A contraface da crise

Crise entre Executivo e Congresso expõe disputa entre interesses populares e forças do rentismo, abrindo espaço para um debate mais claro sobre os rumos do país.

Foto: Agência Câmara

O velho adágio “há males que vêm para o bem” cabe na atual crise entre o governo e o parlamento tendo como pivô a inconstitucional derrubada do decreto presidencial que aumenta o IOF pela Câmera e Senado.

O que permanecia sempre sob panos mornos agora vem à tona com clareza — condição prévia para que a maioria da população possa saber e compreender o que se passa. 

Falas do presidente Lula têm sido significativas nesse sentido, para além da repetitiva defesa dos programas sociais compensatórios, pondo o dedo na ferida: quem se coloca a favor ou contra o poderoso capital financeiro versus destinos da nação e necessidades fundamentais do povo. 

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Ninguém pode contestar a necessidade de uma postura larga e flexível do poder executivo nas suas relações com o parlamento majoritariamente hostil. Faz parte da prática democrática e é absolutamente necessária numa correlação de forças adversa.

Nada impede, entretanto, que o presidente da República e seus ministros e as correntes políticas que integram o governo abordem os problemas com clareza e, estabelecidos conflitos fundamentais, deem nomes aos bois.

Sob cerco midiático e diante de parlamento hostil — ambos fundamentalmente a serviço do rentismo e do grande agronegócio exportador — o confronto há de subir o tom quantas vezes seja necessário para delimitar os campos, esclarecer a essência da polêmica e mobilizar a maioria pelos seus próprios interesses.

Nas instâncias não governamentais, o multifacetado movimento popular e democrático em particular, a agenda há de ser enriquecida pela combinação de problemas e reivindicações setoriais e imediatas com os candentes temas nacionais.
Urge ultrapassar o “economicismo” em ambas as instâncias, já!, para introduzir o fator povo mobilizado na cena política.

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