Sávio Hackradt: discurso durante a XII Conferência do PCdoB-RN
Pré-candidato ao Senado pelo PCdoB-RN, Sávio Hackradt mostra que está preparado para enfrentar qualquer debate político. O discurso abaixo foi feito durante a XII Conferência Estadual do partido no último dia 2 de outubro:
Publicado 07/10/2009 16:40 | Editado 04/03/2020 17:08

É cada vez mais forte a presença e a importância do Brasil no cenário internacional. Hoje, não se pode mais falar sobre questões econômicas, questões políticas, questões ambientais, questões sociais sem que o Brasil não participe das discussões e decisões. É nesse cenário global que a sociedade brasileira – e, em particular, a sociedade potiguar -, está inserida.
O Brasil, depois de mais de 500 anos, conseguiu ser parte ativa e respeitada nesse grande jogo entre nações, envolvendo os mais variados interesses, que vão da paz à guerra. Deixamos de ser meros espectadores do jogo e passamos a ser atores de peso. Na hora em que o Brasil assume o seu papel de importância como protagonista mundial, os seus entes federativos, portanto, os vinte e sete estados, mais o Distrito Federal, passam, também, a ser participantes (coadjuvantes) desse processo de mudanças que está a pleno vapor.
O governo do presidente Lula promove uma revolução ao realizar a maior inclusão social da história do Brasil. São milhões de brasileiros e brasileiras que saíram da miséria e passaram a viver com condições mínimas de dignidade. O pós-governo do presidente Lula, precisa avançar nas conquistas sociais e econômicas que o povo alcançou. Para continuar avançando, o partido propõe um novo ciclo civilização, partindo da implantação de um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento.
Os avanços alcançados pela nação brasileira, na esteira das ações políticas e cívicas do governo Lula, contudo, não se refletem, via de regra, no exercício da vida representativa formal da política nacional. É chegada a hora de mudar também essa realidade. O cidadão brasileiro não pode mais continuar esquecido pelos seus representantes e ficar alheio a este processo de mudança que está em pleno curso. Todas as discussões e decisões que estão sendo tomadas neste momento no mundo são de interesse do cidadão de todos os recantos do país – como nós aqui, em Natal e em todas as cidades do Rio Grande do Norte.
Porquanto as decisões tomadas pelos principais países do mundo, entre eles o Brasil, nos afetam. Nos afetam no dia a dia, nas questões relativas ao meio ambiente, à saúde, à educação, ao transporte, à segurança, à cultura, ao lazer, ao trabalho. Hoje, não há decisão tomada pela cúpula dos principais países que não afete a nossa aldeia, o nosso bairro, a nossa rua, a nossa casa, a nossa família, os nossos amigos.
E nós temos que nos proteger. Não podemos ser meros espectadores. Temos que lutar para melhorar a nossa representação política, influenciando e forçando avanços e mudanças no poder legislativo – este, apesar de tudo, ainda é o poder mais democrático, mais aberto que o cidadão dispõe para travar as lutas do povo.
Infelizmente, o Congresso Nacional brasileiro está desmoralizado, contribuindo para promover, entre nós, cidadãos comuns, o descrédito na política. Jovens e/ou velhos, os cidadãos comuns distanciam-se da política, desacreditam de seus representantes. Os mais velhos cansaram de assistir à repetição das mesmas práticas, pelos mesmos eleitos de sempre, substituindo uns aos outros, numa sucessão de conchavos para repartirem entre si os cargos que usam como patrimônio para interesses pessoais. Os mais jovens padecem da completa falta de perspectiva. A causa republicana, há muitos anos foi jogada na lata do lixo da história pela elite política.
O povo do Rio Grande do Norte temos dado demonstrações, ao longo de nossa trajetória política, que somos uma comunidade capaz de enfrentar grandes desafios e de sermos vitoriosos em momentos de importância vital para a construção de uma sociedade livre e democrática. Senão, vejamos alguns exemplos:
Em 30 de setembro de 1883, no século dezenove, na cidade de Mossoró, o nosso povo festejou a libertação dos escravos, cinco anos antes da Lei Áurea; em 1927, no século vinte, o deputado federal Juvenal Lamartine de Faria lançou sua candidatura ao governo do Rio Grande do Norte, prometendo amplos direitos às mulheres para votarem e serem votadas. Em Mossoró, nesse mesmo ano, registrou-se o alistamento da primeira eleitora, Celina Guimarães.
