Neymar, Mbappé e os Meninos da Tailândia – notas sobre a copa do mundo
O que une um garoto pobre da periferia do litoral paulista, um filho de pai camaronês e mãe argelina criado nos subúrbios de Paris e os adolescentes “Javalis Selvagens” da Tailândia? Os pragmáticos poderiam dizer, como Bill Clinton: “É a economia, estúpido!”. Mas em verdade vos digo: é o futebol, a nossa religião leiga, muito mais que um jogo, que um esporte, que um negócio, sem deixar de ser tudo isso.
Publicado 11/07/2018 11:27
A Copa do Mundo, que se encerra esta semana, nos deixa como legado imagens, personagens, momentos em que o esporte se encontrou com a história.
Uma Rússia do século XXI se apresentou aos olhos do mundo: altiva, orgulhosa, auto-estima elevada, contemporânea do mundo de hoje, mas profundamente vinculada ao seu passado e tradições. Pedro, o Grande, Stálin e Putin aparecem unidos por um amálgama narrativo da “Grande Rússia” , de forte apelo no imaginário e ancestralidade daquele país. Problemas e contradições estão presentes, e fazem parte do jogo.
Foto: Alexandre Santini
Que outro evento, que outro esporte, nos aproxima desse jeito da história, do sentimento, do momento político de tantos países e de tantos povos? Os Jogos Olímpicos também provocam intensidades semelhantes. Países que nunca ouvimos falar, ou de existência recente, ao subir no pódio inscrevem o seu nome, seu hino, sua bandeira, entre as grandes nações do mundo, e assim seus atletas fazem história. Mas com todo respeito aos esportes olímpicos, modalidades como Polo, luta greco-romana e arremesso de disco não frequentam o cotidiano de povos dos 5 continentes como o futebol, e isso faz muita diferença.
Podemos dizer que, de certa forma, o futebol salvou os meninos tailandeses que ficaram semanas presos numa caverna e foram resgatados com vida, uma história que comoveu e mobilizou o mundo. Segundo os médicos, peritos, bombeiros, especialistas em missões de resgate envolvidos na operação, se não fossem eles os “Javalis Selvagens”, com seu espírito de equipe, de grupo, de time, de confiança e respeito ao treinador e sua liderança, se não tivessem o condicionamento físico e imunidade propiciada pela prática esportiva, dificilmente teriam sobrevivido – todos! – a uma situação tão adversa.
Os Javalis Selvagens não ficaram sabendo dos resultados dos jogos da Copa pois estavam, literalmente, dentro de uma caverna. Mas no próximo domingo devem assistir, em Moscou, à final do torneio, como convidados de honra. Nós aqui do lado de fora, quer sejamos torcedores fanáticos, peladeiros convictos, colecionadores de figurinhas, simpatizantes eventuais ou definitivamente desinteressados pelo que se passa durante os 90 minutos de uma partida, não temos como ficar indiferentes a estas jogadas e lances extraordinários que o futebol provoca, muito além das quatro linhas do gramado.