O cerrado na Rio+20
O encontro global sobre clima chamado de Rio+20, no mês que vem, terá certamente muitos discrusos empolgados de chefes de estado e de governo do mundo inteiro, mas pouco resultado prático. O evento será, entretanto, palco de uma série de outros acontecimentos que chamarão a atenção de quem nele estiver antenado, ao redor do Planeta.
Publicado 30/05/2012 09:10
Uma dessas atrações, que desde agora já vem chamando atenção, é uma exposição (ou instalação) que o artista plástico goiano Siron Franco fará, baseado principalmente em fotos do também goiano Rui Faquini. A mostra, ou libelo, ocupará generoso espaço do Centro Cultural Banco do Brasil, que faz parte da estrutura da Rio+20, para denunciar a destruição do Cerrado brasileiro.
As peças tratarão dos mais variados aspectos do Cerrado. Vegetação, insetos, solo, fauna, flores, frutos, arquitetura, água e tudo o que de mais belo se pode encontrar nesse bioma. Isto, somado ao que há de mais doloroso, como o fogo predatório, a motosserra, as máquinas e seus correntões, que derrubam tudo o que houver pela frente.
Em corredores diferentes, a genialidade de Siron criará ambientes também diversificados. Uns de calma, paz e beleza, outros de angústia, desgosto e desespero. É, enfim, a brutal diferença entre a riqueza natural do Cerrado e a pobre riqueza do dinheiro, fruto da destruição para servir a um modelo de ocupação comprovadamente nefasto, para o usufruto de poucos.
E conta com a genialidade, persistência e competência de Faquini, um fotógrafo que há mais de 40 anos palmilha os cantinhos mais remotos do Cerrado, especialmente no Planalto Central do País, para deles fazer um retrato ampliado, completo. De minúsculas plantas e insetos a majestosas paisagens. Dos verde das chuvas ao amarelo dos meses sem água. Dos rios transbordantes às praias de finas areias dos tempos da seca.
Sua vasta produção está, em parte, publicada em incontáveis obras de sua autoria ou ilustrando trabalhos de terceiros, ornando ambientes dos mais diversos ou, ainda, servindo para peças de campanhas em defesa do Cerrado. Outra grande parte segue inédita, em seus arquivos, dos mais bem organizados da fotografia brasileira.
Siron Franco nasceu em Cidade de Goiás, antiga Vila Boa, que foi capital do estado até a construção de Goiânia, na década de 1.940. É uma cidade histórica, criada pelo bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva Filho, o Anhanguera II, em 1.726. E hoje mora em Goiânia. Ele costuma dizer que adora capitais, “mas desde que sejam de Goiás”. Faquini, por sua vez, nasceu em Morrinhos, cidade do Sul do Estado, e hoje mora no Distrito Federal, numa área fora de Brasília, “em chão goiano”.
Além da paixão pelo Cerrado, entre Siron e Faquini há um monte de outras afinidades. Uma delas é a mania de sempre encontrar um jeito novo de mostrar algo que aparentemente já foi dissecado por completo. Com uma vantagem: a constante procura de um modo mais belo de dizer coisas que muitas vezes são tristes e feias.
Para a exposição da Rio+20, para demonstrar a dedicação, dia desses, já tarde da noite, Siron telefonou dizendo que sentia falta de alguma coisa e pedia a Faquini algo tão simples como “umas trinta cabeças de abelhas”. E o pior é que foram enviadas trinta fotos de cabeças diferentes de diferentes tipos de abelhas. É a busca da perfeição, em ambos.
Com coisas de tipo, mesmo que a Rio+20 não traga nada de novo para tentar salvar o Planeta, vale a pena conferir essa bela iniciativa de salvar o Cerrado.