No ano seguinte, apoiada por Juvenal Lamartine – que, antes de assumir o governo, garantiu as mudanças no Código Eleitoral do estado –, Alzira Soriano de Souza foi eleita prefeita de Lajes, tornando-se a primeira mulher a assumir uma prefeitura no Brasil. Em 1935, Maria do Céu Fernandes foi diplomada como a primeira deputada estadual eleita pelo voto popular no Rio Grande do Norte e no Brasil – as mulheres do Rio Grande do Norte mais uma vez deram um exemplo para o Brasil e ao mundo.
Em 1935, Natal rebelou-se e instalou o primeiro Governo Provisório Comunista, que durou apenas três dias, mas é fato fundamental na história das lutas e conquistas políticas brasileiras. Em 1950, na sucessão presidencial de Getúlio Vargas, o então candidato do Partido Comunista à presidência da República, Yêdo Fiúza, ganhou as eleições em Natal. Em 1960, Aluisio Alves comandou a maior mobilização popular da história política eleitoral do estado e venceu as eleições. O seu governo lançou as bases para o desenvolvimento do estado.
Também em 1960, Djalma Maranhão venceu as eleições em Natal e implantou um governo popular e democrático, dando uma grande ênfase à educação de base e cultura popular – até hoje, é referência no mundo o seu programa De pé no chão também se aprende a ler, baseado no método Paulo Freire de educação, festejado e copiado pelo mundo afora. Em 1964 a ditadura militar se instalou no Brasil e começou a cassar inúmeros potiguares. A esquerda foi perseguida brutalmente e muitos foram presos, torturados e desaparecidos. Mesmo sob as baionetas da ditadura, os potiguares articularam movimentos de resistência, dentro do velho MDB e de organizações políticas proscritas pela ditadura.
Em 1974, o povo potiguar deu uma resposta à ditadura, elegendo senador da república o marinheiro e feirante Agenor Maria, numa eleição memorável, que despertou a consciência cívica de todos os potiguares. Em 1986, respirando os primeiros ares da Nova República, dando os primeiros passos no novo ambiente democrático, o povo elegeu, nos ventos da mudança, Geraldo Melo, do PMDB, como seu governador. Em 1988, Natal elegeu a sua primeira prefeita, Wilma de Faria, hoje, nossa governadora, consolidando, assim, a força e a importância das mulheres no cenário político potiguar.
Em 1992, Natal deu outro grande exemplo dessa sua vocação para a mudança ao eleger Aldo Tinoco, então um cidadão comum fora das hostes políticas tradicionais, para prefeito da capital, tendo como vice Eveliny Guerra, do PCdoB, também um nome de fora do círculo tradicional. Era o povo, sem canga, livre, dando a sua resposta. Não pretendo aqui dar aula de história política. Mas, apenas relembrar a força que o povo potiguar tem na hora em que decide optar por grandes mudanças, ainda que em atos episódicos, mas extremamente significativos, como os que aqui agora me referi.
Por toda essa história de resistência, luta democrática e gestos de ousadia que levaram a mudanças, não podemos aceitar esse jogo de cartas marcadas que se repete há décadas na representatividade política do estado. Numa eleição, João está com Maria e com Pedro, contra Paulo e Francisco; na outra eleição, eles trocam de parceiros; na próxima, trocam de novo; e na outra trocam mais uma vez; e, assim, vão se revezando nas cadeiras do poder.
Hoje, são “amigos”; amanhã “adversários”; depois de amanhã, voltam a ser os melhores parceiros, e, assim, vão levando o projeto político deles – estes sim, sempre prioritários -, sem nunca levar em conta o projeto que interessa, de fato, à sociedade. A indignação contra esses fatos já está encravada no coração da sociedade potiguar. Não podemos sair daqui para casa e quando lá chegarmos deixar que o esquecimento tome conta de nós. Amanhã, temos que estar nos portões de nossas casas ou dentro delas, nos elevadores dos edifícios, no trânsito, no trabalho, na escola, no bar da esquina, no restaurante, na fila do cinema, nos ônibus, nos trens, nas estradas, nas ruas, enfim, em todos os lugares, indignados e prontos para exercer o bom combate contra essa pouca vergonha que tomou conta da cena política.
