Enquanto há tempo, o jogo precisa ser jogado
A primeira pesquisa Datafolha relativa ao segundo turno, divulgada ontem, revela uma dianteira de 16 pontos percentuais do capitão Bolsonaro sobre Fernando Haddad.
Publicado 11/10/2018 10:33
Os números não são animadores, mas também são estimulantes para quem luta sob quaisquer condições.
A vantagem momentânea e ameaçadora do extremista de direita reflete uma tendência obscurantista que há algum tempo tem tomado corpo mundo afora, inclusive em países culturalmente avançados da Europa Ocidental, e chega ao Brasil na esteira da crise multifacetada em que o País está os mergulhado.
Quando a crise é perversa e as saídas não são claramente visíveis, a desesperança atinge milhões.
E numa sociedade como a brasileira, historicamente habituada a concentrar suas esperanças num líder momentaneamente carismático e aparentemente apto a "salvar" a nação do atoleiro, o capitão neofascista se adequada como uma luva.
No campo progressista, Getulio (contradições à parte) e Lula marcaram sua trajetória com esse pedigree.
Agora, com a semi destruição do sistema político vigente pela Operação Lava Jato e suas ramificações, repete-se, de modo mais agudo, o fenômeno Collor de 1989, que caçaria marajás, agora na figura do capitão que promete exterminar bandidos.
Fórmula simples, carente de consistência e ao largo dos problemas reais que afligem a sociedade brasileira. Mas incrivelmente absorvida por camadas as mais diversas, dos endinheirados do andar de cima a extensas parcelas dos mais pobres, ironicamente beneficiários das políticas inclusivas adotadas pelos dois governos Lula e pelo primeiro governo Dilma.
Num tempo sombrio, palmilhado pela dispersão política e ideológica e alimentado por artifícios midiáticos e pela manipulação das consciências via redes sociais, o pleito presidencial assume o dramático desenho de agora.
Entretanto, numa campanha de pouco mais de três semanas minutos valem horas. A reversão de percepções e expectativas não é simples quando se trata de milhões de eleitores. Mas o jogo não terminou.
Haddad avança no sentido da amplitude e do diálogo sem preconceitos com democratas de todos os matizes. Ajuda a resistência.
Se houver debate entre os dois candidatos — a tática do capitão é fugir com o argumento do seu estado de saúde —, talvez se possa avançar em alguma medida.
Nas redes e, sobretudo, nas ruas a partir de segmentos articulados, urge abordar os milhões de eleitores ainda indecisos ou que admitem mudar o voto (como ocorreu no primeiro turno).
Sigamos na luta!