Eleição argentina lembra 2º turno brasileiro em 2006
A polêmica sobre as privatizações neoliberais, que ajudou Lula a tratorar Geraldo Alckmin em 2006 no Brasil, entrou com força na reta final da campanha para as eleições parlamentares deste domingo (28) na Argentina. Ela ajuda o casal Kirchner – a presiden
Publicado 27/06/2009 17:48
Os argentinos renovarão a metade dos deputados federais e um terço dos senadores. A oposição conservadora, derrotada nas eleições de 2007, que Cristina ganhou no primeiro turno, está hoje na contra-ofensiva. A campanha polarizou-se fortemente, no que é considerado uma prévia da sucessão presidencial de 2011.
Três fatores pró-oposição
A contra-ofensiva conservadora tem três fortes impulsionadores. Um é a crise econômica, que pôs fim a seis anos de crescimento acelerado do PIB argentino chegando a 8% anuais. Outro foi o surgimento de um movimento ruralista de oposição, onde os ricos estancieiros conseguiram arrastar atrás de si a massa de pequenos e médios agricultores. E por fim houve a divisão no partido dos Kirchner, o Justicialista (peronista).
O principal desafiante do kirchnerismo é um dissidente justicialista, Francisco de Narvaez. O 'Colorado', como é conhecido, devido aos cabelos ruivos, nasceu na Colômbia e hergou uma grande cadeia de supermercados, que trocou pos outros negócios – inclusive uma poderosa rede midiática e, segundo acusam seus adversários, relações com o narcotráfico.
Portanto, não lhe faltaram fundos de campanha. Segundo a imprensa argentina, Narvaez gastou nela US$ 15 milhões, três vezes mais que o total autorizado pela lei.
Os amigos de Carlos Menem
Sentindo o perigo, os Kirchner reagiram radicalizando. Passaram a se apoiar crescentemente no movimento sindical, muito ativo no país, e nos chamamentos aos “descamisados”, a base da pirâmide social argentina, assim chamada pela ex-primeira-dama Evita Perón (1919-1952), ícone da ala esquerda do peronismo.
Porém a tônica do encerramento da campanha, que pode – ou não – ter contido a contra-ofensiva conservadora, é a menção à linha neoliberal que o país seguiu nos anos 90, durante a presidência de Carlos Menem, com suas desastrosas privatizações e as ''relações carnais'' com os Estados Unidos.
Após alguns anos de sucesso ilusório, essa linha levou à crise e em 2001 ao colapso do país. É o que a campanha do governo não cessou de recordar, especialmente na sua reta final, explorando os vínculos de seus adversários com o neoliberalismo. Não por acaso, Menem permanece até hoje como o nome mais rejeitado em toda pesquisa de opinião que se faz no país, alguém que ninguém quer em seu palanque – uma espécie de versão radicalizada do brasileiro Fernando Henrique Cardoso.
Lógica social das urnas
Quem se recorda da campanha presidencial brasileira de 2006, em especial os debates entre Lula e Alckmin no segundo turno, conhece esse filme. Assim como conhece a forte lógica social das urnas, com os ricos votando num lado e os pobres em outro.
Na Argentina isso pode beneficiar os Kirchner, como ajudou Lula no Brasil, já que os pobres são sempre mais numerosos. É o que mostram as pesquisas pré-eleitorais na decisiva Província de Buenos Aires, maior colégio eleitoral do país, que elegerá 35 das 127 cadeiras em disputa na Câmara.
Os institutos de pesquisa argentina também estão divididos e apresentando resultados díspares em Buenos Aires, desde quatro pontos de vantagem para o governo até dois para a oposição. Apontam, porém, o mesmo corte social nas intenções de voto. O chamado primeiro cordão da Grande Buenos Aires, mais abastado, pende para a oposição; o terceiro cordão, periférico e operário, é Kirchner.
A indefinição já é uma vantagem para o Kirchnerismo, que no início do mês parecia encurralado – tal como Lula no primeiro turno de 2006. Mas no dia 7, num seminário do PT-PCdoB em São Paulo, Patricio Echegaray, secretário-geral do Partido Comunista da Argentina, hoje aliado ao governo, já apontava uma mudança de ventos. Nos últimos dias ela se acentuou, mas não a ponto de se consolidar.
Caso a oposição do 'Colorado' vença no domingo, em especial na Província de Buenos Aires, não será a primeira vez que a onda antineoliberal latino-americana sofre um revés eleitoral. Em maio último, no Panamá, o conservador Ricardo Martinelli, por sinal outro milionário, elegeu-se na oposição ao nacionalista Martín Torrijos Espino.
Mas será um sinal amarelo, seja para o kirchnerismo, em 2011, seja para o conjunto do processo no continente, inclusive as eleições brasileiras de 2010. Por isso os demo-tucanos – com destaque para o ex-prefeito carioca Cesar Maia – estarão roendo as unhas amanhã, de olho na Argentina, torcendo pelo 'Colorado'.