Líbia atravessa nova revolta de militares
As eleições para o parlamento da Líbia, que substituirá o Congresso Geral Nacional, serão em 25 de junho, informou o presidente do Comitê Eleitoral Central, Imad al-Saih.
Publicado 21/05/2014 23:20
Esta declaração foi feita tendo por pano de fundo o agravamento brusco da situação no país. Nos últimos dias a Líbia, em essência, esteve à beira de nova guerra civil, depois que o general da reserva Khalifa Haftar anunciou o início da operação "Dignidade", visando a liquidação das formações armadas de islamistas radicais.
O representante oficial do Movimento Nacional Popular da Líbia, que apoia Haftar, Asaad Zahio, fala sobre a essência da operação:
“O que ocorre hoje na Líbia é uma revolta do exército contra os grupos extremistas, que transformaram um país estável e próspero em zona de instabilidade, que se espalha por toda a região. A base do atual movimento são os militares do exército líbio, encabeçados pelo general Haftar. Os principais objetivos de seus ataques foram os pontos de apoio de diferentes células terroristas próximas da al-Qaida. O governo central declara que nossas ações são um golpe de Estado ilegal. Mas, falando francamente, não se entende de que legalidade se pode falar na Líbia de hoje”.
Os revoltosos acusam o poder central de ligações com os radicais. O próprio Haftar declarou que pretende limpar a Líbia da Irmandade Muçulmana e de outros elementos extremistas.
Eis o que diz a respeito o orientalista russo Viacheslav Matuzov: “Todos nós nos lembramos como navios com armas iam da Líbia abastecer os combatentes na Síria, a maior parte dos quais é constituída de representantes da al-Qaida. Os fluxos de armamentos eram enormes: através da Turquia, através do Líbano e diretamente para o litoral sírio. Além disso, não se deve esquecer, por exemplo, de tal figura como Abdelhakim Belhadj, que desempenha papel importante na Líbia atual. Ele é membro da al-Qaida. Por isso, as acusações contra as autoridades do país, na minha opinião, são perfeitamente justificadas. E diria até mais: são justamente os grupos islamistas que constituem a base desse poder. As pessoas que dirigem a Líbia, do ponto de vista jurídico, na prática não resolvem nada ou obedecem os grupos armados, que mandam a nível local.”
Neste sentido, como assinala Viacheslav Matuzov, as ações de Haftar não são um fenômeno puramente líbio, mas parte de tendência mais geral: “O discurso do general Haftar e a iniciativa de afastamento da Irmandade Muçulmana e de outros extremistas islamistas do poder lembra bastante os acontecimentos que ocorreram não há muito tempo no Egito. O paralelo entre estes dois acontecimentos impõe-se por si só. E nós vemos que, assim como no país vizinho, os militares, Haftar, receberam sério apoio dentro do país. Assim, o Comitê de Segurança Nacional da Líbia e a base da Força Aérea em Tobruk declararam-lhe lealdade. Tudo isto indica que a ideia é bastante popular. E eu penso que os islamistas não têm a menor chance de manter o poder em suas mãos.”
Na opinião dos especialistas, é muito provável que a face política da Líbia mude depois das eleições. Todos já se cansaram da inatividade das atuais autoridades, as pessoas começam a manifestar uma posição cívica mais ativa. Por isso, em muitos locais os militares, com o apoio da população, poderão garantir a transparência das eleições e a ausência de influência de parte de grupos semi-criminosos e abertamente criminosos sobre o processo eleitoral.
Enquanto isso, certos países do mundo árabe apoiarão com certeza (possivelmente de forma tácita) os processos sociais que começaram na Líbia. Por isso, há todos fundamentos para supor que as eleições marcadas serão uma importante etapa na vida do país.
Fonte: Voz da Rússia