“A escavação”

Longa da Netflix celebra a descoberta arqueológica em Sutton Hoo, explorando ciência, poder, amizade e o papel de figuras esquecidas na história.

Edith Pretty contrata Basil Brown, um arqueólogo amador, para explorar os montes deixados por povos antigos em seu terreno | Foto: Larry Horricks / Netflix © 2021/Divulgação

Assisti novamente ao filme “A escavação” com o intuito de observar com mais detalhe sua importância, toda a sua produção, analisando o interesse científico de Edith Pretty, interpretada pela impactante atriz britânica Carey Mulligan, assim como a seriedade do cuidadoso pesquisador e arqueólogo autodidata Basil Brown, representado de forma brilhante pelo ator Ralph Fiennes. Uma exigência para reconhecer o valor da ciência e da pesquisa que tiveram papel inestimável para compreender os modos de vida e cultura dos povos em determinado momento histórico.

As grandes descobertas têm o sentido de plasmar o movimento da história. “A escavação”, disponível pela Netflix, é baseada no livro homônimo do jornalista John Preston dirigido por Simon Stone. A película registra acontecimenetos reais e as descobertas arqueológicas mais importantes em 1939, às vésperas da Segunda Guerra Mundial.

Os eventos da escavação são registrados por uma bela fotografia, por vezes sombria, por vezes gélida, mas amenizada por uma trilha sonora cativante de Stefan Gregory e também pela insistente e instigante viúva Edith, que mora com seu filho Robert (Archie Barnes), um menino inteligente e sensível. Ela é uma mulher à frente de seu tempo, elegante, curiosa, que teve através de seu pai uma formação sólida com acesso ao conhecimento, que a fez se intrigar com os diversos montes de terra nos arredores de sua mansão em Suffolk, na Inglaterra. Para escavar o terreno de sua propriedade conhecida como Sutton Hoo, ela contrata Brown, que não é formado em Arqueologia, mas tem o conhecimento prático, a seriedade de um cientista e o amor pela ciência, a paixão pela descoberta, que adquiriu com seu pai, quando era criança. A descoberta é surpreendente, provocando o interesse do responsável pelo Museu Britânico, que menospreza Brown, tomando para si a continuidade da escavação.

Cena do filme: Larry Horricks /Netflix © 2021/Montagem sobre reprodução

Edith, mesmo doente e por vezes melancólica, não perde em um só momento a elegância e mesmo a altivez na defesa dessa investigação e da esperança em descobrir, naquele imenso terreno, objetos históricos, encontrando em Brown, receptividade uma vez que também é apaixonado por tudo o que faz.

A Arqueologia, sendo uma ciência que estuda vestígios materiais da presença humana, em diferentes épocas e que pode revelar como viviam os povos, é registrada no filme de forma fenomenal, considerando que diante de uma guerra e das ameaças de destruição da magnífica e importantíssima descoberta arqueológica, a mais importante do Reino Unido, o cuidado de Brown e de Edith com o processo. O achado, um enorme navio de aproximadamente 27,4 metros, grande o suficiente para acomodar até 20 remadores de cada lado. Com ele peças de ouro extremamente bem feitas, acontecimento, este que transformou completamente o entendimento do mundo anglo-saxão, constituído por um dos povos mais influentes da história da Inglaterra (https://acesse.one/nTbG5). “Os impressionantes 263 artefatos guardados pelo navio – armas, fivelas, distintivos e um capacete – permaneceram escondidos durante a guerra, em um túnel subterrâneo de Londres” (https://acesse.dev/0cebx).

O filme tem um valor profundo tanto no tocante a essa importante descoberta como na relação de amizade entre Pretty e Brown que mantém sua ética, e ainda por fortalecer a importância da ciência, conferindo protagonismo a duas mulheres, Edith com sua garra e altivez e a jovem recém-formada Margaret Guido, também conhecida como Peggy Piggott, interpretada por Lily James, contratada juntamente com outros pesquisadores pelo então “interventor” do Museu Britânico, que trata Margaret com desdém e tenta negligenciar Brown.

É interessante que o diretor do drama consegue mesclar as questões cotidianas com temas como o poder, a pesquisa, o conhecimento, a ética, a vida e a morte, com a centralidade da Arqueologia. Ainda, a excepcionalidade de Basil Brown (com conhecimento em Geografia, Geologia, Astronomia e Desenho, e ensinou a si mesmo grego, francês, alemão e espanhol), que descobriu o “Tutancâmon britânico”, desenvolvendo um conhecimento profundo de Arqueologia. No entanto, seu reconhecimento só veio depois de sua morte (https://l1nq.com/cO4Y4).

FICHA TÉCNICA:
A Escavação (The Dig) – Inglaterra, 2021
Direção: Simon Stone
Roteiro: Moira Buffini (baseado no romance de John Preston)
Elenco: Ralph Fiennes, Danny Webb, Carey Mulligan, Stephen Worrall, Archie Barnes, Lily James, Robert Wilfort, James Dryden, Joe Hurst, Paul Ready, Peter McDonald, Christopher Godwin, Ellie Piercy, Johnny Flyyn, Jack Bennett
Duração: 112 min.

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