Indígenas do Ceará criam escola de cinema
Em Aquiraz, no Ceará, o Povo Jenipapo-Kanindé cria A Escola de Cinema Indígena. Funcionando desde 2018, é uma ação pioneira e inovadora e se propõe a ser mais um espaço inédito de discussão e divulgação do audiovisual cearense.
Publicado 20/05/2021 10:57

A Escola de Cinema Indígena desenvolvida desde 2018 pelo Povo Jenipapo-Kanindé, em Aquiraz (CE), é uma ação pioneira e inovadora e se propõe a ser mais um espaço inédito de discussão e divulgação do audiovisual cearense, em especial com temática indígena. Proporcionando intercâmbio cultural entre realizadores audiovisual, pesquisadores, academia e comunidades indígenas do Estado do Ceará. Com a perspectiva de formar uma rede de colaboração para difundir ferramentas tecnológicas e de registro audiovisual dentro da luta indígena.
Em um mundo onde o crescimento é pautado pelo desenvolvimento econômico, buscam-se alternativas para um desenvolvimento social que seja sustentável e que possa visar um bem-estar global. O cinema, assim, tem se mostrado uma importante atividade, pois além de ser uma forma de expressão, uma arte, também envolve a participação de muitos recursos, ao passo que pode também favorecer o desenvolvimento social por meio de novas formas de interação entre as pessoas, incentivo à criatividade e à diversidade cultural O audiovisual é considerado uma das indústrias criativa e, sem dúvida, pode ser considerado um dos potenciais vetores do desenvolvimento cultural, econômico e social do Brasil.
A Escola de Cinema abrange uma parte da diversidade cultural do povo cearense, e principalmente uma parcela quase sempre excluída de Politicas Publicas, que por si só é um projeto de inclusão cultural dos povos originários, representando assim uma territorialidade não só física mais também cultural.
A contribuição na promoção da acessibilidade se dá a partir da Instrumentalização de jovens indígenas através da Acessibilidade Comunicacional para o Audiovisual, com habilidades e técnicas para narração e edição dos recursos de acessibilidade (audiodescrição (AD), a Legenda Fechada para Surdos e Ensurdecidos (LFSE) e a janela de LIBRAS), contextualizando os conhecimentos teóricos à técnica para realização de produtos audiovisuais (filmes, web séries), incluindo a utilização de programas de tradução e de edição.
É aí, que a inclusão visual expressa o seu valor revolucionário, pois não é somente aprender a lidar com os equipamentos, mas aprender a pensar e ver criticamente a partir do Audiovisual. Na representação midiática, quem detém os meios e a produção da imagem representa o mundo à sua maneira. Isso quer dizer que constrói a imagem de si que melhor lhe convém.
METODOLOGIA
A Formação dos cineastas indígenas, será realizada, através de um Programa Modular de Capacitação em Audiovisual para o uso artístico, criativo e crítico das técnicas e linguagens audiovisuais, dividido em módulos envolvendo teoria, mas principalmente á pratica, com uma abordagem etnográfica que estimule o aluno indígena a expressar-se a partir de sua própria voz e olhar, passando de objetos a sujeitos do discurso, através do audiovisual.
Incentiva-se o intercâmbio cultural e uma rede democrática de articulação e colaboração de experiências com os outros povos indígenas, incorporando o uso do vídeo, promovendo as condições de materializar o seu olhar e voz sobre, suas realidades. Dessa maneira, estabelece um espaço privilegiado de reconhecimento e valorização da diversidade de manifestações, modos de vida e bens culturais produzidos pelas sociedades indígenas, promovendo tanto uma revisão de sua própria imagem quanto de sua representação na população não-indígena a iniciativa contará com a participação de toda a comunidade nas diferentes etapas do Projeto, promovendo a troca de saberes e técnicas tradicionais presentes, a reflexão e a criação coletiva de bens culturais em cada comunidade, respeitando e valorizando suas especificidades, histórias, recursos, desejos e propostas.
Os Cursos Modulares são intervenção direta que visa contribuir para o movimento de afirmação étnica, tendo o vídeo como seu principal instrumento, expandindo suas potências na transmissão da memória indígena, dos conhecimentos tradicionais e da articulação intercultural, entre diferentes etnias, parceiros da causa indígena, realizadores audiovisuais e pesquisadores.
As oficinas serão realizadas na Aldeia Indígena, espaços onde os alunos desenvolvem suas pesquisas, escolhem os temas e seus personagens e realizam suas produções. Os alunos são escolhidos pela comunidade.
Todo este processo é acompanhado de discussões sobre o conteúdo do material, sua qualidade técnica e também de reflexões sobre seu tratamento. A dinâmica interativa da oficina faz com que a comunidade seja incluída em todas as etapas deste processo. A comunidade deixa de ser um objeto de gravação para contribuir na escolha dos temas, exercer crítica e influir substancialmente no resultado final do trabalho.
Fortalecimento da política do audiovisual indígena
Esse trabalho tem contribuído para o fortalecimento da política de audiovisual nas Aldeias Indígenas fomentando à produção, formação e difusão do cinema etnográfico do Ceará e tem incentivado a pesquisa e a reflexão acerca da utilização do audiovisual como instrumento de fortalecimento e preservação da identidade, bem como promove o reconhecimento, dinamização e visibilidade da produção artística e cultural cearense, principalmente a indígena estimulando à criação, difusão, formação e/ou fruição artística e cultural.
Outro fator importante é que tem contribuído para a promoção do desenvolvimento social, geração de renda e fortalecimento da economia da cultura e fortalecido ás políticas afirmativas e direitos culturais em favor da diversidade étnica, religiosa, de gênero, etária, dentre outros, além de contribuir para a acessibilidade á conteúdos culturais para pessoas com algum tipo de deficiência.
Serviço: