Líbano fecha acordo sobre crise de energia e fortalece a Síria regionalmente

Libaneses vivem hoje com apenas duas horas de energia por dia, o que deve dobrar com acordo. Aproximação entre árabes confronta sanções americanas e fortalece cooperação regional.

Uma vista aérea de Beirute durante uma queda de energia, com a sede da empresa Electricite du Liban (Electricity Of Lebanon) em primeiro plano.

Autoridades libanesas, sírias e jordanianas assinaram um acordo que fornecerá eletricidade jordaniana ao Líbano via Síria em um esforço para lidar com as longas horas de falta de energia no Líbano. O acordo garantirá 250 megawatts de energia para o Líbano, que sofre com uma crise de eletricidade que paralisou grande parte da vida pública desde meados de 2021. 

“O povo libanês precisa de cada hora de eletricidade que puder obter”, disse o ministro da Energia libanês Walid Fayyad na sessão televisionada na quarta-feira na capital Beirute, descrevendo-o como um “momento histórico”.

As pessoas agora vivem com apenas duas horas de eletricidade por dia, o que deve dobrar quando esse acordo entrar em vigor nos próximos meses.

No entanto, especialistas em energia expressaram suas dúvidas de que o acordo será suficiente para resolver a crise energética do Líbano sem reestruturar o setor de energia. Defendem que acordos como esses sem reestruturar o setor de energia não são soluções sustentáveis.

A endividada e inchada empresa estatal de eletricidade Électricité du Liban (EDL) está à beira do fracasso total .

O projeto – projetado para custar US$ 200 milhões – é financiado pelo Banco Mundial, mas os três líderes ainda estão acertando os detalhes.

O ministro da Energia libanês Walid Fayyad chama o acordo entre os países de um ‘momento histórico’, apesar das controvérsias

Os três governos também comemoraram o projeto como um exemplo de cooperação árabe, principalmente porque a Síria foi condenada ao ostracismo por outras nações árabes após a repressão do presidente Bashar al-Assad em 2011 a uma revolta antigovernamental que logo se transformou em uma guerra devastadora.

O governo dos Estados Unidos garantiu ao Líbano que não enfrentará consequências pelo acordo que envolve Damasco, governo sujeito a sanções lideradas pelos EUA para sufocar a Síria. Mais que isso, os EUA interferem para contribuir com os acordos, e, assim, comprometer esses países árabes como aliados e isolar Síria e Irã, por exemplo.

Um segundo acordo prevê que o Egito envie gás natural para a Jordânia, que o usará para gerar eletricidade e entregá-lo ao Líbano através da Síria.

No ano passado, Líbano e Iraque chegaram a um acordo de troca em que Bagdá enviaria combustível para o país sem dinheiro em troca de serviços médicos.

País sem dinheiro

Desde agosto de 2019, o Líbano vem se recuperando de uma crise financeira paralisante, que empurrou mais de três quartos de sua população para a pobreza e pulverizou o valor da libra libanesa em relação ao dólar em mais de 90%. O governo está quase falido e continua paralisando as reformas para reviver a economia libanesa.

Antes da crise financeira do país, a EDL só conseguia fornecer cerca de 21 horas de eletricidade por dia. Com a crise, o governo não conseguiu pagar centenas de milhões de dólares em adiantamentos e outras medidas para manter a empresa funcionando.

Desde o verão passado, as famílias recebem apenas até duas horas de eletricidade estatal todos os dias, com as famílias confiando quase inteiramente em geradores privados caros para manter as luzes acesas, uma situação muito piorada pelo governo que suspendeu lentamente os subsídios ao diesel desde então.

Organizações internacionais e especialistas locais pedem há anos que o Líbano reestruture sua empresa de serviços públicos, gerida a partir de corrupção baseada em cartelização de licitações caras e ineficientes.

Cooperação árabe

O acordo de quarta-feira também foi um passo para o reacendimento dos laços Síria-Líbano depois que o Líbano adotou oficialmente uma política de dissociação após a revolta da Síria que virou guerra em 2011.

O ministro da Energia sírio, Ghassan Al-Zamel, espera que este acordo seja o primeiro de muitos com países árabes. “Este é o início de uma maior cooperação entre os árabes”, disse. “O governo sírio insistiu em alcançar este acordo o mais rápido possível e implementá-lo em tempo recorde.”

Al-Zamel é o primeiro oficial sírio a visitar oficialmente o Líbano em mais de uma década. “A Síria apoia todas as etapas da normalização e cooperação árabes”, disse Al-Zamel.

Mais de uma década depois, alguns países árabes começaram a caminhar para a reconciliação com al-Assad.

No final de setembro, a Jordânia reabriu totalmente a passagem de fronteira Nassib-Jaber para ajudar a impulsionar sua economia endividada. No mês seguinte, o rei Abdullah II recebeu uma ligação de al-Assad, sua primeira conversa desde o início dos anos 2000. Enquanto isso, o ministro das Relações Exteriores dos Emirados Árabes Unidos, Sheikh Abdullah bin Zayed, visitou al-Assad em Damasco em novembro passado.

O governo libanês pediu aos Estados Unidos que flexibilizem as sanções à Síria, a fim de reforçar o comércio para apoiar sua economia sem dinheiro. O fato de esses estados estarem se unindo sinaliza o potencial de cooperação em outros campos, incluindo segurança, com o Líbano ocupando um lugar secundário neste jogo.

Por outro lado, aumenta a influência de Damasco sobre a região com o controle sobre fornecimento e preços da energia. A dependência de energia do Líbano terá consequências políticas. 

Com informações da Aljazira

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