Fidel: Uma resposta ridícula à derrota na OEA
O ex-presidente cubano Fidel Castro qualificou, neste sábado, de “historinha” a detenção de dois americanos acusados de espionar para a ilha e a considerou uma “resposta ridícula” à decisão da Organização dos Estados Americanos (OEA) de levantar a susp
Publicado 08/06/2009 11:47
“Não parece bem ridícula a historinha da espionagem cubana?”, pergunta Castro em novo artigo divulgado pela imprensa oficial. Os Estados Unidos acusaram na sexta-feira (06) Walter Kendall Myers, ex-funcionário do Departamento de Estado, e sua esposa, Gwendolyn Myers, de espionar para Havana durante quase 30 anos. A informação divulgada em Washington acrescenta que os Myers se vangloriavam de ter tido um encontro com Fidel Castro em 1995.
O ex-líder cubano não nega a reunião, mas esclarece que se reuniu “com milhares de americanos por diversos motivos, individualmente ou em grupos, em algumas ocasiões com grupos de várias centenas deles”. “Nunca torturamos ninguém nem pagamos para obter informação alguma”, sustenta o ainda primeiro-secretário do governante Partido Comunista de Cuba.
“Os que de uma forma ou outra contribuíam para proteger a vida de cubanos frente a planos terroristas e aos projetos de assassinar seus dirigentes, dos vários programados por várias Administrações dos EUA, fizeram isso pelo imperativo de suas consciências e merecem, a meu julgamento, todas as honras”, acrescenta.
Para Fidel, o confronto com os Estados Unidos é ideológico, e nada tem a ver com a segurança do país. Segundo ele, “o curioso é que essa notícia vem à tona 24 horas depois da derrota sofrida pela diplomacia dos Estados Unidos na Assembleia Geral da OEA”.
Reunida em San Pedro Sula (Honduras), a OEA revogou na quarta-feira por consenso – incluindo com o apoio de Washington – a suspensão imposta a Cuba em 1962, quando Havana se inclinou pelo bloco soviético na Guerra Fria.
Fidel afirmou que “todo o enredo foi armado depois que (Barack) Obama tomou posse da Presidência dos Estados Unidos”. “Talvez tenha influído na detenção não só o tremendo golpe sofrido em San Pedro Sula, mas também as notícias de que estavam acontecendo contatos entre os Governos dos EUA e Cuba sobre assuntos importantes de interesse comum”, acrescenta o ex-presidente.
O líder cubano se refere às ofertas de Obama, aceitas por Cuba, para retomar as negociações bilaterais sobre migração.
Fidel também reproduz notícias sobre torturas e arsenal bélico relacionadas aos Estados Unidos e questiona: “Por acaso esse imenso e sofisticado arsenal colocado à disposição do mercado não põe o mundo à beira do precipício? Não lhes parece a todos bem ridícula a historinha da espionagem cubana?”.
Confira o artigo completo:
Reflexões do companheiro Fidel
Resposta ridícula a uma derrota
Ontem à tarde, enquanto analisava detidamente o discurso de Obama na Universidade muçulmana do Cairo, chegaram notícias das agências com a estranha informação de que duas pessoas aposentadas com mais de 70 anos foram presas sob a acusação de terem espionado durante 30 anos para o governo de Cuba. A quase totalidade de importantes agências de notícias ocidentais, oito delas, divulgaram a notícia.
As pessoas acusadas são Walter Kendall Myers e a sua esposa Gwendolyn Steingraber Myers. Acrescenta-se que o primeiro trabalhou como especialista de assuntos europeus; que em 1995, há 14 anos, viajaram a Cuba, data em que foram recebidos por mim.
Durante esse tempo reuni-me com milhares de norte-americanos por diversos motivos, individualmente ou em grupos, em ocasiões com coletivos de várias centenas deles, como é o caso dos estudantes que viajavam a Cuba no cruzeiro Projeto Semestre no Mar, pelo que não poderia recordar pormenores de uma reunião com duas pessoas. Percebo agora por que George W. Bush proibiu aos estudantes do cruzeiro continuarem visitando Cuba; durante muitas horas conversavam comigo, apesar de que pertenciam a famílias da classe média alta.
A acusação especifica é de que o casal recebeu numerosas condecorações, mas, ao mesmo tempo, admite que nunca procurou dinheiro ou benefícios pessoais.
Por minha parte, posso assegurar que, como uma questão de princípios, jamais temos torturado a ninguém nem temos pagado para obter alguma informação. Aqueles que de alguma maneira ou de outra contribuíam para a proteção da vida de cidadãos cubanos, perante os planos terroristas e projetos de assassinar os seus dirigentes, dos numerosos programados por várias administrações dos Estados Unidos de América, o fizeram por imperativos das suas próprias consciências e merecem, ao meu juízo, todas as honras do mundo.
