Inteligência da Alemanha avalia que governo Putin continua forte

Espionagem alemã não vê sinais de rachaduras no regime de Putin, que conta com soldados e armas suficientes para escalar conflito na Ucrânia

Embora faça poucas aparições públicas e se especule até sósias do presidente, Putin mantém sua popularidade junto à sociedade russa, diz espião alemão.

Passados 15 meses desde o início da guerra na Ucrânia, não há sinais de um enfraquecimento do presidente russo, Vladimir Putin, cujo regime segue estável, assim como forte sua disposição pela guerra. É o que aponta o Departamento Federal de Investigações (BND), o serviço de inteligência externa da Alemanha.

No entanto, a guerra de informações procura, desde o início do conflito, fazer parecer que a Rússia está fragilizada, que a população e elite russas repudiam seu governo e que Putin estaria abalado, perto de cair. Declarações de lideranças europeias e da OTAN na mídia reforçam essa percepção duvidosa para a opinião pública.

“Não vemos fissuras no sistema de Putin”, disse o chefe do BND, Bruno Kahl, nesta segunda-feira (22), na Academia Federal de Política de Segurança (BAKS) em Berlim. A declaração foi recebida com desânimo por aqueles que acreditaram na desinformação da imprensa europeia e americana.

Kahl afirmou que, apesar de críticas isoladas na Rússia à condução da guerra no país vizinho – relativas ao fornecimento de munição, por exemplo –, não há indícios de que o regime de Putin esteja ameaçado.

Kahl argumentou que as críticas públicas à administração da guerra equivalem a disputas rotineiras na sociedade russa e não representam uma ameaça ao regime de Putin. Ele chegou a dizer que a própria decisão de Putin pela invasão considerou a disposição da sociedade russa.

“A Rússia continua em condições de travar uma guerra de longo prazo”, afirmou Kahl, relatando que, para isso, o país tem recrutado novos soldados, recentemente.

Segundo o presidente do BND, Moscou também dispõe de equipamento militar e munição suficientes. A informação bate com os vazamentos do Pentágono, o Discord Leaks, em que a inteligência americana avalia que Putin tem fôlego para, ao menos, mais um ano de conflito armado.

Riscos e vulnerabilidades

Kahl reconheceu haver vulnerabilidades, entre elas o desempenho das Forças Armadas russas, mas afirmou que, se o Ocidente não apoiar a Ucrânia de maneira muito bem organizada, a estratégia de longo prazo de Putin pode vir a prevalecer.

O alerta se dá no momento em que a Europa e aliados escalam o confronto com envio de armas mais avançadas à Ucrânia. Mas também no momento em que países em desenvolvimento se organizam para forçar uma negociação de paz.

A Rússia invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022. Atualmente, a disputada cidade de Bakhmut, no leste ucraniano, está no epicentro da guerra. As imagens de devastação da cidade são chocantes, assemelhando-se ao terremoto recente na Turquia.

No sábado, o chefe do grupo paramilitar russo Wagner, Yevgeny Prigozhin, havia anunciado a tomada da cidade, o que foi em seguida afirmado também pelos militares russos.

No último domingo, o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, afirmou que Bakhmut, palco de uma ferrenha batalha entre tropas russas e ucranianas desde agosto de 2022, negou que ela tenha sido tomada pelas forças russas.

Anteriormente, o ministro da Defesa da Letônia, Ināra Mūrniece, disse que é um erro acreditar que a Rússia está enfraquecida devido a perdas significativas na guerra em grande escala na Ucrânia e não é capaz de novas “surpresas estratégicas”. 

China

O chefe da espionagem instou a Alemanha a reduzir sua dependência da China, alertando que isso não poderia ser alcançado no curto prazo.

“Isso não pode ser feito de forma disruptiva, nem da noite para o dia”, disse Kahl.

Ele disse que o BND não quer uma separação completa da China, argumentando que isso prejudicaria os negócios alemães.

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