"Invictus": um filme que nos faz refletir

O convite do Consulado Geral da África do Sul em São Paulo, cujo titular é meu amigo Yussuf Omar, fez com que desmarcasse reuniões importantes e me dirigisse ao cinema de um shopping aqui de São Paulo que não costumo ir. Mas no caminho, entre chuvas, alagamentos e noticias de deslizamentos de terra, olhei rapidamente a ficha técnica do filme. Pois bem, foi ela que reforçou minha vontade de atender ao chamado do meu amigo Omar.

Claro que lá iria encontrar outros amigos e companheiros de jornadas ou de "projetos" como se convencionou chamar por aqui tudo o que for intenção de fazer algo, digamos, de "cunho social". Pois bem, lá iríamos encontrar os amigos da Distell (Amarula), Ana Leme, Ricardo e outros, os amigos da Souht África Airwais, Jairo e Altamiro, além de vários outros como Thobias da Vai-VAi e José Vicente.

Mas, o que mais me instigou, como eu ia dizendo, foi a ficha técnica: Clint Eastwood na direção. Pois é, este cineasta prestes a completar 80 anos de vida filma como um jovem intrépido e criativo. Sua sensibilidade impressiona, com ele parece ser fácil fazer filmes. Que, aliás, tem muitos e bons no currículo. Destaco os filmes que me vêm à cabeça: "Menina de Ouro", "Sobre Meninos e Lobos" e o fantástico "Os Imperdoáveis". Acompanho sua carreira desde os filmes de faroestes em que ele atuava dirigido pelo não menos fantástico Sergio Leone. Quem não lembra, ou já ouviu falar em "Três Homens em Conflito" ou mesmo "Por Um Punhado de Dólares"? Pois é, com um histórico desses fiquei curioso para ver como ele se sairia dirigindo um filme sobre a África do Sul, Mandela e preconceito. Temas, aqui pra nós, para lá de batido e mais do que isso, falando de uma modalidade esportiva que concorre lá na África com o futebol em pleno ano da Copa do Mundo. Este ganhador do Oscar por diversas vezes e de dezenas de indicações, gosta de arriscar, pensei!

Mas ainda tem o elenco: Morgan Freeman, monstro na arte de interpretar e que do alto dos seus 72 anos sabe como ninguém utilizar o talento para dar vida aos seus personagens. E que vida! Seja no drama, na ação e até na comédia. Versátil e competente ostenta em seu histórico profissional nada menos que 40 filmes todos bons e alguns inesquecíveis. Destaco aqui dois, por absoluta falta de espaço: “Menina de Ouro” em que ele interpreta um decadente pugilista que evidentemente polariza nas poucas passagens na tela toda e qualquer atenção e ainda, este sim fantástico, "Conduzindo Miss Dayse".

Para completar tem ainda Matt Damon, jovem ator, hoje com 40 anos, que se destacou desde cedo com seu talento e vigor com "Talentoso Rippley" e a trilogia "Bourne".

Pois bem, foi com essa curiosidade cinéfila e com uma razoável dose de decepções no currículo que eu e minha companheira nos dirigimos à "empreitada".

O Filme é um drama que trata basicamente do amor. Isso mesmo! Do amor de várias pessoas ao seu país e da luta para construir uma nação unida sob a liderança do mito Nelson Mandela (Morgan Freeman). É sereno, obcecado pelo trabalho de presidir o país, até passa a impressão de correr contra o tempo. Mandela enxerga que é necessária a participação dos adversários do passado (Apartheid) para reconstruir o país. E diz "eles têm o dinheiro, o exército e o estado, sem eles não iremos longe" e entra em conflito com parte do Partido, até mulher e filhos, pois está convicto que o caminho exigirá sacrifícios e o perdão terá que ser exercido em sua plenitude.

Pois bem, aí esta a magia do filme que as mãos firmes do Eastwood conduzem com maestria, sem cansar, nem ser "piegas" ele prende a atenção do começo ao fim. O belo roteiro baseado no livro de John Carls tem como vetor a seleção de Rugby. Como nós sabemos o Rugby era, e é ainda, o esporte preferido pelos brancos e por isso, identificado aos olhos da maioria oprimida como um dos símbolos do Apartheid. É obvio que logo no primeiro ano de governo do então presidente eleito Nelson Mandela, essas coisas estariam vivas na memória do povo.

Mas "Mandiba", como é chamado Mandela pelos seus camaradas de luta e de partido, decide utilizar este esporte como símbolo da tolerância necessária à unidade da nação sul-africana e a trama se desenrola sob este vetor. O ápice da fita (aqui é figurado, pois o filme é digital) é a decisão da Copa do Mundo de Rugby, realizada em solo sul-africano em novembro de 1995, o primeiro evento mundial esportivo ocorrido na África do Sul que mobilizou o país e de certa forma o mundo.

Os diálogos, as interpretações, o roteiro, a maravilhosa fotografia de Tom Stern, tudo se encaixa perfeitamente. O resultado é um filme belíssimo. Como eu disse é uma história de amor, amor ao país, ao esporte e de como é possível mudar as pessoas. O filme sonha e leva a gente junto. As coisas podem ser mudadas, as pessoas podem mudar. A obra mostra isso! Ao final da fita todo o país comemora o resultado da participação da Seleção local na Copa do Mundo. Uma lição importante uma bela mensagem e uma certeza: sem luta, não se conquista nada!

Para além do filme que nos faz refletir, existe a realidade complexa e difícil de um país que continua lutando para se tornar unido. Mais do que a lição do filme fica a deste mito chamado Nelson Mandela. Ninguém nasce odiando ninguém pela cor da pele, pela religião, ou por qualquer coisa. Se é possível aprender a odiar é também possível aprender a amar. Tolerância e olhar para frente são dois grandes ensinamentos do filme e principalmente de Mandela.

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