A Copa e o carnaval

Nunca acreditei na absurda ideia – “Não vai ter Copa”. A campanha apenas serviu para reforçar a ideia de como o conservadorismo latino-americano, e sobretudo brasileiro, lidam com o sucesso e o fracasso em temas que dizem respeito às massas populares. O próprio futebol é exemplo: lembramos muito mais da derrota no Maracanã para o Uruguai em 1950 do que o sucesso de ter realizado a Copa naquele ano.

Se perguntarmos a qualquer pessoa qual a data de nascimento e quais os títulos do maior piloto de Fórmula 1 brasileiro, poucos saberão, mas ninguém esquece a curva Tamburello e o acidente que levou Ayrton Senna. Foi assim com o suicídio de Vargas, com a morte de Tancredo Neves e no fim trágico de Elis Regina… Temos até feriados para celebrar o enforcamento, em 21 de abril, de Tiradentes, e 20 de novembro para a morte de Zumbi dos Palmares, mas nada que celebre o nascimento de um grande herói.

O clima de euforia em todas as Copas inicia-se meses antes do evento, mas quando a festa é em nossa casa, paira no ar uma atmosfera terrorista por pseudosgastos excessivos com a organização e construção do evento – balela, o Brasil organiza eventos que atraem turistas tanto quanto a Copa. Só os carnavais do Rio, São Paulo, Salvador e Recife exigem estrutura de recepção turística similar a este evento, sem contar os 3 milhões de pessoas do réveillon do Rio ou da parada do Orgulho LGBT de São Paulo.

Recentemente, comprovou-se que os gastos do Brasil na construção dos estádios são irrisórios perto do investimento mensal que o país, continental como é, executa nas áreas de saúde e educação e no treinamento da língua inglesa para os trabalhadores do ramo turístico. É só perguntar para os milhares de europeus que encontramos todo ano no verão, felizes e sem falar português, nas ruas do Rio, Salvador, Recife, Pantanal e dezenas de cidades por aí que recebem turistas a cada temporada.

De resto, parafraseando Joãozinho 30, digo: “Quem gosta de lixo é intelectual. O que o povo gosta é de luxo”. Que tenha inicio a Copa das Copas, porque quem gosta de sentimento de pequenez deixou há muito de ser parte do povo brasileiro.

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