A História Oficial

Dirigido pelo escritor Luis Puenzo, filme argentino foi um dos cinco produzidos na América Latina a receber o Oscar de melhor filme estrangeiro

Quem visita a bela e encantadora cidade de Buenos Aires é chamado(a) a conhecer a praça em frente à Casa Rosada (Palácio do Governo Argentino), a Praça de Maio, que ficou conhecida mundialmente como a “plaza das abuelas”, movimento das avós e mães que exigiam que lhes fossem dadas informações sobre parentes e amigos/as desaparecidos/as na época da cruel ditadura militar argentina.

A ditadura da Argentina (1976–1983) foi uma das mais sanguinárias de toda a América Latina, que, no século passado, vivenciou períodos de terror em diversos países incluindo o Brasil. Ações como a tortura, a arbitrariedade, os estupros, o terror psicológico e a violação dos direitos humanos eram frequentes, muitas vezes levando a extremos como o sequestro de crianças, adolescentes e jovens.

Assim, o filme A História Oficial é memorável e imperdível, debruçando-se sobre aquele tenebroso período da história de nuestros hermanos. Ele registra o despertar da professora de História Alicia, interpretada pela atriz Norma Aleandro, que, mesmo sendo uma professora dedicada e séria, de classe média, encontrava-se alheia à realidade de seu país sobre os terríveis e graves acontecimentos nos porões da Ditadura, confrontando os livros de história, sua atuação como profissional e sua vida particular. A História Oficial, filme argentino, foi dirigido pelo escritor Luis Puenzo, sendo um dos cinco filmes produzidos na América Latina a receber o Oscar de melhor filme estrangeiro, contribuindo assim para a divulgação mundial dessa triste realidade.

Alicia é casada com um alto dirigente do regime militar e vai percebendo aos poucos a contradição de sua condição de vida abastada com a dramática situação do povo argentino, que vive uma crise e desigualdades econômicas, incluindo as perseguições e desaparecimentos de trabalhadores e estudantes.

Há informações de desaparecimento de 30 mil pessoas, segundo as Abuelas de la Plaza de Mayo, apesar de não haver um número preciso. Entre eles, bebês e mulheres grávidas, que foram executadas antes de dar à luz ou que tiveram seus filhos em cativeiro, os quais foram doados ou vendidos para famílias de militares, ou, ainda, abandonados em instituições sem qualquer identidade. No filme, Alicia vive alienada quanto a esse quadro político e cuida da filha Gaby (Analia Castro), a qual foi retirada de uma das mulheres torturadas pelo regime de Jorge Videla & Cia. Segundo as avós da praça de Maio, 500 bebês teriam sido vítimas desse aterrorador destino.

Comove muito a cena em que Ana (Chunchuna Vilafane), a avó real de Gaby, encontra-se com Alicia, e ali se revela o desaparecimento da filha de Ana. Alicia começa a despertar e, portanto, a questionar a “história oficial”.

No Brasil, a ditadura militar (1964-1985) constituiu um período de completa restrição das liberdades e de violenta repressão, além da política aliada aos EUA e de apoio às investidas imperialistas de domínio dos países latino-americanos. A tortura, a morte e o desaparecimento de perseguidos políticos foi uma política de Estado enquanto durou a ditadura. Havia orientação das autoridades para a realização de crimes cometidos pelos torturadores, utilizando o método nazista de “noite e neblina”, executado de forma planejada, estruturada e sistematizada, nos porões da ditadura. Os prisioneiros deveriam sumir na noite e na neblina, sem deixar rastros, ou seja, sem qualquer registro de seu paradeiro.

A última ditadura na Argentina (1976-1983) ocorreu através de um golpe de Estado, em 24 de março de 1976, o qual depôs a presidenta Isabelita Perón. O período de horror desse regime pautou-se na desindustrialização, no endividamento externo, em sua autolegitimação, na centralização do poder nas mãos dos militares, com participação direta dos civis oriundos das elites nacionais, e no Terrorismo de Estado. Fazendo o paralelo com a mortandade de cidadãos conduzida pelo também impiedoso regime ditatorial brasileiro ao longo de 21 anos, percebe-se o quanto a ditadura portenha foi uma enorme carnificina num período de “apenas” sete anos. Era com o que sonhava o ex-presidente genocida Bolsonaro, agora felizmente inelegível, que achava que a ditadura dos generais amigos dele, de 1964 a 1985, tinha “matado pouca gente”.

A atriz Norma Aleandro, como muitos artistas e intelectuais de seu país, foi instada a se exilar. Logo, conhecer essa realidade através da interpretação de Norma, no papel de Alicia, além de ser de merecimento dela, é algo que nos deixa enternecidas mas alegres por dentro. A atriz declarou: “a busca pessoal de Alicia é também a busca da minha nação pela verdade sobre nossa História”. A personagem, à medida que vai tomando consciência da realidade em que vivia, torna-se mais uma aliada na luta das avós e mães da Praça de Maio.

A História Oficial
Título original: La Historia Oficial
País/Ano: Argentina/1985
Duração: 112 minutos
Direção: Luis Puenzo

Elenco principal: Norma Aleandro (Alicia), Héctor Alterio (Roberto), Chunchuna Villafañe (Ana), Hugo Arana (Enrique), Patricio Contreras (Benitez) e Analia Castro (Gaby)
Gênero: drama

Disponível na plataforma de streaming NetFlix

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REFERÊNCIAS

http://www.autobahn.com.br/filmes/historia_oficial.html

https://pt.wikipedia.org/wiki/Ditadura_Militar_Argentina

https://en.wikipedia.org/wiki/The_Final_Cut_(album)

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