. ''Nesse primeiro momento são os homens que sofrem mais. Mas, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), as mulheres são as que mais vão sentir'', afirmou.
Segundo ela, o País poderia adotar medidas de proteção do emprego para a mulher trabalhadora ou estender o período de recebimento do seguro-desemprego para essa população, por exemplo.
A deputada também sugeriu que os movimentos organizados pressionem o Congresso pela aprovação da lei que garante aposentadoria para empregadas domésticas. E defendeu a criação de uma contribuição especial para mulheres que trabalham apenas em casa. ''Muitas vezes, quando o casamento acaba, essas mulheres ficam sem nenhuma proteção'', sustentou.
Relator da comissão, o deputado Vicentinho (PT-SP) afirmou que pretende levar seu texto a votação até o dia 10. E, segundo o parlamentar, ''o trabalho não seria completo sem a participação das mulheres.”
Menor remuneração
A redução de vagas na indústria de transformação e na construção civil, que tradicionalmente empregam mais homens, e a menor remuneração das mulheres são possíveis razões para esse cenário, segundo apontou Natália Fontoura.
Dos 585.912 postos de trabalho perdidos de outubro do ano passado a abril deste ano no País, somente 5.273 (0,9%) eram ocupados por mulheres. Segundo a especialista, em alguns setores ocorreu, inclusive, substituição de homens por mulheres. É o caso da construção civil, que demitiu 63.082 empregados, enquanto empregou 3.745 trabalhadoras.
Na opinião de Natália Fontoura, a menor remuneração das mulheres pode ser um dos fatores que explicam a substituição de homens por mulheres no mercado de trabalho.
Avaliação semelhante tem a presidente do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher (Neim) da Universidade da Bahia, Cecília Sardenberg. Ela destacou que, muitas vezes, a mulher é incorporada ao mercado porque vai ganhar menos que o homem que desempenhava a mesma função. Cecília afirmou ainda que os efeitos da crise não serão os mesmos para as mulheres, porque as condições são desiguais.
Sem vantagens
A pesquisadora destaca que a troca de homens por mulheres no mercado de trabalho não significa vantagens para elas. ''Ao contrário. Em crises anteriores as mulheres foram as mais afetadas, e nada impede que isso volte a ocorrer. Como mais mulheres tendem a buscar emprego nesse momento, pode haver desemprego ainda maior entre elas e a remuneração pode cair ainda mais'', destacou. Hoje, a taxa de desemprego feminino é da ordem de 54%, contra 26% do masculino.
Outras consequências possíveis da crise, segundo Natália Fontoura, são a intensificação do trabalho informal e o aumento da pobreza, que é maior em famílias chefiadas por mulheres. Com isso, ''pode haver regressão no cenário de aproximação entre os gêneros observados na última década''.
Com Agência Câmara