Obama chega a Israel e reafirma "laços eternos" em discurso
A primeira visita oficial do presidente dos Estados Unidos Barack Obama a Israel, iniciada nesta quarta-feira (20), foi precedida de várias análises sobre a postura dos EUA com relação à guerra de Israel contra a Palestina e à sua postura beligerante com relação aos seus vizinhos. Mesmo assim, em seu primeiro discurso após a chegada, Obama reafirmou apenas o apoio incondicional a Israel.
Por Moara Crivelente, da Redação do Vermelho
Publicado 20/03/2013 15:20

Os Estados Unidos vêm tomando uma postura histórica de herdeiros tardios do Reino Unido, ao apoiar incondicionalmente um Estado de Israel governado por sionistas. Depois de contar principalmente com o apoio britânico colonialista para se estabelecer ilegal, imperial e criminosamente na Palestina, agora Israel tem os sucessivos presidentes estadunidenses como garantidores de continuidade impune da sua política agressiva.
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O governo israelense acaba de ser composto, já que a reeleição de Benjamin Netanyahucomo primeiro-ministro em janeiro deu ao seu partido Likud (em coalizão antecipada com o partido Yisrael Beitenu) apenas 20 dos 120 assentos no parlamento (Knesset). Assim, Netanyahu teve grande dificuldade para angariar o apoio de outros partidos, o que conseguiu apenas no passado final de semana, após ter pedido a prorrogação do prazo que tinha para isso.
Obama desceu do avião presidencial em Israel nesta tarde para uma visita em que o objetivo principal, segundo oficiais do governo, é “ouvir” e “fortalecer laços” com os israelenses.
Como anúncio direto desta intenção, por tanto, uma das primeiras declarações do presidente foi, depois de uma série de referências históricas e religiosas demagógicas, a “identidade” entre os EUA e Israel:
De certa forma, Obama pincelou um tanto por cima alguns pontos até reais sobre os judeus que fugiam de um antissemitismo ferrenho no século 19 e início do século 20 e que, por isso, foram habilmente manipulados para aceitar o sionismo, mesmo que em detrimento da expropriação, expulsão e violação dos direitos de um povo que não conheciam, ou que não queriam conhecer: o povo palestino.
Porém, além de ser inaceitável e ultrajante a tentativa de romantizar o que foi uma colonização e um imperialismo criminoso e extremamente opressivo (a construção gradual e o estabelecimento oficial do Estado de Israel), Obama ainda finaliza com um detalhe profundamente incorreto: a afirmação de que Israel é uma democracia.
O próprio jornalista israelense Gideon Levy disse, por exemplo, que Israel é um dos países mais racistas do mundo, “com paredes que separam territórios, uma política de apartheid; (Israel) trai os valores fundamentais do movimento de direitos civis que tornaram possível o milagre Obama”, em alusão ao movimento civil de 2008 dos que apoiaram a eleição do primeiro presidente negro da história dos EUA.
“Laços inquebrantáveis” entre as duas nações
Obama desceu também dizendo algo já óbvio: “deixe-me dizer da forma mais clara que posso: Os Estados Unidos da América está ao lado de Israel porque é parte do nosso interesse nacional securitário fundamental estar com Israel.”
Já é histórica e basilar para um círculo vicioso a ligação dos EUA com os sionistas, tanto interna (através do grupo de pressão judeu diretamente ligado a todos os âmbitos da política estadunidense, o Aipac) quanto externamente. Israel também serve aos EUA como uma base militar, uma frente avançada para a influência e a pressão que querem exercer no Oriente Médio. É bastante possível, assim, que a afirmação óbvia do presidente tenha sido ainda uma exigência do próprio Aipac, com quem Obama reuniu-se dias antes da sua visita.
Mas Obama continua neste mesmo tom, e disse que vê a visita “como uma oportunidade de reafirmar os laços inquebrantáveis entre as nossas nações, de declarar novamente o compromisso persistente da América com a segurança de Israel, e para falar diretamente com o povo de Israel e com seus vizinhos.”
Também não é a primeira vez que Obama reafirma outra postura histórica dos EUA de colocar, tanto em discurso quanto na prática, a “segurança” de Israel acima de tudo, principalmente acima dos direitos repetidamente reconhecidos pela ONU à autodeterminação do povo palestino. Pior ainda, mesmo que a suposta “segurança” israelense, de acordo com as políticas nacionais, pressuponha necessariamente a violação diária, constante e repetida dos direitos humanos mais básicos de todo o povo palestino.
Os assentamentos israelenses em terras palestinas; as prisões arbitrárias já institucionalizadas legalmente através do mecanismo de uma “detenção administrativa”, que permite a prisão de palestinos “suspeitos” de ações violentas (ou seja, que incluem grande parte das práticas de resistência desse povo) por períodos renováveis de seis meses sem julgamento; a destruição sistemática de casas e cultivos; a construção de estradas e muros de segregação; entre outras práticas diárias de humilhação têm recebido a conivência e a cumplicidade criminosa das maiores potências mundiais.
E é assim mesmo que Obama disse orgulhar-se de estar em Israel, do fato de que os EUA foram os primeiros a reconhecer este país, em 1948, mesmo que a violência em que este evento se desenvolveu já fosse conhecida então, embora sistematicamente silenciada (a estratégia de negar a existência de um povo especificamente palestino, por exemplo, foi bem estabelecida e generalizada até muito recente).
A visita de Obama deverá servir para abordar temas como o conflito armado interno na Síria, o programa nuclear iraniano, e de forma menos eficiente e mais retórica, segundo analistas políticos, as negociações de paz com os palestinos. Entretanto, está prevista a reunião com representantes da Palestina, de Israel e da vizinha Jordânia. Um oficial da Autoridade Palestina já havia dito, em fevereiro, que "se tem alguém que pode mudar a postura de Israel, é Obama".
Porém, a sensação generalizada de descrédito quanto ao compromisso de Obama com uma solução ao conflito tem dominado tanto a mídia regional quanto os próprios palestinos. As negociações para uma solução de “dois Estados”, por exemplo, estão em estagnadas ao menos desde 2010. Mesmo assim, ela sempre foi retórica e vazia, uma vez que Israel já existe oficialmente e continua impedindo a concretização de um Estado da Palestina com sucessivas ocupações territoriais, por exemplo.
Ainda, outra justificativa para essa sensação de descrédito foi a conclusão do discurso, em que Obama disse, de forma um tanto piegas, que “a Estrela de David [símbolo religioso e nacional israelense] e nossas estrelas e faixas esvoaçam juntas neste dia. É por isso que estou confiante em declarar que a nossa aliança é eterna, é para sempre: lanetzach [eterna]”.