Intervenção e desrespeito são ações calculadas contra Síria
A embaixada da Síria no Brasil divulgou nesta quinta-feira (2) uma nota sobre a atual situação política síria e a pressão que Estados Unidos e União Europeia fazem contra a nação árabe, com o objetivo de desestabilizar o país.
Publicado 02/06/2011 19:59
As sanções recentemente adotadas por Estados Unidos e seus aliados configuram-se como um "apoio velado à violência e ao vandalismo" que assola o país no momento, revelando mais uma vez a "mentalidade colonialista destes países, que sacrificam a estabilidade e a paz dos outros em função de seus interesses", diz a nota.
Leia abaixo a íntegra da nota, divulgada nesta quinta-feira pela embaixada síria no Brasil:
As sanções adotadas pelos Estados Unidos da América, em 29 de abril e da União Européia, em 23 de maio contra a Síria constituem uma intervenção nos assuntos internos da Síria e um desrespeito à soberania do país.
Além disso, estas posições, incentivadas principalmente pelo Reino Unido e pela França sob a liderança dos Estados Unidos da América, configuram um apoio velado à violência e ao vandalismo e confirmam, mais uma vez, a mentalidade colonialista destes países, que sacrificam a estabilidade e a paz dos outros países em função de seus interesses e posicionam-se como um empecilho à todas as tentativas do Governo do Presidente Bashar Al Assad de solucionar a atual crise.
Se estes países estivessem realmente interessados na solução da crise na Síria, eles interviriam de forma positiva, de modo a colaborar para o fim do caos e da violência no país e não bloqueando os bens do governo e dificultando as ações em prol de uma solução pacífica.
Quanto ao embasamento destas sanções na legalidade internacional, conforme alegado por estes países, não existe base legal para as sanções. Na verdade, são ações arbitrárias que seguem a lei do mais forte.
São ações calculadas, em dólar ou em euro, dado que se destrói a infra-estrutura dos países que sofrem intervenções, para que, em seguida, as empresas americanas ou européias ou ambas lucrem com a dita reconstrução destes países, em troca de petróleo e outros recursos, além de manterem a presença e o controle sobre eles por muitos e muitos anos, ou seja, a manutenção da velha mentalidade colonialista.
Quanto à alegação de violação de direitos humanos, estes países, mais uma vez, usam a política de dois pesos e duas medidas, pois acusam o Governo da Síria de violar os direitos humanos, enquanto apóiam a barbárie israelense contra palestinos e sírios que vivem sob a ocupação israelense nos territórios ocupados. Mais uma prova clara das manobras lideradas pelos Estados Unidos da América para desestabilizar a Síria e fragilizá-la política e economicamente, para se tornar um alvo fácil diante das manobras expansionistas de Israel.
Desdobramentos da Crise:
Apesar de toda a campanha negativa promovida pelos meios de comunicação, em nível internacional, a veracidade das informações divulgadas tem sido questionada até entre estes meios.
Quanto à verdade dos fatos, o Governo da Síria tem se empenhado numa ampla mobilização em prol da manutenção da segurança e da estabilidade do país, tem promovido ações que visam o atendimento das reivindicações da população síria, além de dar fim ao estado de emergência no país.
Estas medidas, que serão relatadas a seguir, deveriam conter os ânimos, já que a maior parte das reivindicações foi atendida, mas não foi o que aconteceu. As forças de segurança da Síria logo perceberam que não se tratava de manifestações pacíficas, promovidas por civis, e sim manifestações incitadas por agentes infiltrados e armados que se aproveitaram da boa fé da população civil para instaurar o caos e a desordem no país. Fato que comprova esta constatação é que as manifestações começaram pela Província de Deraa, no extremo sul da Síria, e não na capital Damasco, como costumam ocorrer estes grandes movimentos que anseiam por mudanças.
Estes agentes infiltrados e que durante muito tempo contrabandearam armas através da fronteira sul do país, incitam uma população desarmada e destreinada e a colocam na linha de frente, durante os embates com o exército e as forças de segurança, para que sejam usados como escudos humanos, enquanto os verdadeiros autores deste caos mantêm-se por trás das cortinas, comandando uma campanha de desestabilização da Síria, de forma vil e cruel, sem levar em consideração as muitas vidas que tem se perdido neste embate.
O Governo da Síria tem promovido esforços junto à população para esclarecer os fatos e para preveni-la contra este tipo de agentes que tem como objetivo destruir um governo que sempre lutou pelos direitos de sua população, que sempre zelou pela segurança de seus cidadãos, que sempre buscou promover reformas e melhorias que visam o desenvolvimento social e econômico do país, garantindo à população Síria todos os benefícios a que o cidadão tem direito para viver com dignidade. Não obstante, o Governo promoveu uma reforma em seu Gabinete Ministerial, atendendo a mais uma reivindicação feita por manifestantes pacíficos e colocou o seu novo Governo à disposição do povo, para ouvir suas reivindicações e trabalhar em função de promover todas as melhorias necessárias, além de traçar novas metas para que o país mantenha-se em harmonia com os tempos modernos.
Mas apesar de toda a vontade política e de todas as ações adotadas até o presente momento, os atos de matança e vandalismo continuam se espalhando pelo país e o caos continua instalado, fato que deixa as autoridades perplexas e torna mais difícil a tarefa de extirpar este câncer que se instalou entre a população civil. Os meios de comunicação divulgam o número de mortos no país, porém não esclarece que grande parte destas vítimas são soldados do exército e das forças de segurança, ou seja, cidadãos sírios, pais de família e que estão ali trabalhando pela segurança de seu povo. Também não divulgam todas as ações positivas do governo e definem as medidas de segurança como medidas de repressão.
Mesmo com todos estes acontecimentos, o Governo e as forças de segurança da Síria tem procurado ver estas manifestações, pacíficas ou não, pela ótica do discernimento e da diferenciação entre atos pacíficos e atos de vandalismo. O Governo da Síria reconheceu, no primeiro momento, a legitimidade das reivindicações da população civil e tratou de atende-las, enviando autoridades governamentais para conversar com autoridades locais das províncias e levando ao Governo todos os pleitos, para que sejam analisados e atendidos.
Seguem as medidas adotadas pelo Governo do Presidente Bashar Al Assad, em atendimento às reivindicações da população síria:
– O Governo da Síria chegou ao mais alto grau de contenção ao lidar com os atos de violência ocorridos no país, ao longo das últimas semanas, como forma de evitar que civis inocentes fossem mortos, mas elementos criminosos e armados, que se infiltraram entre os manifestantes, seguiram matando inocentes e a atacando as sedes do governo e prédios públicos.
– O Governo da Síria adotou várias medidas para atender às reivindicações da população, dentre às quais, o fim do estado de emergência e o fim da Corte de Segurança do país, além de sancionar o novo decreto que prevê manifestações pacíficas, pela primeira vez na história do país. Mas, ao contrário do esperado, estes elementos, ao invés de retrocederem em suas manifestações, incitaram-nas mais ainda, além de criar um alvoroço na imprensa contra a Síria, jamais visto na região.
– Esta campanha contra a Síria coincidiu com a descoberta de informações que confirmam a existência de membros pertencentes à partes oficiais externas que financiam e incitam atos de destruição que tem na mira o povo e o governo da Síria. No ímpeto de defender a Síria e seus limites territoriais, as autoridades prenderam vários carregamentos de armas contrabandeados para o país, que tinham como objetivo estremecer a estabilidade e a segurança da Síria. Foi provado que estas armas foram enviadas por grupos religiosos extremistas para os seus agentes infiltrados no país, para matar os inocentes e para incendiar os prédios públicos e privados, de forma a instaurar o caos na Síria. E é natural que o governo agisse, imediatamente, para defender seus cidadãos que gozavam de estabilidade e segurança.
– Os órgãos de segurança localizaram em Deraa uma grande quantidade de armas avançadas e prendeu um grande número de membros de grupos extremistas.
– A Síria não tem necessidade de discutir sua situação interna no âmbito do Conselho de Segurança, porque está agido de forma a garantir e manter a segurança e a estabilidade de seus cidadãos e defende-los dos riscos de incitações e provocações.
– As autoridades sírias estranharam o empenho de alguns países membros do Conselho de Segurança em incluir um assunto interno da Síria na pauta de debates sobre a situação no Oriente Médio, pauta esta na qual está inserido o processo palestino, que configura a base dos debates sobre as negociações de paz árabes e israelenses e o estabelecimento do Estado Palestino conforme as referências internacionais conhecidas, e questionou o motivo da ausência desta empolgação durante décadas para acabar com a ocupação israelense das terras árabes ocupadas, desde junho de 1967. Mas para os sírios, a resposta está clara: É a política de um peso e duas medidas.
– É impossível considerar todas as manifestações como pacíficas, porque se assim o fossem, não teriam resultado neste número de vítimas que incluíram membros do exército e da segurança e civis inocentes".
Mensagem do Embaixador:
O que a Síria está buscando, neste momento, é tempo. O tempo necessário para devolver ao país o clima de tranqüilidade e segurança. Tempo para que as reformas adotadas comecem a gerar seus frutos.
A Síria considera que a imposição de sanções ao governo e seus membros não contribuirá, de forma alguma, para o alcance de uma solução para o problema e sim o contrário, pois aumentará as dificuldades enfrentadas pelo país, no sentido de manter a cooperação com os outros países do mundo, no momento em que necessita entrelaçar todos os esforços, internos e externos, para recuperar a estabilidade na região.
Nenhum conflito na região levará, sob qualquer forma, a uma paz justa e duradoura no Oriente Médio.
A inclinação do Brasil em apoiar a campanha americana e européia contra a Síria não era esperada, principalmente por se tratar de um país amigo. Esperamos que o Brasil refaça suas contas e que apóie os esforços pela promoção das reformas na Síria, para que o país possa se erguer desta catástrofe e para que volte a desempenhar seu papel, em níveis nacional, regional e internacional, como um parceiro proativo na busca pela paz na região e no Oriente Médio, assim como ocorreu inúmeras vezes no passado.
O que a Síria espera dos países amigos é tempo e confiança em suas ações. A Síria nunca esquecerá os esforços do Brasil, nos últimos anos, para ter um papel ativo na região do Oriente Médio, pela busca da paz e para desempenhar o papel de mediador que goza de credibilidade, no momento em que todas as outras partes internacionais, imparciais e honestas, saíram de cena.
Embaixada da República Árabe da Síria