O curioso é que essa notícia é publicada 24 horas depois da derrota sofrida pela diplomacia dos Estados Unidos na Assembléia Geral da OEA.
É verdadeiramente estranho que, se essas pessoas estavam sob controle, devido a que agentes do FBI as enganaram, atuando como se fossem espiões cubanos? Por que não foram detidas antes e só o fazem neste momento?
Começará agora o jogo da aparente justiça contra duas pessoas trituradas de antemão moralmente com acusações que predeterminam a conduta do júri, que deve decidir se são culpados ou inocentes.
Com certeza não receberão o tratamento amável que deram aos terroristas recrutados pelo governo desse país para destruírem o avião da Cubana com todos os que viajavam nele e cometerem horrendos crimes contra o nosso povo, os quais, inclusive, violaram as leis dos Estados Unidos cometendo numerosos atos terroristas desprezíveis no seu próprio território.
Já desdobraram a campanha contra o casal. São apresentados como traidores que podem ser sancionados a 35 anos de cárcere, que terão de cumprir até terem mais de 100 anos. Os fiscais poderão instrumentar as suas habituais manobras procurando objetivos políticos.
Toda a confusão a provocaram depois do que Obama tomou posse da presidência dos Estados Unidos. Talvez tenha influído na apreensão não apenas o tremendo revés sofrido em San Pedro Sula, mas também as notícias de que estavam a acontecer contatos entre os governos dos Estados Unidos e Cuba sobre assuntos importantes de interesse comum.
Já uma notícia de ANSA informou que Walter Kendall Myers declarou que tratou de ser “muito prudente” na hora de apanhar e transmitir informes secretos para Cuba.
Outras publicações se referem a um diário ocupado a Gwendolyn. Se tudo isso fosse verdade, não deixaria de admirar a sua conduta desinteressada e valente com relação a Cuba. A luta com os Estados Unidos é ideológica e nada tem a ver com a segurança desse país.
Contudo, mesmo ontem, outras três notícias das agencias informavam sobre três temas que com certeza estão muito ligadas com a moral política e a segurança dos Estados Unidos:
A agência AFP: “Uma nova discussão surgiu na sexta-feira quando legisladores democratas acusaram os opositores republicanos de revelarem informação secreta sobre técnicas de tortura divulgada durante uma sessão a portas fechadas no Congresso.
“A representante de Illinois, Jan Schakowski, assinalou que ‘todo o mundo na comissão compreende o que implica uma audiência a portas fechadas’.
“Acrescentou num comunicado que é ‘irresponsável que membros dessa comissão saíssem do encontro confidencial antes de que esta terminasse e que fossem diretamente para onde estava a imprensa.”'
A agência AP: “Fiscais federais acusaram um homem de proferir ameaças contra o presidente Barack Obama, após, supostamente, ter dito a um empregado do banco de Utah que sua missão era matar o mandatário.
“Daniel James Murray teria comunicado as suas intenções a um empregado de uma caixa registadora num banco a 27 de Maio enquanto tirava 13.000 dólares de uma conta, publicou o diário local Salt Lake Tribune na quinta-feira no seu sítio de Internet.
“Não se sabe onde está o acusado. Um documento apresentado perante a justiça disse que Murray é de Nova Iorque e que esteve há pouco tempo em Califórnia, Utah, Georgia, Oklahoma e possivelmente em Texas.
“O Serviço Secreto diz que Murray tem pelos menos oito armas de fogo registadas, informou o diário.
“Malcolm Wiley, um porta-voz do Serviço Secreto e Washington, disse a The Associated Press que não faria comentários a respeito.”
A agência AFP: “Sensíveis tecnologias militares estadunidenses necessárias para fabricar armas nucleares podem ser facilmente adquiridas nos Estados Unidos e depois exportadas ilegalmente, advertiu a Controladoria do Congresso (GAO por suas siglas em inglês).
“Utilizando uma empresa em aparência e identidades falsas, o GAO comprou produtos sensíveis, como óculos infravermelhos usados pelas tropas (estadunidenses) no Iraque e no Afeganistão para identificar alvos noturnos, eletrodos para detonar armas nucleares, sensores electrônicos utilizados na fabricação de bombas artesanais e chips de mísseis teleguiados’, escreve a instituição num recente relatório.”
Por acaso esse imenso e sofisticado arsenal colocado à disposição do mercado não põe ao mundo à beira do precipício?
Não lhes parece a todos bem ridícula a historinha da espionagem cubana?
Fidel Castro Ruz
Junho 6 de 2009