Tapetão: justiça eleitoral quer cassar Tiririca por analfabetismo

A Justiça Eleitoral de São Paulo aceitou ontem denúncia contra o agora deputado federal eleito Tiririca, do PR, para averiguar seu suposto analfabetismo (condição de inelegibilidade). O humorista foi o mais votado da coligação Pro Brasil Seguir Mudando com 1,3 milhão de votos.

O humorista vem sendo alvo da justiça eleitoral paulista desde o início da campanha e o ponto alto foi a “denúncia” da revista de ultradireita Época (edição de 20 de setembro).

Inicialmente a justiça questionou sua declaração de bens. Agora o problema é a suposta falta de traquejo com as letras. Na verdade, o grande problema está na origem de classe do comediante e, mais ainda, na coligação de Tiririca.

Candidato pelo PR, partido que integrou a coligação da base governista para a Câmara dos Deputados, Tiririca se mostrou um grande “puxador” de votos para a chapa, o que fortalecerá ainda mais a já vitoriosa bancada dilmista.

Prova disto é que não se vê o mesmo empenho da justiça paulista (historicamente elitista) em averiguar a denúncia, comprovada em vídeo (!), de compra de votos pela tucana Bruna Furlan, primeira da coligação Demo-tucana com 270.000 votos à mesma Câmara Federal.

Ainda que Tiririca seja, de fato, analfabeto, aprender a ler e escrever não é nenhum bicho de sete cabeças. Nada o impede de fazê-lo para cumprir com as atribuições de um deputado. Ademais, pelo padrão educacional de SP já podia estar no ensino médio. Ou seja, o Estado não pode impedir um cidadão de exercer um cargo público alegando que não possui algo que o mesmo Estado deveria ter garantido e não o fez.

Mas ainda que Tiririca prova que sabe ler e escrever, encontrarão outro impeditivo e depois outro para que ele não assuma a vaga na Câmara. Novamente, o problema não está no alegado analfabetismo, mas na coligação. Esta é mais uma das inúmeras demonstrações da partidarização do judiciário paulista.

Cabe aos setores democráticos se mobilizarem para impedir o tapetão da Justiça Eleitoral, independetemente de concordar ou não com a eleição do comediante e independentemente da motivação: 1,3 milhão de cidadãos votaram em Tiririca, e seus votos devem ser respeitados. Do contrário, se não for o voto popular, quem estabelecerá os critérios de quem é bom para a Câmara e quem não é? O TRE-SP?

Da redação, Mariana de Rossi Venturini.