Estudante baleado é gota d’água na escalada de violência na USP

O estudante Alexandre Cardoso, do quarto ano de Letras, foi baleado na última terça-feira (1º) na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo após tentativa de assalto.

USP - UNE

O barulho do tiro disparado pelos assaltantes foi ouvido por alunos que estavam dentro da sala de aula. “Foi um susto e estamos todos aflitos. Confesso que tenho medo de andar pelo campus a noite desde que entrei na universidade e agora ainda mais”, afirmou a estudante Gabriela Ferro do DCE da USP.

O universitário foi socorrido pela Guarda e levado para o Hospital Universitário, onde passou por cirurgia e segue internado. Seu quadro de saúde é estável.

O fato aconteceu dois meses depois de uma jovem ter sido estuprada, em junho, na região próxima à Praça do Relógio. A maior universidade do país tem passado por diversos problemas na segurança dentro da sua Cidade Universitária, na Zona Oeste da Capital.

A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo anunciou que o novo modelo de policiamento comunitário para o campus anunciado há alguns meses começa na próxima segunda-feira (7).

O novo projeto de segurança será executado por policiais que tem a mesma faixa etária e formação semelhante à dos estudantes.
Os estudantes exigem mais diálogo da reitoria com a comunidade acadêmica para que soluções alternativas sejam encaminhadas e tem criticado o novo modelo imposto pela Secretaria.

PM ineficiente

“Neste momento cabe ao movimento estudantil como um todo discutir o assunto da segurança no campus. Somos contra esse novo modelo porque apesar do nome ‘polícia comunitária’ é apenas uma ampliação da PM dentro do campus, só que agora com mais aparato”, afirmou a integrante do DCE.

Mesmo com a presença da Polícia Militar na Cidade Universitária, no Butantã a guarda da USP registrou aumento nos roubos e furtos após a entrada em vigor de convênio prevendo PMs no campus.

Para Gabriela é uma irresponsabilidade a reitoria manter a PM como encarregada da segurança sabendo que o policiamento não funciona.
“Falam que é por pura ideologia que somos contra a PM no campus, mas o que parece é uma disputa do governo. Mesmo sabendo que ela não funciona, eles não querem construir outra alternativa”, explicou.

Mulheres estudantes indicam o caminho

As mulheres estudantes, maiores vítimas da violência na Universidade tem se mobilizado. No último dia 24 de agosto estudantes e trabalhadoras da USP, percorreram a universidade denunciando e questionando a forma com que a reitoria tem lidado com a questão.

Elas acusam o reitor Marco Antonio Zago de se utilizar dos casos de estupro e violência contra as mulheres para justificar um aumento da militarização, repressão e controle da USP.

“Sabemos que essas ações, para além de não serem a saída, só servem para coibir ainda mais o movimento, mantendo uma lógica conservadora, machista e autoritária na USP, e ignorando o acúmulo histórico das mulheres sobre segurança”, afirmou nota do DCE.
A Faculdade de Medicina da USP lidera o ranking de violência e tem na conta dez casos de estupro em fase de investigação, dois já com réus respondendo a processos criminais.

As apurações avançaram depois de várias denúncias de estudantes que chegaram a ser hostilizadas pela comissão de apuração da Universidade, até a Assembleia Legislativa de São Paulo abrir uma CPI para investigar os casos.

Coletivos femininos levaram até a reitoria algumas medidas bastante simples e essenciais para a segurança, como poda das árvores, melhor iluminação, aumento dos ônibus circulares para que não se espere tanto tempo no ponto e não tiveram resposta. “São reivindicações simples para prevenir casos de abusos e treinamento de funcionárias para atender mulheres. Porque nenhuma mulher pede ajuda a PM em caso de necessidade”, explicou Gabriela.