Coronavírus: metade das grávidas infectadas tem parto prematuro
Pesquisadores ingleses analisaram casos de 32 gestantes. Apenas duas precisaram de cuidados em UTIs
Publicado 09/04/2020 15:58 | Editado 09/04/2020 18:18

Um estudo feito por pesquisadores ingleses aponta que metade das grávidas com coronavírus tem partos prematuros. Esse índice, segundo a publicação, pode pressionar consideravelmente os serviços neonatais.
O artigo, publicado em 17 de março no periódico acadêmico Ultrasound in Obstetrics & Gynecology (UOG), mostra que, comparada a outras síndromes respiratórias agudas – como Sars e Mers –, a Covid-19 aparenta ser menos letal. No entanto, os autores ressalvam que os dados ainda são incipientes, o que impede uma conclusão definitiva.
Os pesquisadores analisaram casos de 32 gestantes infectadas com coronavírus no Reino Unido até 10 de março. Apenas duas apresentaram “morbidade séria” e precisaram de cuidados em UTIs. Essas mulheres deram à luz 30 bebês, sendo uma dupla de gêmeos. Outras três ainda estavam com a gravidez em andamento.
A cesariana foi a opção majoritária, observada em 27 casos, enquanto dois foram parto vaginal. Houve parto prematuro em 15 situações, o que corresponde a 47%. O dado consta em nota técnica divulgada pelo Ministério da Saúde sobre orientações relativas a gestantes com coronavírus – e reforça a necessidade de monitorizá-las durante o pré-natal e na internação hospitalar.
Segundo o presidente da Associação de Ginecologia e Obstetrícia do Distrito Federal (SGOB), Vinicius Lemos, a incidência de partos prematuros pode ser explicada tanto por condições adversas ao feto quanto pelo estado da mãe, sobretudo quando tem dificuldades respiratórias. “Em condições desfavoráveis para o feto, isso desencadeia um trabalho de parto prematuro ou acontece o sofrimento fetal pela falta de sangue e oxigenação”, afirma.
De acordo com Lemos, “há evidências disso, por exemplo, quando ele (o feto) começa a movimentar pouco, o líquido diminiu ou há falta de ganho de peso – e passa a dar sinais de que vai a óbito em poucos dias. Aí é indicado a cesariana para evitar o óbito fetal”. O parto prematuro também pode acontecer para melhorar a condição da gestante, diz o médico. Esta é a alternativa quando a gestante desenvolve pneumonia e não consegue respirar direito. O procedimento é feito para aliviar o pulmão comprimido pelo útero.
“Temos observado entre as gestantes que não existem diferenças na evolução do primeiro para o segundo trimestre da gravidez. O que a gente tem encontrado são pacientes mais para o final da gravidez – aqueles que tenham pneumonia, com maior dificuldade para respirar, porque o útero comprime o pulmão, e por não oxigenar não bem o feto, estão tendo uma incidência maior de sofrimento fetal”, disse Lemos.
Baseado nos resultados, os pesquisadores concluem que a necessidade de monitoramento fetal, incluindo ultrassom para mulheres com Covid-19, pode ser um desafio para os serviços de maternidade. Afirmam que as mulheres precisarão ser conduzidas para hospitais com cuidados intensivos neonatais e instalações adequadas.
A pesquisa revisou 23 trabalhos acadêmicos já publicados e serviu de base para o guia do Royal College of Obstetricians & Gynaecologists sobre gestantes e Covid-19. Não há indicação dos motivos que levaram aos partos prematuros. Os autores reconhecem as limitações dada a urgência da produção em meio à pandemia.
Para o presidente da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Rio e pós-doutor em Medicina Fetal, Renato Sá, o estudo precisa ser aprofundado. “Isso faz parte do processo de conhecimento. Quando houve vários casos de Zika, também funcionou assim, porque precisamos passar informações o quanto antes”, disse.
Com a iminente superlotação do sistema de saúde, Sá pontua que as grávidas devem se vacinar contra a H1N1. “Nesse momento, com os leitos diminuindo e a chance de infecção, contrair a doença apesar da disponibilidade da vacina, é praticamente condenar a gestante à morte”, afirmou o médico.
No último dia 5, a fisioterapeuta Viviane Albuquerque se tornou a primeira gestante vítima de coronavírus em Pernambuco. Ela estava na 32ª semana de gravidez e precisou passar por uma cesariana após seu quadro piorar. Seu bebê sobreviveu e foi encaminhado à UTI, onde se encontra em estado estável.
Na véspera, Gabriela de Souza Izidro, de 29 anos, morreu no Rio de Janeiro também infectada. Os médicos realizaram o parto para salvar sua filha, que nasceu prematura com 32 semanas de gestação. A bebê passa bem e segue internada na UTI neonatal de um hospital na Zona Norte do município.
De acordo com Silvana Quitana, vice-presidente da Comissão Nacional Especializada em Trato Inferior da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), a indicação da resolução da gestação deve prezar o bem-estar da mãe e do bebê, já que a prematuridade é um fator relevante de motarlidade.
“Se ela não tem nada grave e o feto está bem, monitora com ultrassom, exames de auscultação. Não há a mínima inidicação de resolução da gestação. Não adianta ficar com medo do coronavírus e tirar uma criança pré-termo que vai certamente para UTI, com internação prolongada”, afirma. “Se a mãe desenvolve um quadro de insuficiência respiratória ou pnenumonia, se necessita ser entubada, aí você tem de avaliar caso a caso.”
Com informações da Época