O PCdoB ressalta, aqui e agora, publicamente, o seu papel de agente da vanguarda política do Rio Grande do Norte, como, aliás, sempre o foi. Mais uma vez, queremos, podemos e seremos protagonistas. Nada menos do isso. Não duvidem os outros. Não vamos nos acanhar, ser tímidos. A história do partido no Rio Grande do Norte é de inegável contribuição para os avanços políticos no campo democrático e popular. A nossa história é de um partido defensor de alianças sem preconceitos, aberto, não exclusivista, pronto para colaborar com os melhores propósitos na política potiguar. Somos abertos ao diálogo. Mas, não tememos a ousadia.
O projeto do partido para o Rio Grande do Norte começa na sua postulação majoritária. Vamos assumir o nosso papel e atuar firme e com lealdade junto aos nossos parceiros. Não vamos atuar nesse momento histórico com a visão de gueto político. Não vamos tergiversar no projeto eleitoral do partido, seja no campo proporcional ou no campo majoritário. O coroamento da trajetória do partido no estado se dá neste momento, com a abertura do seu décimo segundo Congresso, que mobilizou nossa militância aguerrida em todo o estado. Portanto, estamos aqui, agora, fazendo a história, dizendo ao mundo o que queremos, com altivez, sem medo de assumirmos a responsabilidade com os destinos que a política nos reserva.
Há trinta e cinco anos acompanho o cenário político do Rio Grande do Norte. Ora como militante político, como no final da década de 1970 e início da década de 1980, ora como um profissional da comunicação e do marketing político e eleitoral. Nos últimos 25 anos, morei entre Brasília e São Paulo, porém, jamais mudei meu domicilio eleitoral de Natal e a cada dois anos venho aqui cumprir meu dever de cidadão e votar em vereadores, prefeitos, deputados estaduais e federais, senadores, governadores e presidentes da república.
Manter meu registro eleitoral em Natal, foi a maneira que encontrei de nunca esquecer a minha aldeia, mesmo tendo percorrido o mundo, como um viajante curioso em busca de novas experiências enriquecedoras para o prazer do meu conhecimento e d’minha alma.
Nesses anos, acompanhei muito de perto a atuação de nossos representantes no Congresso Nacional – Câmara e Senado. E me pergunto sempre: qual o papel dos nossos congressistas, em especial dos senadores? Quando não estão fazendo oposição tresloucada, são subservientes ao poderoso da república de plantão, ou omissos, apáticos, incapazes de elevar a voz a favor das grandes causas de interesse do povo. Atuam como meros despachantes, num vai-e-vem sem causa na esplanada dos Ministérios em Brasília, descolando uma emendinha aqui, outra acolá, do Orçamento da União.
E, como um “papai Noel bonzinho”, com o dinheiro do contribuinte, distribuem migalhas para o povo. Chega a ser deprimente e, efetivamente, isso está longe do um bom desempenho parlamentar, que de fato seja representativo de um povo.
Precisamos de um choque de modernidade no Senado. O que vemos hoje é uma casa legislativa muito mais preocupada com os interesses individuais, questões menores que pouco afetam de forma positiva a vida do cidadão. É nesse contexto que o Rio Grande do Norte e sua bancada de senadores também estão inseridos. Pouco se vê sobre o desempenho em favor da sociedade. As questões modernas e de interesse nacional e coletivo estão sempre em segundo, terceiro, quarto, quinto… planos.
A verdade é que, enquanto a sociedade brasileira se modernizou, os nossos representantes ainda continuam com as velhas práticas políticas. É um descompasso total. Tratam o cidadão e eleitor com se fossem parte de seus espólios, seus donos; privilegiam seus próprios anseios e necessidades, em detrimento do que de fato querem, precisam e anseiam os cidadãos. Fazem seus acordos de cúpula e, na hora da eleição, tentam empurrar goela abaixo o prato montado na noite anterior.
Prática velha e atrasada, em total desacordo, conflituoso, até, com o momento atual – de globalização e inserção mundial. O grave? Se dessa forma se colocam e dessa forma são eleitos, dessa forma vão se comportar. Essa prática política atrasada não será deverá mais ser tolerada pelo eleitor, cada vez mais consciente, mais informado, e cada vez mais exigente na escolha de seus representantes. Se a sociedade e o Brasil estão caminhando e se inserindo em um mundo mais globalizado, o Rio Grande do Norte não pode ficar de fora desse processo.
É preciso mudar. Dar um basta a este atraso. O Rio Grande do Norte não pode mais ficar preso a práticas coronelistas, que já em alguns estados não existe mais. Cargo público é do eleitor, não é propriedade do indivíduo eleito e/ou da sua família e apaniguados. Vamos construir nossas candidaturas de forma que as pessoas as entendam e confiem que se trata de candidaturas diferentes, que representamos a possibilidade real de mudar um circulo vicioso e viciado em que só há espaço para os grupos políticos tradicionais, familiares, ou para pessoas intimamente a eles ligados, cujo compromisso primeiro é com eles e não com a sociedade.
Vamos também colocar em discussão os temas que levarão o Rio Grande do Norte a se inserir no cenário nacional e – por que não? – no cenário internacional. Não podemos ser um estado acanhado, apequenado, com medo de ser grande e de participar como protagonista das grandes decisões. O povo cansou da “fulanização” entranhada na política do estado. Os que fazem a elite política são donos de partidos, só tratam de questões sobre quem vai apoiar quem, e quem é dono de mais votos. Como se o voto fosse propriedade deles e não do cidadão.
O Senado não pode ser entendido como uma clínica de repouso ou um prêmio de pretensa final de carreira para ninguém. Precisamos deixar claro: o Senado não é cadeira cativa de nenhum político. Se assim fosse, não precisava ter eleição, era só nomear senadores biônicos, com fez a ditadura. Essa história de que o Senado é a casa dos ex-governadores, foram eles que inventaram para se perpetuar por lá. Agora, de forma vexatória e dolorosa, a nação descobre que esses personagens tão “experientes” não cuidam bem da causa pública brasileira. A desmoralização da representação política no Senado é generalizada. 99,9% dos senadores sabiam do que acontecia nos bastidores do Senado.
Acredito numa grande renovação no Senado, assim como houve em 1974, quando o povo, debaixo do chicote e das baionetas da ditadura militar, mudou o Senado pelo voto. Por que, então, não mudar esse Senado desmoralizado, no ano que vem, em plena democracia, e liquidarmos esse período triste, não republicano, comandado pelos atuais senadores? Alem disso, vamos ampliar a representação na Câmara dos Deputados, elegendo pelo menos mais um deputado federal comprometido com as causas populares.
O mundo está mudando, o Brasil também, e o Rio Grande do Norte precisa atuar com ainda mais força nesse movimento, contribuindo decisiva e qualitativamente para acabar com o clientelismo e liquidar a execrável, mas infelizmente recorrente, prática de confundir o público com o privado na política.
Por fim, façamos com nossos votos o que precisa ser feito: a mudança. Vamos votar em pessoas com projetos comprometidos com a real transformação do nosso mundo, do nosso meio, da nossa aldeia, e não em nomes arraigados no clientelismo e nos projetos políticos que são individualistas ou, no máximo, benfeitores de si próprios ou dos seus restritos grupos, todos há muito encastelados no poder. A hora é de renovar. E renovar com qualidade, de olho no compromisso público dos que se candidatam.
Peço licença a todos vocês, neste instante para ilustrar e dar veemência ao que penso sobre o nosso poder como cidadão, e ao poder transformador, libertador que credito o nosso voto, para citar um dos maiores poetas da língua portuguesa, Fernando Pessoa, aqui falando através de seu alter ego Alberto Caieiro:
Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo…
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não, do tamanho da minha altura…
Sejamos, pois, construtores e donos dos nosso destinos. Sejamos grandes. Sejamos visionários. E, com o nosso voto, a nossa vontade de transformar, de renovar, façamos deste nosso Rio Grande do Norte uma referência nacional na arte da política, do exercício da cidadania. Da nossa aldeia, pois, vejamos o mundo. E nele assumamos um papel de relevância.
A luta está apenas começando!
Muito obrigado.
Sávio Hackradt