EUA e Cuba elogiam encontro sobre migração
Naquela que foi a primeira reunião bilateral oficial em seis anos, representantes dos governos de Cuba e Estados Unidos iniciaram ontem uma conversa cara-a-cara, em Nova York, sobre acordo migratório. Os dois lados classificaram o encontro, que pode repre
Publicado 15/07/2009 10:00
A reunião renova o diálogo suspenso pelo governo de George W. Bush, em 2003, e cumpre de maneira inicial com as recentes expressões de vontade dos governos estadunidense e cubano para proceder até uma nova relação bilateral.
O acordo estabelecido por ambos os países em 1995 autorizou a repatriação de migrantes cubanos capturados no mar por autoridades norte-americanas, enquanto Cuba se comprometeu a não retaliar estes ao regressar.
Além disso, para promover a migração legal, os Estados Unidos aceitaram emitir 20 mil vistos anuais. Houve uma série de reuniões bilaterais para firmar o acordo, até que Bush, acusando que os cubanos não estariam cumprindo com sua parte, suspendeu esses encontros diplomáticos.
O governo Obama propôs, no final de maio, retomar as conversas sobre migração e Cuba anunciou dias depois que havia aceitado o convite. Ainda que o úncio tema sobre a mesa da reunião de ontem tenha sido a migração, o fato mais importante do encontro talvez tenha sido a simples mudança na dinâmica entre Havane e Washington, observaram analistas.
Segundo comunicado emitido pelo governo da ilha, “Cuba ratificou seu compromisso inequívoco com os acordos migratórios vigentes entre os países e apresentou à parte estadunidense uma proposta de novo acordo, com o objetivo de garantir uma migração legal, segura e ordenada entre os dois países e cooperar de forma mais efetivano enfrentamento do tráfico ilícito de pessoas”.
O chefe da delegação cubana, Dagoberto Rodriguez, vice-ministro de Relações Exteriores, declarou que “tivemos uma sessão de trabalho frutífera, que valida a utlidade do mecanismo dessas reuniões para tratar do ritmo dos acordos migratórios”. Ele agregou que “avançamos na identificação de áreas em que ambas as partes devemos trabalhar e cooperar”.
Os cubanos reiteraram que é difícil garantir uma migração legal e segura de seu país, enquanto existem leis e políticas estadunidenses que oferecem um tratamento diferenciado aos cubanos que chema de maneira ilegal a este país daqueles que são aplicados para quase todos os outros países (a chamada política de pés secos/pés molhados, pela qual qualquer cubano que pise em território estadunidense lhe é outorgada a permissão para permanecer no país de maniera legal).
A delegação cubana propôs realizar a próxima rodada de negociações em dezembro, em Havana.O grupo estadunidense, encabeçado pelo sub-secretário assistente de Estado, do escritório de assuntos do hemisfério ocidental, Craig Kelly, expressou sua preocupação de buscar mecanismos de transporte para assegurar o retorno de migrantes como também para confirmar seu “bem-estar”.
Além disso, se insistiu no ponto de que Cuba aceite a repatriação de migrantes que cometerem delitos nos Estados Unidos epor isso não podem receber a cidadania, segundo informou o Departamento de Estado.
Segundo os EUA, o diálogo mostra o desejo do país de trabalhar de forma construtiva com a ilha comunista. Os dois lados levantaram divergências antigas na reunião realizada em Nova York, mas disseram ter preparado o terreno para discussões futuras.
Ian Kelly, porta-voz do Departamento de Estado, destacou que as conversas sublinham “nosso interesse em promover discussões construtivas com o governo de Cuba para avançar os interesses estadunidenses sobre temas de mútua preocupação”.
Ele acrescentou que os EUA encara esses encontros como uma via para encontrar “resultados práticos e positivos que contribuam para a plena implementação de acordos e a segurança de nossos cidadãos”.
Não foi surpreendente que legisladores de origem cubana tenham expressado sua desaprovação à reunião, considerando o fato como uma “recompensa” ao regime de Raúl Castro, que teria fracassado no cumprimento de compromissos anteriores.
Apesar do que digam os republicanos e sobretudo so conservadores cubano-americanos, a retomada do canal de diálogo representa um giro nas relações entre os países.
Sarah Stephens, diretora executiva do Center os Democracy in the Americas e estudiosa da relação bilateral, caracterizouo retorno das conversas como algo “bem-vindo, já que os dois governos estão falando, porque a migração afeta a ambos e porque este pode ser um ponto de partida para discussões sobre drogas, meio ambiente e, finalmente, diplomacia e política”.
Para alguns, a iniciativa demonstra um passo até o que o presidente dos EUA, Barack Obama, havia indicado em declarações durante a Cúpula das Américas, em abril, quando afirmou que busca um “novo começo” com Cuba. Na ocasião, a secretária de Estado, Hillary Clinton havia qualificado a política anterior até Cuba como um “fracasso”. Tudo isso, depois de Obama ter anulado as restrições sobre viagens e remessas a Cuba.
Com La Jornada