Cid diz que defesa de Bolsonaro tentou obter ilegalmente dados da delação
Os advogados Fábio Wajngarten e Paulo Costa Bueno serão ouvidos pela PF. De acordo com o tenente-coronel, eles tentaram colher informações junto à sua família
Publicado 26/06/2025 13:19 | Editado 26/06/2025 14:45

Os advogados do ex-presidente Jair Bolsonaro e de outros réus da trama golpista agiram para obter ilegalmente dados da delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, conforme ele apontou em depoimento à Polícia Federal (PF) na terça-feira (24). Com base nesse novo fato, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou nesta quarta-feira (25) que a PF colha depoimento de Fábio Wajngarten e Paulo Costa Bueno.
A suspeita é de que eles tenham realizado ações para obstruir as investigações penais. Wajngarten foi secretário de Comunicação Social da Presidência e esteve na defesa de Bolsonaro. Costa Bueno faz parte da equipe atual de advogados do ex-presidente. Eles devem ser ouvidos em até cinco dias.
O envolvimento da dupla surge em meio às investigações contra o ex-assessor da Presidência da República, Marcelo Câmara, e o advogado Luiz Eduardo Kuntz, que tentam invalidar a delação de Cid.
Para alcançarem esse objetivo, Kuntz pediu ao STF que a delação do tenente-coronel seja anulada sob alegação de que ele descumpriu os termos do acordo ao vazar informações sigilosas.
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O advogado chegou a apresentar uma troca de mensagens que teve com um perfil do Instagram chamado @gabrielar702, o qual teria sido usado por Cid para trocar informações. Cid já negou a acusação, disse desconhecer o perfil e acredita que tenham utilizado o nome de sua mulher como forma de implicá-lo. A defesa de Bolsonaro também chegou a pedir que a delação fosse descartada, mas a solicitação foi negada.
Por conta dessa iniciativa de buscar informações sigilosas, Marcelo Câmara está preso suspeito de obstrução da investigação. Ele, que faz parte do Núcleo 2 da denúncia de tentativa de golpe, já esteve preso entre fevereiro e maio de 2024. Ao ser solto, deveria cumprir obrigações como não utilizar redes sociais, muito menos entrar em contato com outros investigados, ainda que por terceiros, como ocorreu ao se valer de seu advogado.

Para aprofundar essa investigação, Moraes abriu o inquérito 5005, que apura as movimentações de Câmara e Kuntz.
No depoimento de Cid à PF neste inquérito, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro revelou que o advogado Kuntz e Fábio Wanjgarten, o visitaram enquanto esteve preso em 2023. Ainda houve um encontro em uma Hípica de Brasília com o advogado de Marcelo Câmara, que sob à luz dos acontecimentos não parece ter sido por acaso.
Para completar, Cid apontou que as defesas dos outros réus tentaram se aproximar de sua família. Conforme depôs, Kuntz e Wajngarten assediaram sua filha menor de idade, por aplicativos, com a finalidade de obter informações sobre a delação.
Além disso, Kuntz provocou encontros com a mãe do tenente-coronel em eventos esportivos frequentados pela família. Em uma dessas oportunidades estava o advogado de Bolsonaro, Costa Bueno. Eles se colocaram à disposição para defender seu filho.
De acordo com Cid, as malfadadas tentativas de obter informações sobre o que disse à Polícia Federal tinham como finalidade embaraçar as apurações no sentido de pedir uma futura anulação, como agora acontece.
Em referência às falas e fotos dele apresentadas como material deliberadamente compartilhado com os outros réus, Cid nega ter fornecido tais arquivos, disse que foi gravado ilegalmente e que a fala contém edições, assim como sua foto foi vazada e manipulada para dar a entender que era ele quem estava na conversa com os advogados pelas redes sociais.
Para corroborar sua versão, os advogados de Cid entregaram de forma voluntária à PF o celular da filha do tenente-coronel para que se averiguem as mensagens enviadas por WhatsApp.