O "velho" suplanta o "novo"

Mesmo que o Senado, num lance a essa altura surpreendente, venha a não confirmar o impeachment da presidenta Dilma, os desdobramentos imediatos — na melhor das hipóteses, a antecipação das eleições presidenciais via plebiscito — se darão em ambiente de complexa e desfavorável correlação de forças.

Muito pior, e o mais provável que aconteça, será o provisório e regressivo governo Temer se "legalizar” em consequência do afastamento definitivo da presidenta.

Trocando em miúdos, o "velho” conseguiu superar o "novo”.

A transição da ordem neoliberal a um novo projeto nacional de desenvolvimento, iniciada no primeiro governo Lula e exaurida no último ano do primeiro governo Dilma, está interrompida, dando lugar ao retrocesso.

A receita neoliberal ressurge agora sob condições mais perversas, plenamente conectada com a ofensiva do capital financeiro internacional diante da crise global.

Tudo pondo a nu problemas estruturais da sociedade brasileira não superados no recente período de prevalência democrática e progressista e também o insuficiente nível de amadurecimento político, ideológico e técnico das forças que governaram o país ocupando a hegemonia nos governos Lula e Dilma.

Não fomos capazes de enfrentar obstáculos estruturais ao desenvolvimento econômico, nem alterar minimamente a superestrutura jurídico-estatal, que inibe o distorce transformações de maior envergadura.

Tampouco o povo foi chamado a intervir, na dimensão necessária, em momentos de ameaça e crise — nem quanto Lula gozou de amplo e consistente prestígio popular.

Lula e Dilma sempre mantiveram a velha tradição brasileira de soluções de crises "por cima", subestimando a mobilização da base da sociedade.

O fato é que os inegáveis avanços alcançados no período recente começam a ser desmontados com incrível rapidez por Temer e seu grupo. Sequer esbarram em entraves jurídico-formais, que permaneceram no essencial inalterados.

Tanto que o conluio entre o chamado “mercado”, a mídia hegemônica, parte do Judiciário e do Ministério Público e a base parlamentar hegemonizada pela direita age quase sem encontrar resistência.

Assim, colocam-se novas condições para a luta emancipadora do povo brasileiro, de sentido estratégico e de exigências táticas imediatas muito complexas.

A agenda das forças populares e progressistas é constrangida, de imediato, pela resistência ao desmonte neoliberal; e, com olhar no médio prazo, há que relançar os pontos essenciais de um renovado projeto nacional de desenvolvimento.

Sempre buscando juntar forças – sem estreiteza, nem exclusivismo.

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