Eleições municipais na Venezuela acontecem em meio
Exatamente um mês depois da intervenção à maior rede de eletrodomésticos da Venezuela, a Daka, que deu largada a uma série de inspeções a comércios para que reduzissem preços de bens de consumo, os venezuelanos elegerão, no próximo domingo (8), prefeitos e vereadores em 335 municípios.
Publicado 06/12/2013 10:18

Considerada por muitos como uma medida eleitoreira, a ofensiva econômica promovida pelo governo de Nicolás Maduro deverá ter impacto no resultado das urnas. Se a inflação acumulada de 45,8% até outubro era um fator que jogava contra o sucessor de Hugo Chávez, as recentes medidas econômicas do Executivo podem aumentar o nível de apoio aos candidatos municipais de Maduro.
“Efeito Daka” ou “efeito Robin Hood” foram algumas das expressões que chegaram a ser utilizadas para os acontecimentos do último mês, quando houve uma corrida massiva a lojas por parte de consumidores que formavam longas filas em busca de produtos mais baratos.
Segundo o analista Germán Campos, diretor da empresa de pesquisa Consultores 30.11, as recentes medidas econômicas geraram a percepção de que o governo está tomando as rédeas da economia. “Estudos indicavam que uma parte importante da sociedade venezuelana tinha a percepção de que esta gestão não estava governando, que não tomava decisões em matéria econômica. Com as medidas, a primeira reação foi de temor, mas quando o processo foi avançando a percepção era de que o governo estava assumindo o controle da situação”, explicou a Opera Mundi.
Um estudo por amostragem difundido pela consultora na última semana, com base em 847 entrevistas, indica que no município Libertador, que abriga o centro Caracas e é considerado um dos mais importantes para o pleito de domingo, 69,1% dos consultados afirmaram estar “muito de acordo” com a supervisão das atividades comerciais para o controle de preços de bens de consumo. Por outro lado, apenas 24,6% dos entrevistados manifestaram estar “muito em desacordo” com o Executivo.
A ofensiva econômica, segundo Campos, teve uma aceitação média de 65% a 70% em todo o país. Para ele, as recentes medidas podem motivar a ida às urnas a um setor do eleitorado que historicamente respaldou o projeto chavista, mas que não mostrava disposição para votar. Além disso, o especialista considera que as iniciativas podem desestimular eleitores propensos a votar em candidatos opositores, por questionamentos acerca da falta de reação destes representantes frente à situação, gerando uma espécie de “castigo” com a abstenção.
Para as estudantes universitárias Ligia e Joana, as medidas econômicas são uma “máscara” para tapar o “desastre econômico do país” e a fiscalização de preços não terá impacto em quem sempre se opôs ao chavismo. “Pode ser que alguns venezuelanos se deixem levar, mas quem é opositor de verdade vai continuar votando contra esse governo”, afirmaram a Opera Mundi enquanto faziam compras em um shopping de zona nobre de Caracas.
Digna Duque, moradora do bairro 23 de Enero, considerado como um bastião chavista, por sua vez, afirma que a medida foi “excelente”. “Isso é o que Maduro tinha que ter feito há tempos. Tinha muita sabotagem dos comerciantes, e também com a comida. Mas a medida ainda tem que ser aplicada a muitos comércios que ainda não reduziram os preços. Tentei comprar uma TV e desisti porque tinha muita fila, mas agora, como o governo anunciou acordos para a fabricação de produtos aqui, devo poder comprar. As pessoas estão contentes e isso vai ficar evidente com os votos”, acredita.
Em entrevista à emissora Venevisión, 15 dias após o início das intervenções, o presidente da consultora Hinterlaces, Oscar Schémel, afirmou que estas contribuem para o posicionamento de uma nova liderança do chavismo no país. “De alguma maneira, Nicolás Maduro está construindo uma imagem própria, com atributos próprios, já não é só o filho de Chávez. E agora, com as recentes medidas, [ele] certamente vai ser percebido como o protetor dos pobres, das maiorias. É uma jogada extraordinária de posicionamento e reposicionamento”, analisou.
Na opinião do presidente do instituto Datanálisis, Luis Vicente León, “os primeiros meses do governo do presidente Maduro foram muito frouxos em termos de sua mensagem, sua ação e de sua de conexão popular. E as pessoas que tinham expectativas, nos primeiros três meses foram deteriorando a visão que tinham sobre a situação do país”.
Em artigo recente, o analista afirmou ainda que o endurecimento do “jogo” de Maduro pode resultar em maior popularidade, “ainda que continue sendo incerta a capacidade destas ações para rechear o buraco que a crise tinha criado em sua relação com as massas”.
Fonte: Por Luciana Taddeo, de Caracas para o Opera Mundi