A transição dolorosa para o mundo multipolar

A política exterior norte-americana nunca teve qualquer afeição pela legalidade, pelo respeito aos direitos humanos, pela cordialidade, pela autodeterminação dos povos.

A transição para um mundo multipolar tem sido dolorosa, afinal os EUA, “senhores do mundo” desde o fim da URSS, em 1991, tentam, a ferro e fogo, manter seu poder pela via militar, já que pela via da economia, com a crise de 2008 e a de agora, o governo dos EUA fica impedido de utilizar a pressão econômica para dobrar os países. Além disso, a ascensão da China, a segunda maior economia do planeta, trouxe temor aos falcões de Washington, cuja forma de ver o mundo é a mesma dos que criaram a “doutrina Monroe” e a política do “Big Stick”.

A política exterior norte-americana nunca teve qualquer afeição pela legalidade, pelo respeito aos direitos humanos, pela cordialidade, pela autodeterminação dos povos. Não mesmo. A doutrina de segurança dos EUA e a sua visão deformada do que significa democracia, permite que esse país intervenha, descaradamente ou não, nos governos de qualquer outro país que esteja “atrapalhando” seus interesses de segurança. É a forma mais agressiva e explícita do imperialismo.

O imperialismo norte-americano não é nem mais e nem menos violento do que o imperialismo dos países europeus. Esses países têm um passado sangrento, na África e na Ásia, e ainda hoje, de forma menos contundente, interferem nos destinos de países africanos, como é o caso da França que, volta e meia, tenta fazer valer seu passado colonial nas antigas possessões africanas.

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Mas a supremacia dos EUA é evidente, especialmente quando se observa o caminho escolhido pela União Europeia, hoje completamente subordinada aos interesses de Washington, e cujo braço armado, a OTAN, se constitui dentro de uma lógica de pressão, direta e indireta, principalmente nos países com as economia mais fragilizadas. A União Europeia que se apresentava como uma nova forma de organização plurinacional e cooperativa, coisa que nunca foi dado que Alemanha, França e Reino Unido (até enquanto esteve nela) eram os condutores dessa “confederação”, até que os EUA, a partir do seu enfrentamento com a Rússia, puxaram a União Europeia para o campo de batalha política e, agora, militar.

Os EUA, entretanto, têm de enfrentar novos adversários e estes não parecem dispostos a ceder terreno para a hegemonia de Washington. A Rússia, cujo renascimento como estado, começou a ameaçar os interesses norte-americanos e Putin, de amigo passou para adversário e, posteriormente, para o status de inimigo e, sem entrar no mérito da confrontação bélica, agora enfrenta a mais espetacular campanha de isolamento de um país e nisso os EUA são especialistas. O cerco econômico, político e militar a Cuba continua sem nenhuma justificativa, mas simplesmente porque o governo dos EUA identificam nessa ilha um potencial inimigo, o que beira o ridículo.

Os EUA mobilizaram vários organismos internacionais, de todas as áreas, para cercar a Rússia. O propósito, claríssimo, é de destruir o país e não apenas derrubar Putin, embora se comece por ele. O propósito é tornar a economia russa tão frágil que a penúria econômica traria consigo conflitos sociais. Uma situação de instabilidade seria aproveitado pelas “democracias ocidentais” para intervirem diretamente na Federação Russa, dobrando-a, como aliás fizeram no período do traidor Gorbachev.

Porém, tem uma pedra no caminho e essa está incomodando muito os EUA. A China, que não é imperialista, criou uma rede de apoios no mundo e obrigou a diplomacia norte-americana a tomar uma direção. A direção escolhida foi a mesma de sempre: violência política e intimidação militar. Usa as mesmas táticas que utiliza contra a Rússia, mobilizando seus satélites (Coreia do Sul, Japão, Austrália e Nova Zelândia) para buscar articular um grupo anti-China no Extremo Oriente; pressionando a Índia para tomar posição contra os chineses; tratando de fortalecer a teocracia saudita contra o Irã. Nesse último caso, a diplomacia chinesa, que parece ter atuado na pacificação das relações os wahabitas de Riad e os xiitas de Teerã, não agradou aos EUA.

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Por fim, mas não finalmente, a eleição de governos democráticos (não necessariamente progressistas) na América Latina está sendo monitorada de perto pelos EUA, que já listou seus inimigos: Venezuela, Bolívia, Cuba, Nicarágua. Já identificou os que precisam ser controlados: Brasil, Argentina, Colômbia e Honduras. E monitora, de perto, seus aliados, para que não ocorra nenhuma surpresa.

Com uma esquerda muito enfraquecida, os conflitos geopolíticos ameaçam diretamente a vida dos povos, mas piora significativamente a existência dos proletários e joga a sociedade numa espiral de pobreza e violência, e o futuro, pelo menos no curto prazo, se apresenta de forma sombria.

A luta continua.

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