Mostra em SP destaca primeiros filmes protagonizados por negros
Produções cinematográficas de baixo orçamento e que colocaram a cultura negra em destaque a partir dos anos 1970 são o tema da mostra Tela Negra: O Cinema do Blaxpoitation, que será exibido em duas salas de cinema de São Paulo até 24 de novembro, como parte das comemorações pelo Mês da Consciência Negra no Brasil.
Publicado 09/11/2011 11:11
A mostra teve início na última quinta-feira (3), no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), onde permanece até 13 de novembro, seguindo depois para o Cinesesc.
O blaxpoitation foi um movimento no cinema que possibilitou o surgimento do protagonista negro nas telas. Esse cinema marginal e ligado à música soul refletiu os sentimentos da juventude da época, a efervescência da cultura negra americana, que na década anterior acompanhou a explosão do movimento em defesa dos direitos civis dos negros, liderado por Martin Luther King e Malcolm X.
“É uma retrospectiva dos filmes da blaxpoitation, que surgiram nos anos 1970, nos Estados Unidos, e que foi um momento em que os grandes estúdios estavam em falência. São filmes de baixo orçamento, alguns com diretores negros – todos com elenco negro – e que fizeram grande sucesso”, explicou Vik Birkbeck, curadora da mostra.
“São filmes multicoloridos, com uma estética meio estourada. O blaxpoitation carrega não só nas cores, como também nos figurinos com os [cabelos] afro imensos e os saltos plataforma usados tanto por mulheres quanto por homens”, destacou Vik.
Mais tarde, o blaxpoitation influenciou a moda, a cultura hip hop e até mesmo o cinema atual, principalmente os filmes assinados por Quentin Tarantino, como Pulp Fiction e Jackie Brown. “Quando ele fez Jackie Brown, em 1997, ele fez uma homenagem ao movimento”, disse.
O primeiro filme que surgiu desse movimento foi Rififi no Harlem, de Ossie Davis, em 1970, que será exibido na mostra. “Foi um filme de baixo orçamento, que fez US$ 15 milhões na bilheteria”, citou a curadora. Outro que teve grande sucesso foi Super Fly, de Gordon Parks Jr., que desbancou O Poderoso Chefão do topo das bilheterias em 1972.
Segundo ela, os filmes desse movimento rompem com a presença do negro no cinema apenas como coadjuvante ou em papel de empregado. O pano de fundo político e as cenas violentas influenciam, até hoje, o gênero policial no cinema. “Os filmes da blaxpoitation mostram rebeldia: tem o cafetão, o traficante, o bandido, um detetive que dá tiros a toda hora. Tem o transgressor, tem muito xingamento. É o primeiro momento em que o negro tem sensualidade [na tela]. Os filmes apresentam uma explosão de sensualidade, de linguagem e de violência”, disse a curadora.
Um dos objetivos da mostra é promover debates sobre a influência do cinema afro-americano dos anos 1970 na construção da imagem negra internacional e no Brasil. Na noite da próxima quinta-feira (10), um debate será realizado no CCBB de São Paulo e, no dia seguinte, no CCBB do Rio de Janeiro. “Acho que no Brasil é fundamental ter essa discussão porque embora o país tenha a segunda maior população negra do mundo, atrás da Nigéria, proporcionalmente vemos poucas imagens negras. Sou inglesa e, na Inglaterra, onde a população negra é claramente minoritária, vemos mais apresentadores negros na televisão do que aqui, o que é um absurdo”, disse Vik.
Quinze filmes serão apresentados na mostra, entre eles Jackie Brown, de Tarantino, e Shaft – O Filme, de Gordon Parks. Outro título que será apresentado é o documentário musical Wattstax, que causou furor entre a juventude black carioca e paulista na década de 70. “Era o momento do movimento soul e muita gente se identificou com isso. No Rio de Janeiro, teve filas que deram a volta no quarteirão porque muita gente queria ver esse filme”, contou.
Fonte: Agência Brasil