A borboleta voa com toda a sua fragilidade

“Entre tantas coisas que vão surgindo, o sonho ainda continua aceso, com faiscas de tortura e resistência.”

Imagem: unsplash

Os pássaros cantam. As flores brancas e  as rosas amarelas estão desfilando paradas. Escuto baixinho Bob Marley. O sol resolveu fechar suas luzes. Cato fragmentos de saudade e lembro do sonho da última noite, triste, um homem morria torturado, o caminho era  resistir aos seus algozes, ficava com a fala entalada, não lembro mais do sonho. Acordei,  a boca seca e o coração perfurado.

Observo as folhas, elas parecem dançar, mas estão presas ao chão, mesmo assim dançam. Parece que é isso mesmo: sem correntes estamos presos e mesmo acorrentados  conseguimos caminhar. A pureza dos acontecimentos é infinitamente mentirosa. 

A borboleta voa com toda a sua fragilidade, fica ali entre as flores brancas e próxima das rosas amarelas. Bob Marley se mistura à música de Luiz Caldas, tocada na beira da praça entre goles de cachaça e passos improvisados.  Os meninos pulam o cercado da construção para brincar de sexo, sem tirar a roupa, aproveitam e tomam banho na caixa d’água. A alegria parece ser inocente. É domingo e a diversão cabe na realidade, nem sempre no sonho. 

Os passarinhos continuam cantando. Minha amiga acordou tarde para orar, mesmo assim encontrou o caminho da igreja. Acho que não era tarde para orar ou para  nossa amizade, entretanto me provoco de inquietações. Hora e outra me distraio olhando os meninos na caixa d’água, são quatro. Gritos, risos e água suja. É o clube. 

Entre tantas coisas que vão surgindo, o sonho ainda continua aceso, com faiscas de tortura e resistência. 

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