O destino da AL está em nossas mãos, ressaltam embaixadores
Durante evento “América Latina vive em Quilmes”, realizado na cidade homônima, na Argentina, no último dia 11 de outubro, os embaixadores da República Bolivariana da Venezuela, Carlos Eduardo Martínez Mendoza, e de Cuba, José Lamadrid Mascaró, ressaltaram a importância e os desafios da integração latino-americana e do aumento da participação popular na política.
Por Angy Vargas Garzón, da Argentina, especial para o Vermelho
Publicado 20/10/2011 16:08
“Hoje, a América Latina está em um caminho diferente. Estamos na fase de construção de uma identidade latino-americana e caribenha”, ressaltou o embaixador venezuelano, Carlos Eduardo Martínez Mendoza. O evento, realizado por organizações sociais da cidade argentina, foi considerado um marco para a região, por permitir à população estar em contato com os embaixadores.
A iniciativa, promoção e organização do evento foi realizada pela Frente de Organizações Justicialistas (FOJ), Carta Aberta Quilmes e pela organização social e política “Refeitório de jovens”. O ciclo de conversas foi um fato histórico para a localidade e região bonaerense, já que diferentes organizações sociais e políticas puderam conversar com os dois embaixadores sul-americanos.
Construção da pátria grande
Lito Borello, do movimiento Carta Aberta Quilmes, moderador do evento, observou que “estamos diante de uma oportunidade histórica, estamos diante de uma mudança de época na construção da unidade de nossos povos; a unidade da patria grande, a unidade da nossa região”.
O embaixador da Venezuela manifestou sua satisfação e orgulho de ter compartilhado com todos este primeiro encontro, e reforçou o caráter democrático dos governos da região. Para ele, "há um despertar dos povos. (…) Hoje muita gente poderia dizer que nossos governos – e a direita se encarrega disso – são dois ou três ditadores que pretendem se eternizar no poder, que não são outra coisa que ditaduras disfarçadas de democracia e eu me faço uma pergunta: Por acaso os 200 anos de governo da elite não foram uma ditadura?”
A superação da democracia representativa também foi lembrada pelo embaixador. “Hoje em dia os governos são muito suscetíveis, se parecem muito mais com as pessoas, com o povo, hoje em dia tem, vai ter e vai obrigar a ter uma maior participação. A democracia representativa era uma tutela da qual éramos vítimas. Hoje, os povos estão exigindo uma maior participação expressada pelos movimentos sociais e políticos, que dia após dia, ao longo de todo o continente, vão se estruturando e se transformando. Chegou o tempo em que a própria figura dos Estados terá que se adequar para que a participação popular se converta no centro fundamental de qualquer ação, gestão do governo do povo”.
Democracia popular
O venezuelano acrescentou ainda que Bolívar já falava em “fazer uma democracia popular”. Disso resultou a “satanização” de Bolívar, esclareceu, e “se deu as grandes contradições de Bolívar com sua própria gente, com seus próprios companheiros, que não viam na participação popular a possibilidade de construir Estados fortes. Viam essa possibilidade apenas no modelo que afirmavam fazer uma mudança na base das pessoas e não de conteúdo, não na essência. Sempre a política esteve subordinada ao econômico, ao comercial”.
Dito isso, recordou o papel diferenciado que têm os organismos de integração e concentração política no continente, como a União das Nações Sul-Americanas, Unasul e a Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América, Alba.
O Continente contra o golpe
Já o embaixador de Cuba, Mascaró, seguindo a mesma linha, lembrou: “o triste desfecho de Honduras; no qual um governo eleito democraticamente foi brutalmente retirado do poder. (…) Um golpe de Estado não se parece com isso?”, questionou. “Esta, como outras, são tristes realidades para as quais a Unasul buscou resposta”. Os mandatários dos países membros foram convocados “e foi impressionante a capacidade de resposta a essa situação de crise. Eles conseguiram contribuições significativas contra a sabotagem. Esta é a realidade da Unasul”, frisou.
Ainda sobre o processo de integração do continente, o cubano pontuou que a “Alba é outro projeto que vai diretamente nas bases, nas razões e nas conclusões de simetria, de vivências que existem em nossas nações. (…) As encara buscando um equilíbrio social, para superar grandes atrasos como os existentes na educação, na saúde”. Isso porque “quando nos reunimos há resultados potenciais de resposta à barbárie que nos querem impor. (…) No mundo de hoje isso requer demanda. É a capacidade que temos de decisão irrestrita de maneira que não haja dúvidas, nem obstáculos”.
O embaixador frisou: "a estratégia de que ninguém nos imponha condições está em nossas mãos”. Já no final do debate, ele lembrou o general Juán Domingos Perón: “Existem decisões políticas que estão nesse conceito (de unidade e decisão), que nutrem esse processo de unidade. Devemos fazê-lo prevalecer”. Uma das decisões políticas mencionadas por ele, foi a de “Perón, que rompeu com o bloqueio e estabeleceu uma operação comercial com Cuba. (…) Foi a primeira vez que foi rompido o bloqueio norte-americano a Cuba”, rememorou.
Cinco patriotas
Outro assunto também abordado pelos palestrantes, foi o caso dos cinco antiterroristas cubanos presos indevidamente nos EUA. Sobre isso, o embaixador cubano respondeu que se trata de “um tema universal”. Segundo ele, “o clamor é enorme porque falamos da dignidade humana, a condição humana. A soberba das autoridades estadunidenses se demonstra a tal escala que quando ‘liberaram’ René Gonzalez [no último dia 6 de outubro], lhe impuseram uma sanção insuportável: ficar três anos em um país onde sua vida corre perigo, além de não poder estar com sua família”. Ele sublinhou que “a crueldade e o ódio contra Cuba de parte do Império hegemônico estadunidense é evidente”.
América do Sul e Oriente Médio
Por último, sobre a posição da Alba e da Unasul frente à agressão imperial contra os povos do Oriente Médio, Mascaró explicou: “há uma voz dos países contra a violação do direito internacional humanitário. Estamos claramente contra que se ataque impunemente a um país determinado, porque amanhã isso poderá acontecer com qualquer país. Cria-se um precedente nefasto, porque se baseia na violação flagrante das normas internacionais, manifestações de uma hegemonia que se volta contra nossas soberanias”.
“A Alba é o resultado, teve uma posição de defesa das normas, soberania de autodeterminação, de independência dos países. Uma organização decidir o bombardeio de uma nação é uma falta de respeito para com os demais países”.
As conquistas da Unasul
Já no final do evento, o embaixador da Venezuela, Carlos Martínez, comentou os ganhos e projetos que foram conseguidos com a Unasul, como a criação de uma rede social de conhecimento em segurança e soberania alimentar para o ano de 2012, o crescimento econômico dos países da América Latina frente à crise mundial e o projeto Sistema Unificado de Compensação de Pagamentos Recíprocos (Sucre).
Ele recordou, ainda, uma conquista a mais do trabalho de integração dos povos latino-americanos: a criação da Comunidade de Estados Latino- americanos e Caribenhos (Celac). A comunidade agrupará os países da região, também o Caribe, e deverá se reunir no dia 3 de dezembro na Venezuela.
Tradução: Vanessa Silva