Khamenei, em pronunciamento, pede calma aos iranianos
O aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã apoiou, nesta sexta-feira (19), a legalidade do resultado das eleições presidenciais do país e advertiu que os protestos de rua devem parar. “Ações estão sendo feitas nas ruas para pressionar os líderes, mas
Publicado 19/06/2009 21:44
“Se houver qualquer derramamento de sangue, líderes dos protestos serão diretamente responsabilizados”, declarou Khamenei, em seu primeiro pronunciamento à nação desde que as manifestações começaram. “O resultado da eleição vem das urnas, não das ruas”, afirmou, em relação à enorme multidão que lotava a Universidade de Teerã e ruas adjacentes para as orações de sexta-feira.
Ele afirmou que qualquer dúvida concernente à reeleição de Mahmoud Ahmadinejad como presidente deverá ser investigadas pelos canais legais. Se os apoiadores dos candidatos derrotados falharem em parar os protestos, “serão responsabilizados pelas suas consequências, e pelas consequências de qualquer caos”, advertiu.
O discurso foi uma rara aparição pública de Ali Khamenei, que normalmente só discursa em público no fim do Ramadan e no aniversário da Revolução Iraniana, que levou a teocracia ao poder.
“Não vou sucumbir à inovação ilegal”, disse ele, em aparente referência aos protestos de rua, que têm poucos precedentes nos 30 anos de história da República Islâmica.
O candidato oposicionista Mirhossein Mousavi pediu a anulação do resultado da eleição, que apontou Ahmadinejad como vencedor com quase 63% dos votos enquanto Mousavi, o concorrente mais próximo, teve 34%.
O principal órgão legislativo iraniano, o Conselho dos Guardiões, está analisando as reclamações apresentadas pelos três candidatos perdedores, mas afirmou que somente serão recontados os votos das urnas contestadas.
“É uma impressão errada pensar que, usando protestos de rua como forma de pressão, eles vão convencer as autoridades a aceitar suas exigências ilegais. Esse seria o início de uma ditadura”, disse Khamenei.
O aiatolá afirmou que os inimigos do Irã — país que é o quinto maior exportador de petróleo do mundo — estão atacando a legitimidade do governo do país por meio da contestação do resultado da eleição.
Ele atacou o que chamou de interferência de potências estrangeiras que questionaram o resultado da eleição.
“Comentários de autoridades americanas sobre direitos humanos e limitações às pessoas não são aceitáveis porque eles não têm nenhuma ideia sobre direitos humanos depois do que fizeram no Afeganistão e Iraque e outras partes do mundo. Não precisamos de conselhos deles sobre direitos humanos”, disse.
O discurso de Khamenei se seguiu a seis dias de protestos dos partidários de Mousavi. Na quinta-feira, dezenas de milhares deles marcharam usando vestimentas pretas e carregando velas para lembrar os sete mortos nas primeiras manifestações contra o resultado da eleição.
Farzad Agha, um analista político iraniano, disse à rede catariana de notícias, al-Jazira, que o discurso “é uma ameaça aos manifestantes e simpatizantes dos candidatos da oposição… Ele está dizendo que, 'se continuarem isso, vão ver conosco'”
Robert Fisk, correspondente do britânico The Independent, disse que a mensagem de Khamenei aos manifestantes parece ser um “agora basta!”.
“Ele, de forma clara, disse que quer que o obedeçam e voltem para casa”, disse Fisk.
Embora alguns manifestantes tenham dito que há uma manifestação planejada para segur da praça da Revolução para a praça da Liberdade, em Teerã, para este sábado, Mir Hossein Mousavi disse que não há nenhuma manifestação programada para os próximos dias.
“Mousavi não tem planos de apoiar uma manifestação amanhã ou no dia seguinte e, se ele decidir fazer uma manifestação, essa decisão será anunciada em seu site na internet”, afirmou um anônimo aliado à agência de notícias Reuters.