O papado ciumento

A Congregação para a Doutrina da Fé, da Igreja Católica Apostólica Romana, divulgou o documento, datado de 29 de junho, dia em que os católicos festejam São Pedro (considerado o primeiro papa) e São Paulo (um dos principais fundadores da seita), “Resposta

A motivação do documento é a preocupação do papa Bento XVI e de seus pares com o debate entre católicos e outras seitas. Segundo o documento, o trabalho dos teólogos envolvidos com o tema “levou à produção de uma vasta literatura na matéria” que tornou necessário “proceder a algumas chamadas de atenção e esclarecimentos”. Os doutrinadores da fé estão preocupados com “desvios geradores de dúvidas” e por isso a Inquisição (antigo nome da Congregação) resolveu “dar com clareza a genuína interpretação de algumas afirmações eclesiológicas” para evitar erros “por motivos de ambigüidade”. Seguem-se, então, cinco questões a que os doutos do Vaticano dão a palavra final, acima de qualquer dúvida. A reafirmação dogmática que mais repercutiu foi a resposta à segunda pergunta:
“Como deve entender-se a afirmação de que a Igreja de Cristo subsiste na Igreja católica?
Resposta: Cristo ‘constituiu sobre a terra’ uma única Igreja e instituiu-a como ‘grupo visível e comunidade espiritual’, que desde a sua origem e no curso da história sempre existe e existirá, e na qual só permaneceram e permanecerão todos os elementos por Ele instituídos. ‘Esta é a única Igreja de Cristo, que no Símbolo professamos como sendo una, santa, católica e apostólica (…). Esta Igreja, como sociedade constituída e organizada neste mundo, subsiste na Igreja Católica, governada pelo Sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele’“. E reitera, para não dar “motivos de ambigüidade”, que “a palavra ‘subsiste’ só pode ser atribuída exclusivamente à única Igreja católica”.
E essa Igreja tem chefe, como explica o documento ao afirmar que a “Cabeça visível é o Bispo de Roma e Sucessor de Pedro” e a instituição é “governada pelo Sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele”. Para sacramentar o documento, vem a informação: “O Santo Padre Bento XVI, na Audiência concedida ao abaixo-assinado Cardeal Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, ratificou e confirmou estas Respostas, decididas na Sessão ordinária desta Congregação, mandando que sejam publicadas”.
O documento admite “na divisão dos cristãos um obstáculo à sua” (da Igreja católica) “realização plena na história”. Trata-se de um chamamento à ordem dos  seguidores do Vaticano e um convite à adesão dos não rezam pela sua cartilha.  O Secretário da Inquisição, arcebispo Angelo Amato, considera que só “eliminando interpretações errôneas sobre a Igreja” poderá ocorrer “o diálogo ecumênico que, além da abertura aos interlocutores, deve também salvaguardar a identidade da fé católica” para unir todo o rebanho cristão sob o cajado de “um só pastor” (referindo-se a uma passagem do evangelho de João, onde Jesus diz: “Tenho também outras ovelhas que não são deste curral. Também a elas eu devo conduzir; elas ouvirão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor” – 10,16).
Conseqüente com seus dogmas, a alta hierarquia católica reafirma, portanto, que não há diálogo possível, mas só adesão aos seus desígnios. Aliás, orientação coerente também com o judaísmo – do qual o cristianismo surgiu –, que determinava nos seus dez mandamentos (Êxodo 20, 3-6): “Não tenha outros deuses diante de mim. Não faça para você ídolos, nenhuma representação daquilo que existe no céu e na terra, ou nas águas que estão debaixo da terra. Não se prostre diante desses deuses, nem sirva a eles, porque eu, Javé seu Deus, sou um Deus ciumento: quando me odeiam, castigo a culpa dos pais nos filhos, netos e bisnetos; mas quando me amam e guardam os meus mandamentos, eu os trato com amor por mil gerações”.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor