A esquerda está sem Bandeiras?

Inspirado em Joseph Goebels – chefe de propaganda de Hitler – segundo o qual “se você repete uma mentira mil vezes ela vira verdade”, o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra, proclamou num semanário nacional, semana passada, que “nós somos a esquerda”. Nós quem cara pálida? O PSDB – que inventou o “valerioduto” e aplicou a fracassada política neoliberal – ou a extrema direita encastelada no PFL, de idêntica prática moral e econômica?

Esquerda e direita não são meras palavras e tampouco declaração de vontade. Elas encerram conteúdo ideológico. Estão relacionadas às bandeiras, a plataforma e a prática política pela qual se orientam os distintos grupos políticos, independentemente da situação política em que se encontram, se no governo ou na oposição.

Mas no Brasil há certa confusão quanto a esses dois termos em decorrência da prática política dos nossos rasos 500 anos de história, onde a DIREITA governou (ou desgovernou) e a ESQUERDA fez oposição. Daí a confusão em setores menos esclarecidos de associar Esquerda com oposição e Direita com governo. E é dessa confusão que procura tirar proveito o presidente nacional do PSDB.

De forma sintética e como exemplo ilustrativo podemos dizer que a ESQUERDA, dentre outras bandeiras, luta pelo fortalecimento do estado nacional, relação soberana e independente com as demais nações, ampliação dos serviços públicos, redução da jornada de trabalho, aumento de salário para os trabalhadores, distribuição de renda, defesa do desenvolvimento em bases sustentáveis, demarcação de terras indígenas, reforma agrária e socialismo como objetivo estratégico.

A DIREITA batalha por uma plataforma antagônica a esta.

Luta pelo desmonte do estado nacional e se comporta de maneira submissa diante das nações poderosas. Sua política leva à precarização dos serviços públicos, inclusive com a transferência de bilhões do patrimônio público para a iniciativa privada através de privatizações criminosas, que tem o agravante de deixar a população sem serviços básicos, tipo água, como ocorreu em Manaus. O poder público simplesmente “lava as mãos”, deixa a população à mercê do lucro e da especulação empresarial.

Advoga a precarização das relações de trabalho e reajustes salariais sempre abaixo da inflação, o que tem como conseqüência o aumento da miséria entre os trabalhadores numa ponta e a concentração de rendas ainda maior na outra ponta.

Tem ojeriza a qualquer coisa relacionada a distribuição de rendas, redução de jornada de trabalho, defesa da questão ambiental e reforma agrária, tanto por que isso representa distribuição de bens e poder, como pela possibilidade dos trabalhadores ascenderem socialmente. Daí a luta deles (PSDB, PFL e hoje, tristemente, por uma parcela do PPS) para criminalizar movimentos sociais, como o MST.

E, obviamente, a DIREITA tem na defesa do capitalismo o seu objetivo estratégico, embora a imensa maioria do povo não tenha capital. Pouco importa. Na lógica deles o estado é para lutar e preservar os seus privilégios e não se preocupar com demandas sociais.

Numa inequívoca demonstração da vitalidade da dialética, segundo a qual “tanto na natureza quanto na sociedade os fenômenos se transformam e evoluem permanentemente”, as bandeiras da esquerda e da direita variam com o tempo, se aprimoram, se atualizam, mas sempre expressam o mesmo conteúdo de classe.

No passado as bandeiras da direita era o escravagismo, o feudalismo, a monarquia e agora o capitalismo. A esquerda sempre combateu o escravagismo, o feudalismo, as monarquias e no presente combate o capitalismo, oferecendo o socialismo como alternativa. Mas foi uma longa trajetória.

Spartacus, o mitológico escravo, perdeu a vida enfrentando os romanos – o império de então – lutando contra o escravagismo e animando os seus pares com a perspectiva de um mundo livre, de homens e mulheres iguais.

Nas barricadas da comuna de paris, em 18 de marco de 1871, o que animava aqueles heróis era a perspectiva de um mundo sem monarcas, a defesa de um ideal republicano que dava seus passos iniciais. Um mundo melhor, um mundo de igualdades, era a essência da plataforma daqueles revolucionários.

Os revolucionários de 1917, na Rússia, que irrigaram com seu generoso sangue os campos de batalha da mãe russa, mobilizaram o povo propondo simplesmente “pão, terra e paz” e deram inicio à construção da 1ª pátria socialista da terra.

A longa marcha comandada por Mao Tse Tung, para quem “toda grande caminhada começa sempre com o 1º passo”, se animava essencialmente pelo sentimento nacionalista. Acabou, igualmente, na vitoriosa construção da República Popular da China que em apenas 60 anos tirou um país das ruínas e de todo tipo de humilhação – inclusive militar – e construiu a 2ª maior economia do planeta, a passos largos para ser a primeira em curto espaço de tempo.

Os “barbudos” de Sierra Maestra, sob o comando de Fidel Castro e Che Guevara, desceram a serra embalados pelo sentimento patriótico de, igualmente, libertar sua pátria da suprema humilhação de ser um mero cassino/prostíbulo de ricaços americanos. Libertaram o país, construíram seu mundo socialista, a seu modo, e buscam evoluir.

Os exemplos são abundantes e nos ensina que geralmente a “palavra de ordem”, a diretiva, aquilo que efetivamente toca o povo, é invariavelmente simples, objetivo, concreto.

Na África e em boa parte da America Latina os revolucionários se mobilizavam em torno da libertação nacional.

No Brasil, para não passear muito mais longe, as bandeiras da esquerda variaram obviamente com o tempo. Travou lutas épicas como a Coluna Prestes, o levante de 35, a Guerrilha do Araguaia e a resistência a todas as ditaduras.

Recentemente o que mobilizava a esquerda brasileira era o combate ao neoliberalismo, expresso no fora FMI, rejeição a ALCA, salário mínimo de 100 dólares, por fim as privatizações, fazer a reforma agrária e construir o socialismo.

O FMI é coisa da história, o Brasil de teleguiado virou credor do FMI, a ALCA saiu de pauta e o salário mínimo se aproxima dos 300 dólares. Ainda temos muitas limitações e várias bandeiras inconclusas.

Mas diferente do que se pode imaginar o fato de várias de nossas bandeiras estarem atendidas ou encaminhadas não nos deixa sem bandeiras. Possibilita que nos concentremos na principal bandeira, a construção do Socialismo.

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