PWW: Banqueiros socavam as regulações de Obama
“As propostas de Obama são moderadas” mas Wall Street está decidida a impedi-las ou adulterá-las. É o que escreve Tim Wheeler, no People's Weekly World (ou PWW, o semanário do PC dos EUA), sobre a reação dos banqueiros ao plano
Publicado 19/06/2009 22:51
Ainda nem secou a tinta do plano do presidente Obama para proteger os consumidores dos predadores financeiros, endurecendo a regulação de Wall Street, e os banqueiros já estão cavando para impedir qualquer mudança real.
Edward Yingling, diretor executivo da Associação Americana dos Banqueriros, queixou-se de que o plano de Obama para uma nova Agência de Proteção Financeira do Consumidor (CFPA, na sigla em inglês) pode “ir muito além da proteção dos consumidores”. A banca, advertiu ele, lutará para impedi-lo ou adulterá-lo .
Ele qualificou a proposta de Obama de “tão ampla e polêmica que vai ser extremamente difícil de adotar e criará grande incerteza nos mercados financeiros”, como se a falência de milhões de proprietários de residências e o colapso da GM não fossem “incerteza”.
O plano de Obama encarregou o Federal Reserve [banco central dos EUA], a Comissão de Títulos e Câmbio [Securities and Exchange Commission, ou SEC] e outras agências reguladoras, de supervisionar o mercado financeiro, aumentando seus poderes de coação. Mas Yingling disse, falsamente, que Obama “estraçalhou desnecessariamente todas as agências já existentes.”
Ernest Patrikis, ex-advogado-chefe da AIG [megasseguradora americana], reclamou que a intenção de Obama, de requerer maiores ìndices de capitalização requisitos das instituições financeiras consideradas “grandes demais para quebrar”, acarretará um corte nos lucros.
“Normas de capital mais severas serão realmente um problema”, ele advertiu. “Tudo isso se torna um fator de custo”. E isso veio de um falcão que jogou no mercado com o dinheiro da folha de pagamentos da AIG, empurrou o gigante dos seguros para a insolvência e está custando aos contrinuintes US$ 175 bilhões a título de socorro.
A Associação de Fundos de Hedge [“fundos de Cobertura”, papéis de alto risco e até hoje não regulados] reclama da exigência de Obama de que todos os fundos de hedge sejam registrados na SEC é ” pesada demais” e “pode ter um impacto negativo sobre a indústria dos fundos de hedge e a economia do país”.
Críticos observaram que a rápida exibição de polegares para baixo por parte do lobby dos bancos mostra como Wall Street carece de qualquer sentido de responsabilidade pela catástrofe que infligiu à nação e ao mundo com sua ganância desenfreada e suas práticas predatórias galopantes. Para eles seria o caso de ir em frente a toda velocidade, e danem-se os torpedos.
E isso quando as propostas de Obama são moderadas, como diriam alguns, criticamente. Dean Baker, co-diretor do do Centro de Pesquisas de Política Econômica, autor de do livro Pilhagem e erro: A Ascensão e Queda da Economia da Bolha, disse que o maior problema com o plano de Obama é que ele culpa a falta de poderes reguladores adequados pela crise. Não, afirma Baker, o Fed havia tinha poderes de coação em abundância, mas “optou por não usar seu poder para reinar sobre a bolha imobiliária”.
Ele cita argumentos da página 88 do Livro Branco lançado pela Casa Branca. Este documento, acusa, “foi amplamente trabalhado para esconder a centralidade da bolha habitacional na crise”.
Mesmo se não houvesse empréstimos subprime e de operações swap [permutas de risco], “a bolha da habitação já tinha crescido para US$ 8 trilhões, e nós estaríamos exatamente na mesma situação econômica em que estamos hoje”, argumentou Baker.
“A construção de residências teria desmoronado devido a um enorme excedente no mercado imobiliário e o consumo teria afundado devido à perda de US$ 8 trilhões de hipotecas imobiliárias”, disse Baker. “O cenário fundamental é muito simples: uma bolha que explodiu e levou a um afundamento”.
Baker aponta aqui fatores bem mais profundos que a desregulação para explicar o colapso. Ele não especula no artigo postado no site Truthout (http://www.truthout.org). São fatores bem conhecidos.
O “excedente” no caso da venda de imóveis é um caso do que Karl Marx chamou “superprodução”, um enorme acúmulo de mercadorias que o povo trabalhador não tem dinheiro para comprar. É o fruto de décadas de desindustrialização, do colapso das manufaturas e da exportação de milhões de empregos para o estrangeiro, rebentando com os sindicatos e rebaixando continuadamente os salários reais dos trabalhadores.
Por algum tempo, a economia manteve-se às custas do crédito – muitas vezes cobrando ruinosas taxas de juros – até que o balão das dívidas do consumidor finalmente explodiu. A implicação disso é que o restabelecimento da regulação deve ser acompanhado de políticas que proporcionem emprego com um certo nível de renda. É um dos motivos que levaram o movimento sindical a saudar a agenda Obama de “empregos bons e verdes”. É também por isso que os sindicatos estão pressionando pela promulgação da Lei de Livre Escolha do Trabalhador [Employee Free Choice Act, Efca], fortemente apoiados por Obama, para tornar mais fácil a adesão dos trabalhadores aos sindicatos e negociar melhores salários e benefícios.
Tom McMahon, diretor em exercício da Americanos Unidos pela Mudança [Americans United for Change], uma das 200 organizações filiadas à rede Americanos pela Reforma Financeira, saudou as propostas do Obama como “as mais abrangentes mudanças em uma geração.”
Durante muito tempo, acrescentou, “deixamos Wall Street escrever as suas próprias regras, jogando com o nosso dinheiro. São as nossas casas, os nossos fundos de aposentadoria, os colégios dos nossos filhos que foram atingidos porque ninguém estava monitorando os grandes bancos. O presidente Obama quer colocar alguém do nosso lado, olhando pelos nossos interesses. Precisamos de um sistema que proteja os nossos bolsos, enquanto coloca a economia de volta em bases fortes e sólidas.”
Fonte: http://www.pww.org