Dilma, Serra e o debate programático
Ao final do debate na Rede Band de Televisão, o senador Sérgio Guerra (PSDB) de Pernambuco, presidente nacional dos tucanos, saiu-se com essa belezura: o centro da campanha no segundo turno deve ser a questão do aborto, e não o tema das privatizações destacado por Dilma.
Publicado 14/10/2010 20:51
Equívoco ou artimanha tática? Fico com a segunda hipótese, por razões que me parecem óbvias.
Tem relevância, sim, o tema da descriminalização do aborto, desde que escoimado da argumentação rebaixada e suja sustentada pela tropa de choque tucana através da internet (que a própria esposa do candidato Serra, a Sra. Mônica, dela fez uso na tentativa de denegrir a imagem da ex-ministra Dilma!); porém não a ponto de ocupar o centro do debate, deslocando questões de fundo relativas aos destinos do País.
Já a questão da privatização de empresas e instituições estatais de importância estratégica, me desculpem o senador Guerra e seus acumpliciados, vem a ser um dos tantos elementos que compõem aquilo que o tucanato não deseja discutir: o programa de governo. E, como essência do programa, a opção pelo desenvolvimento econômico com distribuição de renda, valorização do trabalho e sustentabilidade ambiental como expressão de uma alternativa viável ao modelo neoliberal com o qual se sintonizam o PSDB e o candidato Serra.
Quando Serra tenta escapa do tema com evasivas tipo privatizações de empresas estatais municipais ou estaduais sob governos petistas ou a venda de ações da Petrobras na Bolsa de Nova York – argumentos ridículos para alguém que se diz experiente e preparado! -, na verdade o que ele pretende é evitar a demarcação clara de campos aos olhos do eleitorado mais atento, que forma opinião e amplia tendências de voto.
Dilma, por seu turno, ao lado de retrucar com veemência as agressões e baixarias de que tem sido vítima e passar à ofensiva na comparação entre os dois modelos, o de FHC e o de Lula, chama o adversário para o centro do ringue e o obriga a lutar às claras.
Isso dá em debate programático? Creio que sim. Pois nos programa de TV e rádio e nos debates entre os dois candidatos à presidência nem tudo é completamente explicitado, mas cabe a nós outros no contato com vastas camadas do eleitorado repercutir e ampliar a discussão. A questão das privatizações, para não recorrer a outro exemplo, põe em relevo o papel do Estado como indutor do desenvolvimento, uma das pedras fundamentais da concepção programática de Dilma; e que, ao contrário, é negado no ideário tucano.
Em outras palavras, a campanha se dá no confronto televisivo e radiofônico, se espraia pela internet e se concretiza, no plano do debate de ideias, nos salões, nos locais de trabalho e nos botecos por esse Brasil afora. E ganha força se cada de nós, militantes e ativistas cá na base, mesmo sem deixar de reagir às baixarias e calúnias contra Dilma, nos empenharmos na discussão do projeto de desenvolvimento com o qual a candidatura de Dilma Rousseff está comprometida.