A pequenina e pacata cidade de Porto Franco dos anos 60 foi morada de cinco integrantes do PCdoB, que aqui se estabeleceram no período de julho de 1967 a dezembro de 1968 e solidificaram uma grande amizade com toda a população portofranquina.
Publicado 13/10/2009 16:39 | Editado 13/12/2019 03:29
O Seu Mario (Mauricio Grabois), que viria ser o Comandante Supremo da Guerrilha do Araguaia e que já tinha sido eleito deputado federal constituinte pelo estado de S.Paulo, domiciliou-se à Rua Rio Branco nº 152, próximo à beira rio, chegando a agosto de 1967, juntamente com o seu filho André Grabois (Zé Carlos) e seu genro Gilberto Olimpio Maria (Gilberto). Elza Monerat (Dona Lucia) chegou em setembro do mesmo ano e participava ativamente das reuniões de senhoras da cidade e passou a residir no mesmo endereço por quatro meses. O Dr. João Carlos Haas Sobrinho, já havia desembarcado em 12 de julho e alugou uma casa na mesma rua, defronte ao numero 152, onde ali instalou o seu pequeno e modesto consultório médico, onde passou a atender toda a população local e de toda a região.
Seu Mario, um senhor de quase 60 anos, cabelos grisalhos, fala mansa e muito reservado, nunca era visto nas festas e eventos sociais da cidade. Ficava o tempo todo lendo e escrevendo em sua mesinha do quarto dos fundos da casa e divertia-se cortando os nossos cabelos e contando historias por horas a fio. Todas as semanas viajava com o filho e o genro, na Pick-up azul para vender utensílios domésticos de alumínio e confecções, nas cidades de Estreito, Wanderlandia e Tocantinópolis. Zé Carlos e Gilberto foram os nossos parceiros nos jogos de futebol e fazíamos muitas viagens em carroceria de caminhões, para enfrentar os times das cidades vizinhas.
Naquela época, as luzes da cidade, apagavam-se às 10 horas da noite. Quando estava na cidade, Seu Mario ficava conversando na calçada com os vizinhos e ouvindo o seu radio até altas horas da noite. Nos períodos das provas escolares, ele então passava a nos ensinar vários pontos das matérias mais difíceis e com muita paciência, aconselhava-nos para a vida da maioridade que se aproximava. Falava-nos de um Brasil que poderia ser muito melhor e que todos nós, apesar de filhos de uma pequenina cidade do interior do Maranhão, poderíamos ser grandes homens, desde que nos interessássemos pelos estudos e tivéssemos amor pelo país. Relatava-nos historias de homens do interior de outros paises que tinham se transformados em grande lideres mundiais. Era um homem muito culto e sabia de tudo que estava acontecendo ao redor do mundo.
Após a deflagração do conflito do Araguaia, soubemos com muito pesar, do triste fim de Seu Mario e seus familiares. Ainda hoje, guardo com carinho, a camisa de malha vermelha de mangas compridas que ele me presenteou quando completei 17 anos.
Vaner Marinho
Secretário de Cultura de Porto Franco – MA