Uma Kombi já não basta ao PCdoB

Quando o PCdoB emergiu para a legalidade, em maio de 1985, alguns desinformados – e outros de má fé – diziam que os comunistas cabiam num fusca. Depois, numa Kombi. Mais tarde, uns surpresos – outros, contrariados – perceberam que, para reunir os comunistas, talvez fosse mais apropriado um vagão ferroviário ou mesmo uma composição.

Os comunistas não eram, afinal, tão poucos quanto se imaginava e, com o tempo, se percebeu que, para juntá-los, nem mesmo um navio seria o suficiente, ou uma esquadra. Ainda hoje, quando para reunir os comunistas do PCdoB seriam necessários pelo menos quatro maracanãs lotados, há quem ainda os subestime.

Mas os números não mentem. O PCdoB chega aos 91 anos de existência (o mais antigo partido político brasileiro ainda em atividade), comemorados neste 25 de março, com mais de 330 mil filiados em todo o Brasil, segundo os últimos dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), de novembro do ano passado. Essa multidão – que deverá crescer substancialmente até o 13o congresso nacional do Partido, cuja plenária final está marcada para novembro próximo – está presente em cerca de 2.300 municípios de todos os estados da federação e no Distrito Federal.

O mais significativo é que, entre o total de filiados, o PCdoB dispõe de expressiva massa crítica e atuante, de elevado nível político, representada por 2.500 quadros nacionais e 40 mil estaduais e municipais. Sua bancada no Congresso Nacional – 14 deputados e dois senadores – é reconhecida como altamente preparada e ativa na defesa das causas democráticas e progressistas. O Partido ainda possui 18 deputados estaduais, 58 prefeitos e 976 vereadores. Não é um partido grande, mas obviamente já não basta uma Kombi para abrigá-lo.

Orgulho

Mais que sua alentada e próspera composição orgânica – por si só fator de orgulho – é seu percurso de lutas e de absoluta fidelidade aos interesses do Brasil e dos brasileiros o que mais honra o PCdoB. Seu nascimento não foi episódio fortuito no cenário político nacional, mas respondeu às injunções de uma intensa efervescência política a cultural da década de 1920 no Brasil, também marcada, entre outros eventos, pelas revoltas democráticas do tenentismo, incluindo o legendário feito da Coluna Prestes, e a revolucionária Semana de Arte Moderna, realizada em São Paulo no mesmo 1922.

Representava a nascente classe operária brasileira, ainda pequena e sob forte influxo anarcosindicalista, mas fortalecida pela greve geral de 1917. Ao mesmo tempo, a grande revolução socialista da Rússia vincara para a humanidade perspectivas essencialmente revolucionárias.

Ao longo dos 91 anos de sua existência, o PCdoB vem enfrentando uma poderosa burguesia reacionária e submetida ao imperialismo, sem nunca perder sua perspectiva de partido revolucionário de classe, comprometido com a missão história da luta pelo socialismo em nosso país. Uma trajetória que o inseriu nos principais momentos da história política do Brasil no século 20, nos mais diversos cenários, desde a insurreição de 1935, a resistência ao Estado Novo sob os rigores da clandestinidade, a destacada participação na Assembleia Constituinte de 1946, a volta à clandestinidade a partir de 1947 e, ainda assim, a participação cotidiana nas lutas sociais e políticas dos anos 50.

Duramente perseguido, o PCdoB enfrentou com destemor a ditadura militar, dirigiu a guerrilha do Araguaia, esteve à frente das lutas pela anistia, pelas Diretas-Já, da campanha pela eleição de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, em 1985. Legalizado, participou ativamente da Assembleia Nacional Constituinte, das campanhas presidenciais de Lula, do movimento “Fora Collor” e do combate decidido ao neoliberalismo dos governos FHC.

Participando da administração federal desde o início do Governo Lula, em 2003, atuante no movimento social e na luta de ideias, o PCdoB cresce. A partir de junho próximo, estará voltado aos debates do seu 13o congresso nacional que, entre outros temas, fará um balanço crítico dos 10 anos dos governos Lula/Dilma. Não é tudo, mas já é um repertório e tanto!

Varias vezes, nesse longo percurso, as elites decretaram sua extinção. Mas, a despeito das adversidades sob as quais atuou, o Partido nunca deixou de existir, voltado sobretudo para construir o indispensável sujeito político da luta socialista, sempre dialogando e compondo alianças com as demais forças de esquerda e em decidida e irrevogável oposição às classes dominantes e ao imperialismo que as sustenta.

Um partido organicamente bem estruturado, com sólidas raízes nacionais e, ao mesmo tempo, internacionalista, um partido de massas e de quadros com nítida identidade comunista que expressa os interesses políticos estruturais dos trabalhadores e de todo o povo brasileiro. Este tem sido o núcleo programático que informa toda a atuação partidária, seja nos parlamentos, nas funções de governo, no movimento social e na luta de ideias, com firmeza estratégica e aguda percepção tática.

O PCdoB orgulha-se, portanto, de atingir 91 anos de existência e lutas mantendo inabalável o contrato político e ideológico que o liga, indissoluvelmente, aos mais caros interesses dos trabalhadores e do povo brasileiro, fiel à sua base teórica – o marxismo-leninismo – e à sua perspectiva estratégica socialista. Ainda não se constitui no grande partido que almeja ser – e que certamente será – para influir mais decisivamente na vida política brasileira. Mas, repito, já não basta uma Kombi para contê-lo.

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